FFXIV | Contos da Tempestade: Na Escuridão Floresce o Lírio

Tales from the Storm: In Darkness Blooms the Lily

Contos da Tempestade: Na Escuridão Floresce o Lírio

Doma, província do Império.

Abrigada na sala privada de uma taverna, uma cortesã serviu uma taça de vinho para um cavalheiro com a graça praticada.

Desgraçado tedioso, Yotsuyu o xingou internamente, acusando nenhum traço de irritação. Ela pensou que este simples homem da guerra seria menos resistente aos seus encantos.

Ao longo de uma noite, ela usava a bebida e o desejo para corroer as defesas de seu alvo, trazendo à tona os segredos um a um, antes de servir os mais deliciosos petiscos ao seu empregador. Como espiã imperial, era um ato que havia realizado uma centena de vezes, e esta noite não deveria ser diferente.

Mas seu convidado não estava cooperando. Zenos yae Galvus, legatus da XIIth Legion Imperial, estava claramente pouco inclinado a confiar em seus anfitriões da guarnição de Doma. Apesar do calor da sala de estar, ele não fez nenhum movimento para tirar a armadura, recebendo seu copo com a mão enluvada. Seus olhos estavam opacos e focados em nada, e ainda em suas profundezas ela discerniu um vislumbre abafado de antecipação. O que você está esperando…?


Originalmente, os mestres de Yotsuyu haviam atribuído a ela uma missão diferente—Lord Kaien, ex-governante de Doma, teria reunido um exército, e parecia que uma revolta era iminente.

Assim, ela foi encarregada de se infiltrar no quadro da rebelião. Ela deveria os oferecer informações militares supostamente obtidas de visitantes imperiais em seu estabelecimento, e desempenhar o papel de uma patriota devota, disposta a arriscar sua vida para coletar informações vitais. Uma vez estabelecida, ela na verdade forneceria os planos do exército rebelde de volta ao Império. Uma traição a seus amigos e parentes, com certeza, embora a cortesã não sentisse o menor remorso.

Não foram seus parentes mais próximos—seus pais adotivos e seu falecido marido—que fizeram da sua vida um inferno? E ninguém que testemunhou esse tratamento levantou um dedo em sua defesa. Até onde Yotsuyu pensava, seus compatriotas eram cúmplices de seu abuso e mereciam a mesma punição que seus abusadores.

No entanto, no dia em que ela começaria a operação, o oficial de inteligência da guarnição a chamou de volta. Eles receberam a notícia de um legatus imperial chegaria em breve da capital para avaliar a situação em Doma. Lord Zenos era o seu nome—um que ela já tinha ouvido antes.

Com o imperador Solus em seu leito de morte, uma guerra clandestina de sucessão já estava sendo travada em Garlemald. Pelo fato do primogênito de Solus estar morto, seu neto Varis era o próximo na linha de sucessão ao trono, mas o segundo mais velho filho do imperador, Titus, tinha outras intenções e apoio era algo que não faltava. O que ele não tinha, no entanto, era o favor de Varis com os militares, nem menos um herdeiro disponível—esse Zenos.

Como aliado público de Titus, o viceroy claramente considerava o legatus uma ameaça, percebeu Yotsuyu. E o fato de terem confiado a ela um alvo tão importante revelava o quão alto havia subida em suas estimas. Finalmente, algum reconhecimento. Ela aceitou a oferta da inteligência com um sorriso frio.

“Entendo que Kaien e sua rebelião incipiente ainda não foram reprimidos. Será que os superiores do viceroy estão insatisfeitos com essa falta de progresso?” Yotsuyu fingiu um olhar de simpatia. “Como deve ser irritante ter um rival político viajando por todo esse caminho apenas para cutucar os pontos mais doloridos de alguém.”

O oficial franziu a testa consternado.

“Estamos bem cientes de que os problemas atuais de Doma oferecem a nossos oponentes uma oportunidade de minar nossa posição. Mas esta visita também nos oferece uma oportunidade”, continuou ele, fixando Yotsuyu com um olhar significativo. “Se formos extrair de Zenos alguma visão sobre os planos de seu pai, ainda podemos sair dessa situação com alguma vantagem.”

“É tudo a mesma coisa para mim,” Yotsuyu ronronou. “Outro homem, outra noite. Ele passa a noite em êxtase, e eu roubo cada palavra que sai de sua língua descuidada. Simples.”

Eles haviam a tratado como gado, mas agora ela segurava o interruptor. Ela não tinha gosto pelos doces nadas que os homens derramavam sobre ela—era o espetáculo de sua queda desgraciosa na autodestruição que saciava seu apetite vingativo. Pelo menos por um tempo.


No entanto, os planos de Yotsuyu e do viceroy foram derrotados logo de cara pela lassidão inabalável de Zenos. O legatus visitante mal poupou um olhar para seu anfitrião enquanto descansava com tédio semblante nas almofadas fornecidas. Tendo se preparado para um exame humilhante de seus fracassos, o viceroy retirou-se confuso, deixando Yotsuyu para atender às necessidades de seu “convidado”.

O tempo passava, e Zenos esvaziou seu copo de novo e de novo. Mas o vinho poderia ser muito bem água por todo o efeito que parecia ter sobre ele.

O homem nunca ficará bêbado? Yotsuyu se perguntou exasperada. Então, assim que ela começou a contemplar simplesmente se jogar nua em seu colo, ele falou.

“Que tipo de lugar é este… Doma?”

A cortesã hesitou com a pergunta repentina. Ela tinha uma variedade de respostas, é claro, e podia ficar alegremente lírica sobre as deficiências de seu desprezado local de nascimento até o amanhecer. Mas sua tarefa retirar os segredos de seu alvo, não de si mesma. Pelo menos ele está falando. Vou fazer soltar língua ainda… Enquanto olhava para cima, no entanto, a resposta superficial que havia preparado morreu em sua garganta. Os olhos que passaram a noite olhando além dela agora perfuravam as profundezas de sua alma.

“Estou farto de conversas vazias”, alertou. “Diga-me, em vez disso, como esse rosto veio a esconder tanta amargura. O conto talvez me divirta.”

“Que conduta mais brusca, meu senhor”, Yotsuyu brincou, não querendo abrir mão de sua fachada. “Devemos culpar o saquê por esta quebra de etiqueta?”

Zenos apenas encarou em silencio. Estava claro que ele não tinha intenção de reconhecer sua desculpa. Em vez de se sentir desconcertada, no entanto, Yotsuyu se viu enfeitiçada, o brilho cativante de sua atenção total. Em um instante de clareza, ela entendeu. Este homem vai longe.

O som da chuva caindo penetrou em sua consciência, um forte aguaceiro repentino que dissolveu o momento que a manteve congelada. Mas uma conexão havia sido feita.

“A estadia mais breve em Doma lhe dirá tudo que você precisa saber, meu senhor,” Yotsuyu começou, “Yanxia é um monturo, uma pilha de estrumes.”

Zenos esvaziou o resto de seu copo, e se inclinou para frente com interesse.

“Ah, aí está você. Me intriga ver uma mulher lutando contra tanta raiva, quando a tradição dita que ela pareça mansa.”

“Tradição?” a cortesã cuspiu. “Meus compatriotas se estrangulam com as algemas de costumes e formalidades desgastadas. Seus olhos se arregalam e seus membros se contraem, e ainda assim eles se apegam a preciosas noções de honra e sacrifício.”

Agora que ela tinha dado voz ao seu ódio, as palavras saíram espontaneamente. Um dilúvio que teria continuado inabalável se Zenos não tivesse se levantado.

Seus olhos pareciam buscar algo além das paredes da taverna.

“Esperando que a tempestade cubra sua aproximação…” ele murmurou. “Estava curioso para ouvir mais da sua história, mas o verdadeiro entretenimento da noite chegou.”

“O que—” Yotsuyu mal havia pronunciado a pergunta quando a janela próxima explodiu para dentro. Ouvidos zunindo pelo barulho, ela registrou várias formas vestidas de preto subindo pelo buraco.

Os intrusos sacaram as lâminas e cercaram Zenos com espantosa rapidez. Yotsuyu, enquanto isso, se agachou para trás e observou a cena que se desenrolava. Assassinos, percebeu friamente, e não muito discretos. Eles se vestiram com roupas de shinobi, mas suas espadas e a maneira como as portavam eram distintamente imperiais.

“Bastardos!” ela gritou, furiosa com sua própria credulidade. Eles me mandaram aqui para morrer!

Nenhum dos assassinos mascarados olhou em sua direção. O próprio Zenos parecia despreocupado, até mesmo entediado, enquanto examinava o aço disposto contra ele. Sem fazer nenhum movimento para recuperar sua própria espada, apoiada fora do alcance contra a parede, o legatus calmamente analisou o cômodo.

“‘Lorde Zenos, morto nos braços de uma cortesã de Doma.’ Sim, tal escândalo vale a ignomínia de não proteger um convidado real.” Seus lábios se curvaram em um sorriso sem emoção. “E se o governante fugitivo de Doma for implicado na trama, melhor ainda. O viceroy teria seus reforços dentro de uma semana.”

Os assassinos permaneceram mudos enquanto se aproximavam mais e mais. No instante seguinte eles estavam sobre ele, lâminas refletindo em sincronia, seu círculo apertado obscurecendo seu semblante de armadura da visão de Yotsuyu.

Preparando-se para o inevitável, ela ficou momentaneamente confusa quando cada um deles pareceu parar em uníssono, antes de caírem sem vida no chão. Enquanto caíam, Zenos surgiu para ela ao se erguer do emaranhado de partes de corpo em preto como um anjo vingativo… mas na verdade ele ficou imóvel, sua expressão inalterada. Em uma mão segurava a espada de um assassino. Como…? Yotsuyu boquiaberta em descrença, tentando encontrar sentido no que ela acabara de testemunhar. Só podia supor que ele havia pegado a lâmina no último momento e derrubado o grupo inteiro com um corte impossível.

“Eu esperava que uma terra à beira de uma rebelião pudesse oferecer algum grau de diversão.” O legatus olhou para seus oponentes caídos e grunhiu de aborrecimento. “Mas se o viceroy acha que um punhado de facas alugadas é suficiente para me tirar da caçada, superestimei muito minha presa…”

Yotsuyu sentiu algo quente escorrer pela sua bochecha. Sem pensar, levantou a mão para limpá-lo e ficou confusa ao encontrar seus dedos manchados de vermelho. Olhando para seu quimono viu que estava salpicando de sangue.

“Por que você sorri?”

Olhando para cima, notou que o legatus encarando mais uma vez, e percebeu que ela realmente estava sorrindo. Dos muitos oficiais imperiais que havia encontrado, alguns reputados “grandes homens”, nenhum parecia tão seguro de seu próprio poder, nem tão desinteressado em projetá-lo.

Caso essa força fosse exercida sobre Doma, sua nação miserável finalmente encontraria o fim que merecia. Os olhos de Zenos se estreitaram com o sorriso largo dela, e caminhou indiferente sobre os corpos dos mortos para trazer seus lábios próximos ao rosto manchado de sangue.

“Qual o seu nome?” ele respirou, a voz um pouco além de um sussurro.


Quando a manhã chegou, nenhuma menção à tentativa fracassada de assassinato foi feita, e Yotsuyu retornou devidamente à sua missão de se infiltrar nas forças rebeldes.

Dias viraram semanas, e quando a agitação inebriante daquela noite encharcada de sangue finalmente começava a desaparecer, Kaien encenou sua rebelião há muito planejada. Previsivelmente, o viceroy de Doma não conseguiu conter a revolta, e a XIII Legião foi despachada para intervir. Depois de varrer Yanxia, Zenos derrotou o próprio Kaien em um combate único, com a rebelião desmoronando logo após.

Entre a multidão de espectadores abatidos “encorajados” a assistir ao subsequente desfile da vitória da XIII Legião pelo enclave, uma cortesã permaneceu despercebida. Ela só tinha olhos para o homem que marchava à frente da procissão, suas feições vazias e imutáveis sob o escrutínio amargo dos cidadãos de Doma. E quando ela escapuliu para seguir os soldados, ninguém notou sua ausência.

Alguns dias depois, o viceroy interino que governaria as terras de Doma no lugar de Zenos foi anunciado: uma mulher com o nome de Yotsuyu.

O poder era dela agora, para insultar, atormentar e torturar cada alma miserável que se amontava em seu odiado domínio. Envolta em um quimono elegante e girando um cachimbo fino, ela olhou para baixo do alto do Castelo de Doma… e sorriu.



Fonte: https://na.finalfantasyxiv.com/lodestone/playguide/#side_storyes
Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth

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