Tales from the Twilight: Set with the Sun
Contos do Crepúsculo: Pôr-do-Sol da Vida
Seu pai estava morto.
Fazia apenas alguns dias desde o evento, e Fordola não queria nada mais do que correr para muito, muito longe. Sua mãe não parava de chorar, e ela sabia que adicionar suas próprias lágrimas ao dilúvio só pioraria as coisas. Enquanto isso, o desdém dos imperiais e dos Ala Mhigans a corroeu. Qual era o sentido de viver assim—ou de viver no geral?
Quando o sol começou a se pôr no horizonte, Fordola dirigiu-se para os muros exteriores, deslizando como uma sombra por becos ignorados pelos soldados imperiais que patrulhavam. Ela se espremeu por uma fresta na pedra um pouco maior do que ela para alcançar seu santuário. Aqui, poderia olhar para os picos mais orientais de Abalathia’S Spine e—mais importante—ficar sozinha. Relaxando, apertou os olhos para o sol poente, que pintou o céu com seu tom favorito de vermelho ardente…
“Como pode o céu queimar tanto?” ela uma vez perguntou a seu pai. E ele não tentou afastá-la com algum mito conveniente, admitindo francamente que não sabia. Esse era o pai dela: honesto e gentil—e bastante sério quando ele perguntou qual ela achava que a resposta poderia ser.
Uma pontada de inquietação trouxe Fordola de volta ao presente. Virou-se para ver um par de olhos dourados brilhantes olhando para ela de cima de uma boca larga, parecida com a de um sapo. A forma azul bulbosa do abaddon estremeceu na expectativa de sua próxima refeição. Deve ter saído da beira da água em busca de presas. Ela piscou enquanto sua longa língua saía para provar o ar, traçando seu cheiro.
Ela iria morrer. No entanto, no lugar de sentir medo, não encontrou nada além de uma certeza fria.
Como era estranho, então, provar que estava errada.
“Hiá!”
O grito da mulher a alcançou primeiro. Então uma rajada de ar, um baque de impacto, e… a criatura se foi. Um instante depois, outro baque atraiu seu olhar para a direita, onde ela notou o abaddon agora de bruços, pernas atarracadas batendo pateticamente no ar. Perplexa, Fordola encarou a mulher—que só podia supor ser algum tipo de artista marcial—correndo de volta para o seu lado.
“Alguma coisa quebrada?” a mulher perguntava alegremente, a mão estendida até onde Fordola estava sentada (quando ela havia caído?). Com esforço, finalmente reuniu os meios para balançar a cabeça—depois de muito tempo, a julgar pelo quase comicamente aliviado “Graças a Deus!” que recebeu em resposta. Embora a maior parte de seu rosto estivesse obscurecida por uma máscara, o sorriso da mulher brilhava bastante. Quase a lembrou do fogo no céu.
“Eu sou Yda”, continuou. “Prazer em conhecê-la!”
Quando Fordola não fez nenhum movimento para retribuir, Yda segurou sua mão entre as suas e a sacudiu para cima e para baixo como se fosse uma criança pequena.
“Hum,” Fordola começou.
“Qual o seu nome?” Yda interveio, descuidada.
“…Fordola.”
“Fordola! Você veio aqui sozinha? Onde estão seus pais?”
“Minha mãe está em casa,” murmurou mal-humorada. “Mas meu pai está… Ele está…”
“Sinto muito”, Yda assentiu, e não disse mais nada sobre isso.
Na verdade, ela parecia já ter esquecido completamente o assunto.
“Vamos nos encontrar aqui amanhã?”
“O que?” Fordola conseguiu responder. “Por quê?”
Yda inclinou a cabeça em confusão. “Porque somos amigas!”
“Desde quando?” Fordola disparou de volta. Esta “Yda” pode ter salvado sua vida, mas isso não as tornava amigas.
“Não se preocupe! Se mais monstros aparecerem, eu vou chutá-los para bem longe em Doma,” a mulher respondeu, firmemente não entendendo a razão da pergunta.
“Então você vem?” continuou, não mostrando nenhuma inclinação para largar a ideia ou a mão de Fordola.
Não havia como escapar. Fordola assentiu.
Acompanhar Yda onde quer que fosse se tornou uma ocorrência regular para Fordola nos dias que se seguiram. Ela nunca esqueceria a alegria de nadar através do Loch Seld─ ou o julgamento de explicar seus olhos avermelhados de sal para sua mãe preocupada depois. Também aprendeu a caçar. Sua primeira caçada, que Yda assou em uma fogueira, não tinha o sabor das refeições que sua mãe fazia, mas era deliciosa mesmo assim. E pela primeira vez desde a morte do pai, Fordola descobriu que podia sorrir novamente.
Yda falou muitas vezes de sua irmã mais nova depois disso. Ela também enfrentara a morte do pai ainda jovem, e Yda estava desesperada para animá-la, para levá-la a qualquer lugar que pudesse trazer um sorriso ao seu rosto.
“Você me lembrou ela, sabia? Eu não poderia simplesmente deixar você assim.”
Também mencionou que estava em Gyr Abania temporariamente enquanto ela e seu companheiro faziam seu “trabalho”. O que eles pretendiam realizar, no entanto, Yda não disse, afastando suas perguntas com um sorriso.
Fordola tinha certa noção, no entanto. Ela tinha ouvido Yda conversando com seu parceiro via linkpearl várias vezes, sempre sobre “os refugiados”, e embora ela não pudesse imaginar os detalhes, foi o suficiente para dizer que eles eram inimigos do Império.
No entanto, apesar disso, e para sua própria surpresa, Fordola sentia-se perfeitamente à vontade.
“Por que você não vem comigo?” Não houve hesitação na oferta. Com sua missão cumprida, Yda deixaria Ala Mhigo em breve─com Fordola, se assim desejasse. Elas poderiam viver em outro lugar, em algum lugar livre, juntas.
Fordola não sabia o que dizer. Foi tudo tão repentino─e seus amigos e familiares? Ela poderia trazê-los também?
“Só podemos levar algumas pessoas. Uma ou duas podem entrar com a carga, mas não mais do que isso.” Yda parecia aflita. “Desculpe… Talvez tenha sido errado eu perguntar.”
Ela iria pensar sobre isso, prometeu, então Yda disse onde se encontrariam para a fuga, e quando. Depois disso, iria embora de vez.
Depois de muito se preocupar sozinha, Fordola decidiu compartilhar seu dilema com suas quatro amigas mais próximas. Eles ficaram em silêncio enquanto ela lhes contava tudo, e por um bom tempo depois. Parecia que eles também não sabiam o que dizer.
Foi Emelin quem falou primeiro.
“…Desculpe. Eu não posso simplesmente deixar minha família para trás. Mas eu não quero que você nos deixe também,” ela conseguiu dizer, antes de se enrolar em si mesma, parecendo que iria chorar.
“Meu avô é muito velho”, murmurou o menino atarracado ao lado dela se desculpando. “Eu não acho que poderia ir também.”
Os ombros de Fordola caíram. Claro que eles nunca concordariam.
Foi Charlet, um garotinho que muitas vezes a seguia como um irmão mais novo adorador, que falou em seguida, com lágrimas nos olhos.
“E-eu sei que você quer! Você estava tão triste por causa… por causa do seu pai, mas você está mais feliz agora, então… se você quiser… vou sentir sua falta, mas acho que você deve ir.”
Com isso, o irmão mais velho de Charlet, Ansfrid, soltou um bufo exasperado.
“Não seja tão estúpido! Por que ela precisa da ajuda de uma Ala Mhigan? É para isso que nós estamos aqui! Não se atreva a ir embora, Fordola.” Seu lábio tremeu mesmo quando ele olhou para ela, os punhos cerrados ao lado do corpo.
E então Charlet começou a chorar.
“Eu não”, ele fungou, “eu não quero que você vá. Eu quero que todos fiquem juntos para sempre!”
“Não nos deixe! Nós sempre seremos seus amigos se você ficar!” Emelin lamentou.
Embora preferisse que eles não fossem tão chorões sobre isso, Fordola ficou feliz em saber o quanto seus amigos se importavam. Eles entendiam o quão difícil era não ser nem Ala Mhigan nem Garlean, e não podia abandoná-los agora—não depois de tudo que eles passaram juntos. Ela diria ‘não’ a Yda. Ficaria em Ala Mhigo.
Decidida, Fordola resolveu despedir-se de Yda com um sorriso. Ela sentiria terrivelmente a falta dela, mas certamente se encontrariam novamente algum dia.
E então voltou para casa, alheia à figura que a observava das sombras.
O dia marcado amanheceu sem alarde.
Quando o sol cruzou o céu, Fordola foi até o local combinado para esperar, como fizera inúmeras vezes antes. A Yda que veio ao seu encontro, no entanto, se comportou bem diferente da alma despreocupada que conhecia. Em todas as outras ocasiões, saltaria alegremente em sua direção no momento em que seus olhos se encontravam, mas hoje ela hesitou, examinando os arredores com cautela. Fordola seguiu seu olhar, mas não notou nada fora do comum nas ruínas.
“Yda?” chamou em voz baixa, mas a mulher estava distraída, pressionando o linkpearl em seu ouvido.
“Aqui também não parece bom”, disse ela a quem quer que fosse—seu parceiro, Fordola suspeitou. “Mudança de plano. Vá agora. Não espere por mim.”
Do que ela estava falando? Gritos distantes estalaram do linkpearl. Alguém não estava feliz. Fordola se esforçou para ouvir.
“Desculpe, Papalymo! Cuide de Lyse para mim!” Yda disse com sua alegria habitual, silenciando a conexão. Aliviada, Fordola se aproximou, certa de que Yda ainda era ela mesma.
Foi então que ela ouviu os passos. Com o coração martelando, virou-se para ver dois, três, e então mais e mais soldados se espalhando ao redor deles— pelo menos dez no total.
“Belo truque.”
A voz de Yda estava mais fria do que ela jamais ouvira—tão fria que levou um momento para Fordola perceber com quem ela estava falando.
“O-o quê?”
“Você sabia que eu descobriria se você falasse com os guardas, então, em vez disso, você se certificou de ser seguida… rata imperial!”
Ela fez menção de protestar, mas sua voz morreu em sua garganta quando percebeu a gravidade da situação. Yda estava fingindo—embora os soldados a tivessem sim seguido.
“Pensei que eu seria capaz de ganhar algum dinheiro decente com a filha de um comerciante, mas você tinha que estragar tudo… É melhor você correr enquanto pode, ou eu vou estrangulá-la onde você está!”
Tudo mentira para impedir que os imperiais a acusassem de traição, e Fordola não teve escolha a não ser acompanhá-las. Ela mordeu a língua, sentindo-se furiosa e patética ao mesmo tempo.
Corra.
Yda subocou a palavra enquanto um dos soldados levava um transceptor magitek aos lábios. Quase no mesmo instante, outro soldado, que estava diminuindo lentamente a distância entre ele e Fordola, estendeu a mão para agarrá-la, mas o pé de Yda bateu no chão, impulsionando-a para frente em um piscar de olhos, e ele desmaiou com um chute no estômago gritando. Alarmados, os outros correram para cercar Yda, que dançou para frente e para trás na ponta dos pés, punhos prontos.
“Sinta-se livre para atacarem todos de uma vez, se vocês estão com tanto medo!”
“Acaba com ela!”
Os soldados brandiram suas lâminas com gritos raivosos, e Fordola correu. Só tornaria as coisas mais difíceis para Yda se ficasse.
Ela fugiu pelas ruínas, tecendo em torno de escombros enquanto corria. Mas ágil como ela era, não podia esperar igualar o passo de um soldado, e se viu rapidamente ultrapassada. Acovardando-se com o brilho perverso da lâmina que se arqueou em direção a ela, Fordola perdeu o equilíbrio—assim como o imperial, que foi, no mesmo instante, arremessado desajeitadamente para os escombros próximos, cortesia de um chute para o lado. Ele caiu no chão, imóvel.
Yda virou-se e encontrou os olhos de Fordola. Sem a máscara habitual, podia ver as linhas de tinta formando um desenho tradicional de Ala Mhigo. Seus olhos—azuis, Fordola agora notou—eram tão gentis. Por favor, corra, ela queria dizer, mas não conseguia encontrar sua voz. Seu corpo ainda tremia onde estava, congelada no lugar, mas Yda se aproximou como se nada estivesse errado.
“Viva, Fordola”, disse ela, pousando uma mão tranquilizadora em seu cabelo. “Encontre alguma esperança para seguir.”
Fordola apenas assentiu, mal conseguindo conter os soluços que ameaçavam explodir de seu peito, enquanto Yda a agraciava com um último sorriso. Então ela se foi, correndo forte e rápido na outra direção, chamando seus inimigos para segui-la.
Com o céu vermelho queimando sob ela, Yda dançou.
Os imperiais caíam um após o outro aos seus golpes, mas mesmo ela não conseguiu escapar de cada lâmina, cada punho, cada bala que veio em seu caminho—e logo o chão branco como sal ficou vermelho também. De longe, Fordola viu a força de Yda diminuir.
Mais e mais soldados estavam vindo para se juntar à briga. Ela até viu uma enorme monstruosidade magitek se aproximando, o rangido de metal contra metal aumentando o clamor que agora ressoava ao redor das ruínas.
Rápida do jeito que era, Yda certamente poderia ter escapado sozinha. No entanto, lá ficou, lutando nessa batalha impossível. Ela ia morrer, e por quê? Por causa de uma criança? Por mim?
Por que eu?
Se fosse buscar ajuda, eles poderiam chegar a tempo. Mas a quem poderia pedir? Quem ajudaria um inimigo do Império? Ninguém que conhecia. Ela amaldiçoou sua própria inutilidade.
Ainda assim, continuou se movendo. Um passo de cada vez, embora suas pernas tremessem para os executar, e repetiu as últimas palavras de Yda para si mesma até que se tornassem parte dela. Ela viveria.
No final, ela não enfrentou nenhum inquérito por estar presente, graças ao teatro de Yda. No entanto, sabia que, se sua lealdade ao império fosse novamente colocada em dúvida, sua mãe e talvez até seus amigos pagariam o preço também. Seria prisão ou morte para todos eles.
Se essas fossem suas escolhas, provaria ser uma cidadã digna do Império. Embora ela ainda não tivesse encontrado a esperança de que Yda falava, escolheu acreditar que um dia encontraria.
Até então, ela viveria.
A tatuagem se destacava nitidamente contra a tez de Fordola, sua tinta fresca sob sua pele. Ela traçou o padrão tradicional com os dedos. Hoje, ela e Ansfrid, Emelin e Hrudolf se juntariam à XII Legião Imperial—mas era outro dia que ocupava seus pensamentos enquanto partia, um passado distante, mas vívido como um céu vermelho ardente.
Carregava a memória com ela enquanto dava um passo, depois outro, em direção a seus amigos que esperavam.
Fonte: Tales from the Twilight | FINAL FANTASY XIV, The Lodestone
Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth