Tales from the Dawn: Days Gone By, Days Yet to Come
Contos da Alvorada: Dias Passados, Dias Vindouros
“Ora ora, que descuidado este nosso Azem.”
Assim disse Hythlodaeus, andando lentamente por seu escritório no Bureau of the Architect e encontrando um cristal visivelmente deixado para trás em uma cadeira reservada aos convidados. Caído de um bolso singurlamente aventureiro, sem dúvida. Maravilhou-se com a forma que a luz brincava por suas facetas, como a superfície de um lago tranquilo, e recordou do primeiro visitante que recebera naquela manhã.
Azem havia procurado a assistência do dito chefe em relação ao refinamento do décimo quarto em sua série de conceitos para ajudar a aliviar os fardos de viagens, os quais estavam contidos dentro do cristal que cabia na palma da mão. Porém, como acabava sendo a maioria das vezes, a conversa a respeito das escapadas que inspiraram a criação do dito conceito descarrilhava para uma recapitulação completa, deixando Hythlodaeus com tempo insuficiente para o analisar antes de Azem ter de correr para uma reunião com a Convocação. Hythlodaeus também tinha suas obrigações urgentes—a avaliação formal de um conceito de forma de vida massiva, sendo uma delas—e tinha acabado de voltar ao escritório naquele momento.
“E ausentes tais confortos, quão intoleráveis com certeza serão suas peregrinações”, disse em voz alta enquanto recolhia o cristal de seu amigo.
Voltando-se para uma janela próxima, Hythlodaeus lançou seu olhar sobre o grande Capitólio onde a Convocação se reunia e, com um ato de vontade praticado, viu o mundo sob uma luz diferente. Embora muitos pudessem sentir o fluxo do aether, apenas aqueles com experiência poderiam perceber suas correntes com os olhos. Mais raros ainda eram aqueles que nasceram com a capacidade de fazê-lo tão intensamente quanto Hythlodaeus—Emet-Selch sendo outro de talento natural.
Foi assim que Hythlodaeus avistou sem esforço o fluxo pertecente ao Azem em meio a outros. Embora não pudesse ter certeza da posição exata de seu alvo a tal distância, tinha certeza de que estava em algum lugar dentro da Capital.
Piscando, voltara a contemplar o mundo como todos os outros mais uma vez. Muito além das vidraças, o sol estava pronto para beijar o horizonte e, com seu ardor, banhava as ruas da cidade em rubor e dourado. Os assuntos da Convocação seriam concluídos em breve, tornando este o momento ideal para entregar o cristal esquecido. Com o curso decidido, Hythlodaeus deixou a sala, tomando apenas um breve momento para mencionar seus planos ao secretário sênior. Embora a alma trabalhadora estivesse acostumada com a natureza despreocupada de seu superior, ele tentou detê-lo, apenas para ser derrotado pela tática já testada e confiável de assentir educadamente e fingir não ouvir.
Do lado de fora do Bureau, Amaurot banhava-se com a luz do entardecer. Nunca uma cidade foi tão magnífica.
Das ruas mais simples aos pináculos mais altos…
Os pés de Hythlodaeus levaram-no pela subida suave que conduzia às grandes portas da instituição, passando por estas, avistou duas mulheres que reconheceu, sua conversa alegre formando um dueto familiar.
“Mitron, Loghrif. Um prazer como sempre. Presumo que a reunião esteja concluída?”
“Bem-vindo, Hythlodaeus. Terminou há apenas um momento, sim”, respondeu Mitron, antes de lançar um sorriso de quem já sabia do que se tratava. “Acredito que os dois ainda estejam lá dentro.”
De fato, sou uma criatura de hábitos. “Azem deixou um cristal de conceitos em meu escritório.”
Com uma risada e um encolher de ombros, Mitron virou-se para Macarenses Angles. Loghrif ofereceu algumas gentilezas de despedida antes de correr para alcançá-la.
“Então, Mitron. O que faremos esta noite?”
“Exatamente o que discutimos anteriormente—bastante. Sempre a esquecida, não é…”
Hythlodaeus não pôde deixar de rir consigo mesmo ao ouvir suas vozes desaparecerem na agitação geral. Imutáveis em sua dinâmica, seja no trabalho ou no lazer. Mitron criou a vida para prosperar no mar e a vida de Loghrif para prosperar na terra firme. Reinos vizinhos inextricavelmente ligados, e assim como as ondas eram sempre atraídas para a costa, o par também era inseparável. Hythlodaeus gostava do calor delas, escutando até não poder mais ouvi-las, antes de retornar à sua tarefa.
Nem uma única partícula de poeira estragava o vasto e elegante hall de entrada do Capitólio. Mais adentro, havia duas figuras envolvidas no que parecia ser uma discussão bastante séria. Como era costume da Convocação debater assuntos de grande importância sem máscara nem capuz para obscurecer suas feições, ficou claro, pelos seus rostos descobertos, que a reunião havia terminado apenas recentemente—e que alguns pontos não haviam sido resolvidos a contento de todos. Ou talvez primos¹ saibam que é melhor não tentar esconder suas intenções dos próprios parentes.
Tomando cuidado para não perturbar Lahabrea e Igeyorhm, Hythlodaeus passou por um conjunto de portas próxima e pisou suavemente enquanto avançava pelo corredor. Mudando sua percepção do mundo, seguiu o rastro de Azem mais uma vez. Mais perto agora—o jardim, provavelmente. O que significa que precisarei percorrer o caminho mais longo.
Ele reconheceu outro fio de aether. Bem, já que não há necessidade de pressa…
Juntando as mãos atrás das costas, Hythlodaeus começou a passear, cantarolando baixinho enquanto imaginava seu próximo encontro.
Pouco tempo depois, chegou à entrada da sala de reuniões da Convocação. Com um timing impecável, as pesadas portas gemeram e começaram a abrir, permitindo a saída de um jovem de estatura modesta. Afixada em seu manto branco havia uma máscara vermelha como nenhuma outra.
“Bom Elidibus, agradeço e elogio seu serviço neste belo dia.”
“Oh. Hythlodaeus. Como sempre, você é muito gentil. Se você está procurando por Azem e Emet-Selch, eles partiram não faz muito tempo…”
De fato, nossas tendências são conhecidas por todos. Elidibus e Mitron não eram exceção—na verdade, quando Azem ou Emet-Selch visitavam o Bureau of the Architect, a equipe geralmente se abstinha de perguntar sobre o assunto e os levava direto para Hythlodaeus. Apenas o temível secretário sênior e aqueles que não estavam há muito tempo no emprego seguiam o protocolo à risca.
Depois de informar Elidibus que já havia deduzido a localização de Azem, a curiosidade de Hythlodaeus o obrigou a perguntar sobre a conversa anterior dos primos.
“Os assuntos apresentados hoje à convocação foram particularmente espinhosos? Lahabrea e Igeyorhm pareciam estar em desacordo.”
“Não, não… eu diria que a situação está mais ou menos resolvida. No entanto, tem sido uma grande preocupação para Lahabrea, contribuindo para a sua presença intermitente nos últimos tempos. Acredito que Igeyorhm esteja apenas preocupada com o seu bem-estar. ”
“Entendo. O que testemunhei não foi uma discussão, mas um sermão. Mesmo assim, não consigo imaginar que crise terrível poderia justificar a atenção constante do estimado Lahabrea.”
A expressão aflita de Elidibus foi uma surpresa. Para alguém tão brilhante precisar lutar para colocar seus pensamentos em palavras… Deve ser uma situação realmente delicada.
“Confesso… o perigo não é… desprezível, e há aspectos que ainda não compreendi completamente”, murmurou, desviando o olhar.
Durante um longo momento permaneceram em silêncio, até que Elidibus respirou fundo e ficou um pouco mais ereto.
“Mas também ganhamos muito com esse episódio. E uma nova amizade.” Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. “Outras bênçãos também, descendo dos céus para nos ajudar… Uma verdadeira estrela-guia…” Havia um olhar distante em seus olhos, como se refletisse sobre um sonho lembrado pela metade.
“Parece que você tem boas lembranças do encontro.”
Elidibus piscou. “Sim… sim, acredito que sim. E vou os estimar enquanto viver.”
Decidido a não falar mais sobre o assunto, Elidibus levantou o capuz e pediu licença. Hythlodaeus agradeceu por seu tempo e observou o emissário se afastar, recuperando um pouco mais de compostura a cada passo, até que um homem completamente diferente deixou o Capitólio para trás. Curioso.
Com um pequeno aceno de cabeça, Hythlodaeus retomou sua caça descontraída, caminhando em direção à próxima curva. Naquele instante, uma alma sombria veio correndo pela esquina, e Hythlodaeus fez tudo o que pôde para evitar uma colisão. Recuperando o equilíbrio, ele se virou para verificar a identidade do atormentado indivíduo e se viu olhando para um par de olhos de jade.
“Sinto muito. Isso foi imprudente, rude e imprudente da minha parte…”
Nosso novo Fandaniel. Tendo conhecido o homem muito bem antes de sua recente nomeação, Hythlodaeus ainda pensava nele como Hermes. Como os outros membros da Convocação, ele se esqueceu de levantar o capuz e colocar a máscara após a reunião, e assim sua palidez mortal e as olheiras embaixo de seus olhos eram impossíveis de ignorar.
“Não há necessidade de se desculpar, meu amigo, estou totalmente ileso. No entanto, se posso ser franco, você parece quase exausto. Você tem negligenciado seu sono?”
“Eu… eu tenho responsabilidades. Coisas que devem ser compreendidas. Que eu devo compreender.”
Por mais vaga que fosse a resposta, a relutância de Hermes em encontrar seu olhar dizia muito. Enterrando-se no trabalho, como disse Emet-Selch. Tal comportamento não era inédito para o homem, mas esse episódio se destacou por sua intensidade e duração. Embora talvez isso seja de se esperar…
Hythlodaeus e Emet-Selch foram enviados a Elpis para avaliar a aptidão do então superintendente-chefe para um assento na Convocação, mas dita visita coincidiu com um acidente. Aparentemente sem aviso, um coletivo de familiares nos quais Hermes dedicou anos de esforço tornou-se instável e se dissipou espontaneamente, produzindo uma onda de choque que por sua vez desencadeou a ativação de um sistema de reconfiguração de memória. Na sequência, Hythlodaeus e Emet-Selch descobriram que não tinham nenhuma lembrança do período após sua chegada a Elpis, enquanto Hermes possuía apenas fragmentos com os quais reuniu as circunstâncias.
Embora, sem dúvida, inconveniente, Hythlodaeus aceitou o episódio com calma, e logo se tornou um assunto para anedotas divertidas entre a equipe. Mas não Hermes. “Eu a matei—assassinei-a”, lamentou—um sentimento estranho e passageiro que Hythlodaeus nunca tinha ouvido ninguém falar de um familiar—e como se tivesse sido despojado das asas que tantas vezes conferia aos seus conceitos, ele nunca mais conseguiu se levar a fazer outra criação voadora.
Desde então, abraçando seus deveres como Fandaniel, Hermes passou todos os seus momentos de vigília conduzindo observação e estudo dos fenômenos existentes.
“Longe de mim impedi-lo de seu interesse escolhido, mas poderia considerar tirar um momento para descansar—ou até mesmo comer? Você tem alguma preferência em particular? Uma fruta favorita, talvez? Algo que você possa gostar?”
“Fruta²…?”
Hermes encolheu-se, com os olhos trêmulos, enquanto olhava através de Hythlodaeus. Perdido e procurando…
“Eu não… eu não sei.”
“Então temo que seu cansaço tenha atingido um nível alarmante. Por outro lado, eu mesmo não tenho nenhuma preferência forte, pois é do prazer da boa companhia que obtenho mais alimento. Se isso comovesse o implacável Emet-Selch e o fazer rir, poderia simplesmente devorar minha própria máscara!”
O canto da boca do homem desanimado se contraiu levemente. Progresso! Hythlodaeus pressionou o ataque, desta vez de forma mais direta.
“Meu amigo, o que o move a se dedicar tão inteiramente ao seu trabalho? Gostaria de pensar que não existe problema tão impenetrável que uma pessoa de seus consideráveis talentos precisasse sacrificar a saúde para resolvê-lo.”
Sua pergunta foi recebida com silêncio, enquanto Hermes novamente se retraía em si mesmo em busca de uma resposta. À deriva em um mar sem estrelas, enfrentando um dilema próprio. Sozinho. Emergindo finalmente, sussurrou.
“Só podemos seguir em frente.”
Hythlodaeus olhou-o cuidadosamente. “Posso perguntar o que você quer dizer?”
“Não consigo explicar, mas… não sei o que nos espera, ou o que será de nós… e ainda assim vivemos. Estamos aqui e vivos, e… e por causa disso, eu sei—eu sinto que devemos… continuar seguindo em frente…”
À deriva em um mar sem estrelas, com falta de ar enquanto as correntes ameaçam puxá-lo para baixo. Há uma verdade aqui, mas ele não a vê. Ele sente sua presença e se esforça desesperadamente para entender, mesmo quando as palavras saem de sua boca.
Como Emet-Selch era o guardião do mar aetherial, Fandaniel era sua contraparte para o físico. Os assuntos dos vivos eram naturalmente a sua principal preocupação. Mas serão estas meras reflexões filosóficas ou algo mais…?
Hythlodaeus conteve a língua enquanto ponderava a resposta curiosa. Com um sobressalto, Hermes percebeu que sua manifestação não suscitou resposta e murmurou um pedido de desculpas reflexivo.
“Desculpe, isso foi… aham. Sua preocupação é muito apreciada, Hythlodaeus. Acho que devo seguir seu conselho e me retirar para meus aposentos para descansar um pouco.”
“Uma decisão sábia. Emet-Selch disse outro dia—e cito—’Se ele está determinado a tombar onde está, ele poderia pelo menos carregar um travesseiro.'”
Não conseguindo conter uma careta envergonhada, Hermes agradeceu novamente e seguiu seu caminho. Embora parecesse desacelerar seus passos para mitigar o risco de colidir com transeuntes inesperados, Hythlodaeus notou que, mesmo assim, esbarrou nas paredes várias vezes enquanto tropeçava e sumia de vista. Que longa seja sua soneca.
A caçada recomeçada, Hythlodaeus seguiu em frente, aproximando-se cada vez mais do jardim. Só para ter certeza, ajustou sua perspectiva mais uma vez. “Ah!” O fio de Azem se mantinha, dançando no ar diante de seus olhos. Seu ritmo acelerou quando adentrou o jardim.
Tal como os espaços maiores de Anagnorisis, o humilde santuário era claramente beneficiário de cuidado e carinho constantes. Embora cercado por corredores, oferecia uma visão desobstruída do céu, o que significava que um viajante ansioso para seguir viagem poderia convocar um familiar para levá-lo ao céu em um instante…
Suponho que não deveria ficar surpreso. Azem se fora. Um segundo fio familiar de aether terminava em Emet-Selch, que estava vagando, esticando o pescoço e olhando para longe. Na privacidade deste momento, sua testa frequentemente franzida estava relaxada, e seus lábios muitas vezes voltados para baixo ameaçavam se curvar em algo desconcertantemente genuíno.
“Ouso dizer que seu sorriso nunca é tão sincero como quando você se despede de Azem.”
Assim que as palavras foram ditas, a cortina sombria caiu. Tão preciosas e efêmeras, suas expressões desprotegidas.
“Salvo uma exceção, você raramente é visto sem sua habitual carranca—a menos que haja tolos de quem zombar.”
“Presumo que você não me procurou apenas para gravar novas linhas em minha testa.”
Com certeza, a pele acima dos olhos de Emet-Selch estava formando impressionantes cânions de aborrecimento. Hythlodaeus deslizou para o seu lado e tentou refazer o caminho de seu olhar anterior. Um piscar de olhos antes de desaparecer, conseguiu distinguir a forma de Azem.
Não havia mais nada para ver, mas continuou olhando. “É um elogio. Acho seu sorriso muito encantador e só gostaria que você nos agraciasse com ele com mais frequência.”
“Agora, quem está zombando de quem? Mas vou admitir, acho essas ocasiões… estimulantes. Revigorantes, até. Estar presente enquanto nosso amigo embarca em outra jornada sem destino e dizer: ‘Vá em frente e busque a descoberta’, ou algo assim e tal.”
“Sim, sim. E…?”
Tão formidável era o olhar furioso de Emet-Selch que poderia obrigar os deuses todo-poderosos a se encolherem em vergonha. Hythlodaeus, no entanto, permaneceu imperturbável, tendo convivido com a figura indomável desde a infância. Dois pirralhos problemáticos que nasceram com visão aetherica. Foi a associação de longa data deles que garantiu que Emet-Selch soubesse que suas brincadeiras eram simplesmente isso—e que Hythlodaeus precisava apenas esperar pacientemente para que a honestidade triunfasse sobre o orgulho.
“…E me conforto em saber que quaisquer que sejam as tribulações que ele possa enfrentar, ele superará. Que seja qual for o futuro, será mais animado por ele estar presente.”
Hythlodaeus não conseguiu conter o riso. Nosso amigo a força da natureza! “Bem dito, bem dito!” ele gaguejou antes de sucumbir à diversão mais uma vez. Emet-Selch suspirou exasperado e murmurou algumas palavras de reprovação, mas eram como folhas ao vento, um farfalhar musical que aqueceu os cantos de seu coração.
E agora, naquele céu sem limites onde o nosso amigo procurava infinitas possibilidades, vejo apenas a morte.
Não havia terras intocadas pelos Final Days. Nem mesmo Amaurot, sobre o qual os céus agora ardiam.
“Hytlodaeus, por favor.”
Emet-Selch o encontrou—depois de algum esforço, a julgar pelo seu estado ofegante e desgrenhado.
“Você não deve… Com sua sabedoria e habilidade, certamente você poderia fazer mais por nosso povo se permanecesse…”
“Fui sábio o suficiente para recrutar outros que me superam em todos os aspectos. Sobreviverão pessoas o suficiente para garantir que nosso trabalho possa continuar.”
Não era uma preocupação expressada em nome dos amaurotinos. Melhor fingir o contrário, no entanto.
Para antecipar os Final Days, a vontade da estrela receberia volume e forma. Seria necessária uma oferta de vidas em escala sem precedentes. A própria Convocação apelou a participantes dispostos e, portanto, Emet-Selch não estava em posição de negar a ninguém o direito de ser voluntário. Poderia apenas tentar contornar o pedido impronunciável e cerrar os punhos em frustração quando recusado.
Hythlodaeus não era um lutador. Era a escolha pragmática se sacrificar. Ser reduzido a aether e servir como combustível para a grande evocação—Hythlodaeus não temia isso. Ele compreendeu a morte e o terror que tomou conta de muitos quando se aproximava destes, mas essa compreensão apenas o encorajou a abraçá-la. Em algum momento do passado, teria morrido para perpetuar o ciclo. Agora, morreria para preservar uma miríade de vidas que ainda poderiam ser salvas.
Mesmo assim, doeu-lhe profundamente ver Emet-Selch reduzido a tal estado. Embora soubesse muito bem que ele não era a única causa de sua angústia.
“Azem não nos abandonou. Ele segue seu coração, como sempre fez, e procura desafiar esse destino à sua maneira.”
“Você acha que eu não sei disso!? Não há tempo, Hythlodaeus! Precisamos de soluções agora. Temos um dever para com esta estrela!”
As palavras pareciam um uivo gutural, tão terrível era sua fúria. Aquele que manteve esperança no retorno de Azem por mais tempo do que qualquer outro. Ele cuja raiva, frustração e dor vejo claramente em seus olhos suplicantes. Aquele que sempre foi constante e verdadeiro e a quem tenho orgulho de chamar de meu querido amigo.
“Você está certo, Emet-Selch. Você está certo, e é por isso que devo colocar minha fé no plano da Convocação.”
A hora da evocação de Zodiark estava próxima.
Ele fala novamente, mas não há mais nada a dizer.
Levanto a mão em pedido de desculpas e despedida, e o deixo para trás.
Não me viro para olhar. Lembro-me de um jardim, de um céu e de um homem, e isso é suficiente.
É o suficiente.
E então termina.
Termina… e mesmo assim ainda continua…
Que destino caprichoso—e uma tenaz Venat—ver duas almas, no limite do universo, chamadas ao palco mais uma vez. Assim Hythlodaeus e Emet-Selch se encontraram na presença do herdeiro do legado de Azem. Assim a humanidade emitiu a sua resposta à questão trazida nas asas do esquecimento.
E assim carregamos o poder da criação.
Dever finalmente cumprido, Emet-Selch fez uma reverência, partindo não com banalidades banais, mas com um desafio ao viajante a seguir em frente e buscar a descoberta, acrescentando com a mais preciosa e efêmera das expressões: “Eu certamente fiz.”
Lembro-me de um jardim, de um céu e de um homem, e isso é suficiente.
A excitação e expectativa em seus olhos. O orgulho em seu peito. A fé inabalável em seu coração. A alegria em seus lábios ao desejar felicidades a Azem em sua jornada.
Assim termina o encore. Os jogadores saem para ocupar seu lugar entre os mortos, e os vivos embarcam em seu navio de mármore para serem transportados de volta ao lugar a que pertencem. Rendemo-nos às correntes suaves que nós chamamos de casa.
Há muito esperado, mas ainda repentino e surpreendente.
Das águas cintilantes além do além, a multidão levanta suas vozes cantando.
Bem-vindos, bem-vindos—em uníssono, em celebração. O dia está ganho.
Termina e ainda continua.
Ao meu lado, seus olhos estão fechados, seus ouvidos atentos à alegria distante. Na privacidade deste momento, ele sorri, por tudo o que tivemos e por tudo o que terão.
Não sei a forma da sua dor, nem como ela o transformou no homem que se tornou. Mas sei que quando a humanidade experimentou pela primeira vez a solidão e o medo, a amargura e o desespero, ele partilhou do tormento deles.
E agora, enquanto somos chamados a dormir, ele sorri. E eu sei—eu sei que é por sua causa.
Obrigado.
Ele levanta a cabeça para olhar para as águas.
Ele me dá um sorriso final e uma palavra gentil e fecha os olhos.
Ó estrela, dois viajantes cansados estão retornando
Nós somos vós e tu és nós
Carne e alma e memória para desvendar e entrelaçar-se com teu fluxo
Para tecer de novo e lançar-se à costa
Um dia
Imagino esse dia e meu pulso acelera.
Assim como o seu, não é, Hades?
Assim a vida volta à vida.
E sob pálpebras sonhadoras, nossa fantasia final continua.
¹ No japonês, a palavra “primo” pode ser escrita de diversas formas (mantendo o mesmo som) ao especificar a relação entre os primos em questão. No caso, o texto utiliza 従兄妹 , onde 兄 representa irmão mais velho e 妹 irmã mais nova, significando assim que Lahabrea é mais o mais velho no parentesco entre os dois.
² Mais uma vez, no texto em japonês a expressão utilizada é 「好きなもの…………」(“Algo que eu goste…”) que leva o foco a outra parte da pergunta de Hytlodaeus. Pela cor de sua alma e inabilidade de sequer conseguir pensar em algo que ainda goste, poderiam ser indicativos da sua frágil saúde mental. O texto em inglês usa o foco na fruta e sua relação com Meteion, logo não há de se dizer sobre qual das versões está mais correta, apenas deixo a outra forma de ver o estado de Fandaniel.
Fonte: Tales from the Dawn | FINAL FANTASY XIV, The Lodestone
Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth