FFXIV | Contos da Calamidade: Amigos que vem, amigos que se vão

O mundo foi para sempre alterado pela Calamidade e a destruição por ela moldada. Ao longo de cinco pequenas histórias, personagens centrais irão revisitar os eventos que rodeiam aquele fatídico dia, proporcionando um panorama dos efeitos da Calamidade na vida de muitos.

Tales from the Calamity: Of Friends Lost and Found
Contos da Calamidade: Amigos que vem, amigos que se vão

A batalha acabou, mas ninguém poderia dizer que a paz retornara a Carteneau. A lua menor – e a abominação alada que irrompeu de seu ventre – causara devastação nas planícies outrora férteis, deixando nada além de uma terra inculta cheia de cicatrizes até onde a vista poderia alcançar.

Matron tenha misericórdia…. Eu morri e fui para o sétimo inferno.

“Elder Seedeer! Venha rápido!”
Kan-E-Senna se virou assustada, o grito repentino a despertando de um devaneio momentâneo. Ela forçou seus olhos a focarem no locutor; um jovem Serpent, sua armadura endurecida com sujeira e sangue, acenando com uma mão ensanguentada.
“Minha senhora! Há algo preso sob a besta de aço!”
Reunindo suas forças, Kan-E-Senna se juntou ao jovem perto de uma magitek caída. Por baixo dos destroços, ela pôde perceber os gemidos angustiados de alguém que se agarrava tenuemente à vida.

Um dos nossos…? Esmagado pela armadura de um inimigo caído? Ao comando da Elder Seedseer, cinco soldados juntaram suas forças, levantando lentamente o casco maltratado para libertar a alma infeliz presa abaixo. Mesmo enquanto a massa pesada rolava para o lado, entretanto, se tornou claro que o sobrevivente não havia jurado lealdade a Twin Adder, nem a qualquer companhia da Aliança Eorzeana.
Vestido em armadura do mesmo aço profano do monstro magitek que o sepultou, o jovem Hyur encontrou-se com o olhar de Kan-E-Senna. Ainda um homem não crescido, lá jazia, ensanguentado e surrado neste campo de batalha esquecido pelos deuses. Nophica, tenha misericórdia – ele é apenas um garoto. Forçado a servir contra sua vontade, gostando ou não – ordenado a dar sua vida por uma causa que ele mal entende.
Um robusto Serpent Elezen deu um passo à frente, agarrando o ombro do jovem com um punho cerrado e trazendo o gume de sua lâmina com punho de jade à garganta do garoto.
“Apenas dê a ordem, minha senhora. O rapaz não sentirá dor.”
“Um momento.”
A voz de Kan-E-Senna era suave, mas firme.
“Ele pode ter lutado contra nós no campo de batalha, mas a batalha acabou. Agora ele é apenas uma criança ferida necessitando de cuidados – cuidados que ninguém, exceto nós, pode prover.”
“S-Sim, minha senhora.”
O soldado embainhou rapidamente sua arma, sua expressão cuidadosamente neutra. Empunhando Claustrum, o báculo das lendas esculpido a partir de um caramanchão imemorial, Elder Seedseer deu um passo à frente e concentrou seus pensamentos no jovem ferido.
“Ô guardiões desta terra, deixe o sopro da vida varrer através deste plano para que possa curar o corpo sofrido desta criança, e trazer socorro aos seus ferimentos…”
O que deixou os lábios de Kan-E-Senna como um sussurro cresceu como um eco através das planícies. Uma brisa gentil quebrou a estranha quietude no ar, sibilando enquanto se revolvia sobre o local onde o garoto jazia imóvel. A expressão torturada no rosto do jovem lentamente se dissipou. Seus olhos se abriram por um breve momento, então se fecharam em um torpor sereno.
“O garoto vai viver. Leve-o para a retaguarda e tenha certeza de que ele descanse e receba alimentação.”
“Como desejar, minha senhora.”

Pelos próximos sinos – talvez uma volta completa do sol, ela não sabia dizer – Kan-E-Senna caminhou pelo campo de batalha, cuidando dos feridos. Eorzeano, Garleano, aliado ou inimigo, não importava. Essas pessoas clamam por mim para aliviar sua dor. Abrindo caminho através da carnificina, ela teceu encantamentos que fechariam ferimentos e aliviariam a angústia, trazendo consolo para o sofrimento.
E ainda assim, para cada um que ela salvou, incontáveis outros estavam além de salvação. Olhando para os corpos dos caídos, Elder Seedseer proclamou, “Eles deram suas vidas em nome da esperança.” E a esperança os abandonou, veio a resposta silenciosa. Eles nunca teriam vindo aqui se não fosse por mim.
Como líder de Gridania, uma nação às portas de um território dominado por garleanos, foi Kan-E-Senna quem primeiro contactou seus camaradas em Ul’dah e Limsa Lominsa, dando início aos eventos que levariam à reforma da Aliança Eorzeana. Uma agente que busca harmonia em todas as coisas, a Elder Seedseer nunca teve qualquer desejo de levar seu povo a um conflito sangrento. Serenidade, pureza e santidade – virtudes que ela tanto estimava não podiam ser encontradas nos campos desolados de Carteneau. E ainda assim, que outra escolha havia? A calamidade profetizada não poderia ser simplesmente ignorada – não se Eorzea tivesse alguma esperança de um futuro pacífico. Se houvesse pelo menos uma chance de que pudesse ser evitada, não seria sua obrigação tentar?
Infelizmente, a tarefa se provou além dela. Dalamund havia caído, liberando a terrível vingança de Bahamut sobre a terra, e agora a Sétima Era Umbral estava sobre todos. Apesar de seus melhores esforços, o sonho de esperança de Eorzea deu lugar a um verdadeiro pesadelo.
Kan-E permaneceu em Carteneau por vários dias, procurando pelos poucos sobreviventes restantes e salvando aqueles que ainda podiam ser salvos. Encarando os destroços e ruínas, ela frequentemente pensava nas decisões que havia tomado antes daquele dia calamitoso. O sofrimento e sacrifício deles era inevitável? Realmente não havia outra maneira? Ela não conseguia dizer ao certo.
Nem sua incerteza se limitou a eventos passados. Por se delongar tanto em Carteneau, ela não estava falhando com o seu povo? Seu lugar não era com eles, em Gridania? Eles também estão sofrendo. Em mais de uma ocasião, ela decidiu retornar a Twelveswood, apenas para reconsiderar. Seus irmãos e companheiros Seedseer, A-Ruhn e Raya-O, ficaram para trás para vigiar a floresta, assim como muitos Ouvintes habilidosos e compassivos. Eu confiei neles antes. Devo confiar neles agora. Aqueles que se sacrificaram no campo de batalha o fizeram ao comando dela. Até que eu tenha feito tudo que posso por eles, meu lugar é aqui.
Ela continuou, mal parando para comer ou dormir. Nos rostos dos homens e mulheres que salvou da morte e sofrimento, ela encontrou as forças para continuar. O sol nasceu e se pôs, e um dia se mesclou ao outro. Mas, ao final da primeira semana, as equipes de busca começaram a voltar de mãos vazias. Entre os soldados que ficaram para trás para ajudar no socorro, o moral estava baixo. Eles haviam visto corpos demais de seus camaradas, e seus pensamentos se voltaram inevitavelmente aos amigos e pessoas queridas aguardando seu retorno ao lar.
Eu já pedi demais deles. Está na hora.
Convocando seus oficiais mais experientes a sua tenda, Kan-E deu a tão esperada ordem, “Iniciem os preparativos para a retirada. Nós estamos indo para casa.”
Após seus homens se dispersarem, a Elder Seedseer saiu para a planície devastada uma última vez. Meu trabalho aqui ainda não terminou. Sempre esteve lá, no canto de sua mente, mas estava muito absorta na cura dos feridos para agir a respeito até então. Percorrendo os pedações de sua memória e as correntes aetéricas no ar, Kan-E-Senna percorreu o campo de batalha. Minutos se tornaram horas, sua busca rendendo nada exceto devastação. Eu sei que está aqui. “Arconte Louisoix – mostre-me o caminho.”
As palavras ainda estavam em seus lábios quando ela viu. Ali, aninhado e protegido do vento à beira do penhasco enegrecido. descansavam os restos despedaçados de um cajado.
Tupsimati.
Kan-E reconheceu o grande cajado imediatamente. Mesmo em pedaços, seu poder era evidente. Ela podia sentir as energias aetéricas que irradiavam dele tão intensamente quanto o calor do sol.
Como o cajado havia sobrevivido a fúria do primal ancião, ela não sabia dizer. Parado ali, quase parecia como se a mão benevolente do Arconte a tivesse guiado. Este pensamento serviu para levantar seu ânimo, e esqueceu as pernas doloridas. Sua morte não será em vão, meu amigo. Embora a sabedoria de Louisoix tenha sido perdida para Eorzea para sempre, pelo menos aqueles destinados a perpetuar o seu legado teriam sua relíquia mais estimada.

No dia seguinte, Kan-E retornou para casa, para grande alívio de seus conterrâneos. Gridania não havia sido poupada da ira de Bahamut, e o retorno da Elder Seedseer era uma fonte de muito conforto para todos enquanto lutavam para juntar os pedaços de suas vidas despedaçadas. Fortes eles são diante de tanta adversidade, mas o caminho à frente não será fácil. Enquanto supervisionava a reconstrução de sua casa, Kan-E-Senna se reuniu com dois membros do Circle of Knowing¹ do Mestre Louisoix que ficaram para trás para prover ajuda à Gridania em seu momento de necessidade. Um dia, quando a hora parecia certa, ela se aproximou deles.
“Yda, Papalymo. Meus amigos…”
Kan-E-Senna buscou pelas palavras certas, mas não as encontrou. Segurando uma caixa ornamentada de jacarandá com a marca da Guilda dos Carpinteiros, ela simplesmente assentiu.
“Para nós? Ah, Kan-E, não precisav-.”
O sorriso de Yda congelou no momento em que ela levantou a tampa.
“M-Mestre Louisoix… Eles disseram que ele tinha… Mas… mas eu esperava…”
Kan-E viu lágrimas brotando dos olhos da garota, e, logo após, seus ombros começaram a tremer. Até Papalymo, não conhecido por explosões emocionais, foi incapaz de conter sua dor. E então os três compartilharam um momento de luto pelo Arconte falecido.

O Lalafell foi o primeiro a se recompor. Limpando a garganta, começou a expor sobre a relíquia e suas origens, tanto, Kan-E suspeitou, para distrair quanto esclarecer. Tupsimati, explicou ele, foi criada de uma pedra esculpida com encantamentos antigos e um precioso chifre de osso transmitido desde a antiguidade. Como seu falecido mestre havia dito, o bastão era o farol que convocaria os Doze dos céus e traria a libertação de Eorzea.
“Você nos prestou uma grande gentileza, Elder Seedseer,” continuou Papalymo. “Embora ninguém, exceto Mestre Lousioix, possua o poder de empunhar Tupsimati, estremeço ao pensar no que poderia ter acontecido se ele caísse em mãos erradas. Você pode ter certeza que nós vamos o manter seguro.
“Eu… Eu não tenho palavras para te agradecer,” adicionou Yda. “Se ao menos o Mestre Louisoix estivesse aqui. Ele sempre sabia o que dizer…”
Talvez sentindo que mais lágrimas estavam a caminho, Papalymo rapidamente continuou, “Minha senhora, agora que você retornou em segurança para seu povo, é hora de partirmos. Gostaríamos que pudéssemos ficar aqui por mais um tempo e auxiliar na reconstrução, mas outros assuntos demandam nossa atenção…”
O erudito Lalafell então continuou a explicar que o Path of the Twelve² e o Circle of Knowing¹ deveriam ser unidos como uma única entidade – uma organização que lutaria para realizar o sonho pelo qual Arconte Louisoix deu sua vida: paz em Eorzea.
O reino havia perdido o seu maior campeão, e a ameaça imposta pelos primals, o Império Garlean, e quem sabe o que mais pairava no horizonte. E, no entanto, Kan-E pensou enquanto olhava nos olhos dos dois sharlayans, com almas corajosas como essas para a defender, ainda há esperança para Eorzea.
“Quaisquer que sejam os perigos que possamos enfrentar nos próximos dias e anos, saibam que Gridania sempre estará com vocês.”

***

Cinco anos após aquele fatídico dia, os ferimentos deixados pela Calamidade começaram a cicatrizar em Twelveswood e no reino como um todo. Naqueles raros momentos em que lhe era permitido uma folga de seus deveres, Kan-E-Senna costumava refletir sobre o caminho que ela havia tomado. Você está nos observando daí de cima,? Gridania – eu, fizemos jus ao seu legado?
“Elder Seedseer, o conselho requer a sua presença.”
Kan-E se virou assustada. Diante dela estava um jovem hyur em armadura de couro do mais puro branco – um dos Keepers of the Entwined Serpent³, a guarda de honra pessoal da Elder Seedseer, estabelecida após a Calamidade.

“Meus agradecimentos. Por favor, informe-os que me juntarei a eles em breve.”
O jovem soldado assentiu com deferência. Enquanto se virava para partir, seus olhos se encontraram, e as memórias – sempre transbordando sob a superfície – voltaram à mente, as imagens tão vívidas quanto eram cinco anos antes. Nós o tiramos dos escombros. Ele era apenas um garoto, sozinho e com medo…
“Espere-Eu irei agora. Por favor, acompanhe-me”
“Como desejar, minha senhora.” O jovem fez uma ligeira reverência ao ocupar seu lugar ao lado dela.

Existem poucas feridas que o tempo não pode sarar. Mesmo aqueles que antes estiveram no campo de batalha como inimigos, por meio do esforço e compreensão, podem um dia se encontrar lado a lado,como o mais robusto dos aliados.
Oferecendo uma oração silenciosa ao Arconte Louisoix e aos amigos que ela havia perdido, Kan-E voltou seus pensamentos para os amigos que agora estavam juntos de si, e os compatriotas que se voltavam para ela em busca de sabedoria e socorro. O verdadeiro renascimento deste reino apenas começara.
Enquanto a luz calorosa do sol fluía entre as folhas e descia pelo caminho à sua frente, Kan-E-Senna avançou decididamente. Os maiores desafios ainda estariam por vir, mas devemos nos erguer para os enfrentar – juntos, como um só.



¹ Circle of Knowing: O Círculo do Saber é um grupo de doze pesquisadores e estudiosos conhecidos como Arcontes.

² The Path of the Twelve: O Caminho dos Doze foi uma organização durante o 1.0, e os principais aliados do Aventureiro (player) durante a história.

³ Guardiões da Serpente Entrelaçada

 

 

Fonte: https://na.finalfantasyxiv.com/lodestone/playguide/#side_storyes
Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth

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