FFXIV | Contos da Calamidade: O Caminho da Andarilha

O mundo foi para sempre alterado pela Calamidade e a destruição por ela moldada. Ao longo de cinco pequenas histórias, personagens centrais irão revisitar os eventos que rodeiam aquele fatídico dia, proporcionando um panorama dos efeitos da Calamidade na vida de muitos.

Tales from the Calamity: The Walker’s Path
Contos da Calamidade: O Caminho da Andarilha

Brancas e vermelhas. Uma agitação de pétalas, caindo céu adentro. Como chuva retornando às nuvens.
Por favor volte para mim, Pai. Por favor…
Incenso e unguento. Não consigo respirar… Ela esperou pelo o subir e descer acusador de seu tórax. Olhos fechados, quase como se estivesse dormindo. Quase. Eu não estou pronta para dizer adeus.
Queimando. O sol do deserto queimava sua nuca enquanto ela cerrava os punhos e encarava os mentirosos.
Seu pai a havia alertado que Ul’dah era perigosa – que eles precisavam ser discretos e evitar chamar atenção desnecessária. No fim, entretanto, não foi um agente imperial que tomou a sua vida, mas um goobue, liberto de seus grilhões mágicos durante um desfile. Um acidente. Minha culpa.
“Eu sinto muito, Ascilia. Eu nunca imaginei… Nós nunca quisemos que…”
Culpa dela.
“Eu sei que este é um erro que não pode ser acertado, mas irei fazer quaisquer compensações possíveis, isso eu juro a você.”
Assassino. Havia sido um esquema deles. Eles parariam o goobue e se tornariam heróis para o povo. Ninguém deveria morrer. Mas você vai. Todos vocês.
Mesmo assim F’lhaminn resistiu a suas ameaças e a segurou mais forte. Mesmo quando te machuca fazer isso. E apesar do ódio que preencheu seu coração não ter desaparecido, ele deu lugar a outra sensação – um ardor que Ascilia pensou haver ter perdido.
Mãe. Foi exclusivamente para manter a ficção. Os espiões-mestre garleanos ainda procuravam Ascilia pela traição de seu pai, mas ninguém procuraria por “Minfilia”, uma orfã Ala Mhigan adotada por uma mulher Ul’daniana buscando preencher o vazio deixado pela morte de seu amado. Apenas mais uma mentira, ela disse a si mesma. Tecida em uma verdade, mas uma mentira da mesma forma.
E então, um dia, não era mais.

“Um presente de aniversário para a minha querida Minfilia. Tardio, eu sei, mas na minha profissão atrasos inesperados são muito esperados.”
O barulho de conversas no Quicksand mascarou a chegada do bardo. Minfilia guardou rapidamente os restos de sua reminiscência e se voltou para ele.

Perpetuamente de passagem, Thancred entrava e saía lentamente da vida de Minfilia por anos. Ele tinha dezessete quando se encontraram pela primeira vez – cinco anos mais velho que ela. Assim ele disse. Seu comportamento despreocupado escondia muitos segredos, principalmente sua habilidade com uma lâmina. A maneira que ele batalhou com a criatura que matou seu pai era prova disso. Claramente, ele preferia uma abordagem mais sutil quando as circunstâncias permitiam.
“Minfilia?”
É um nome tanto dele quanto meu. Minfilia pensou ironicamente. Ele praticamente o havia escolhido. Enquanto sentavam juntos no extremo mais quieto do bar, ela percebeu a intimidade da conivência entre eles, e sentiu um rubor subindo por seu pescoço.
O pacote que ela havia recebido pelo seu décimo oitavo aniversário continha uma adaga de mithril e uma missiva selada. “Do meu mentor,” Thancred explicou. “O homem responsável por transformar um wharf rat Lomisano no modelo ideal da virtude a sua frente.”
Minfilia ergueu uma sobrancelha. “E quantas jovens donzelas o dito modelo ideal da virtude deflorou desde que chegou a Ul’dah, poderia dizer?”
Thancred sorriu e gesticulou para a missiva nas mãos de Minfilia. A quem devo o prazer, ela se perguntou, desdobrando o pergaminho. As palavras estavam escritas em letras elegantes e fluídas.
“Você andou pelas memórias de outros, não é mesmo?”
Ela recuou para longe de Thancred, o pergaminho amassado em uma mão enquanto a outra procurava o cabo da adaga de mithril. “O que você disse a ele?” indagou.
Em um momento de fraqueza, Minfilia confidenciou a Thancred sobre suas visões – fragmentos do passado que havia começado a vislumbrar um ano antes. Ninguém mais sabia o que ela havia visto. Ou que tenha escutado a voz Dela.
Se o bardo ficou surpreso com a reação, não o demonstrou. “Continue lendo,” ele disse calmamente. “Até o fim, peço apenas isso”
É predito que no auge de uma Calamidade Umbral, indivíduos abençoados com o poder do Echo aparecerão,” a carta continuou. “Durante a Sexta Era Umbral, quando as águas subiram para engolir a terra, cada um dos doze Arcontes que lutaram contra a escuridão carregavam esta benção.
Minfilia ergueu o rosto e encontrou Thancred a encarando. Ele se virou abruptamente.
As histórias pintam um quadro fantástico dessas almas altruístas. Através dos incontáveis relatos, os feitos dos Arcontes se tornaram mitos, seus poderes mais semelhantes aos dos deuses do que homens. Entretanto, há duas coisas das quais agora estou certo. Primeiro, a habilidade deles, o Echo, concedeu-lhes o poder de caminhar no interior da memória de outros. Segundo-
Apesar de Minfilia saber como a sentença terminaria, sua respiração travara na garganta enquanto lia as seguintes palavras de Louisoix Leveilleur.
Você foi abençoada com o mesmo poder.
Após um tempo, ela falou. “Ele não pode estar falando sério.”
“Ele está,” Thancred respondeu. Pela primeira vez, a voz do bardo estava desprovida de afetação. “Mestre Louisouix acredita que estamos à beira de uma Calamidade Umbral, e que seu dom é a chave para garantir nossa sobrevivência.”
Feliz aniversário, pensou Minfilia, entorpecida. Em um silêncio atordoado, ela escutava enquanto Thancred prosseguiu à revelação de que ele era de fato um membro do Circle of Knowing, uma organização fundada pelo seu mentor sharlayano para prevenir a vinda da Sétima Calamidade Umbral. Ele e seus colegas foram despachados para os três centros de poder de Eorzea para promover esta causa por quaisquer meios necessários. Um mentiroso, ela pensou. Mas isso estava claro desde o princípio.
“Como você vai usar o seu dom é sua decisão,” ele concluiu. “Você não tem obrigação conosco, nem com Eorzea. Mas, para o bem ou para o mal, este é o seu legado. Não pode fugir dele mais do que poderia de si mesma.”
Ela mordeu seu lábio. Eu não estou pronta para encarar isto.
Mas eu vou.

Por mais que estivessem separados por longas distâncias, Minfilia e Louisoix procuraram por uma resposta juntos, mas não sendo nenhuma erudita, Minfilia buscou conhecimento por outros modos.
Há mais pessoas como eu, mas diferentes,” ela escreveu para ele. “Nós vagamos nas trevas sozinhos, mas se nos juntarmos e compartilharmos nossas experiências, nós talvez venhamos a entender o Echo – talvez até mesmo o controlar.
Uma ideia esplêndida, e mesmo assim, cheia de perigos,” Louisoix alertou. “Como bem sabe, homens tendem a temer os privilegiados. Prossiga com cuidado, minha criança, e não permita que suas verdadeiras intenções sejam conhecidas.
Minfilia não pôde deixar de sorrir. Esta criança é mais esperta do que você pensa.

Para os de fora, o Path of the Twelve era apenas mais um no oceano de seitas religiosas obscuras devotas à busca de conhecimento espiritual. Sua carismática Antecedente, a Lady Minfilia, liderava um pequeno mas dedicado grupo de “walkers”, assim chamados por sua resolução de trilhar o caminho com ela. Uma mentira tecida com a verdade.
O Circle of Knowing foi de grande ajuda naqueles primeiros dias, particularmente na identificação daqueles que haviam despertado ao Echo. O contingente aumentou, e dois anos depois dela ter aprendido o nome do seu dom começou a educar outros em seu uso.
E assim os dias se passaram, alguns mais rápidos que outros, a ordem cresceu, e com isso, sua missão expandiu. Assim como os riscos. Houve dias de celebração; de sofrimento; de espera; de acolhimentos e despedidas… Algumas vezes todos ao mesmo tempo.
Nael van Darnus está morto. Deveria ter acabado. Sozinha no Hall of First Step, Minfilia andava de um lado para outro. Ao alto, a lua menor Dalamud continuava sua queda em direção a Eorzea, aparentemente indiferente à morte do chefe do projeto Meteor. Nada mais pode ser feito?
Como se para responder a questão, um gentil bater na porta surgiu. O Elezen grisalho que entrou não era exatamente o que ela havia imaginado quando escreveu o convite. Ele está mais velho agora, ela pensou. Como todos nós.
“Arconte Louisoix. É uma honra o conhecer enfim,” ela começou. “Apesar de que depois de dito, isso parece.. errado, de alguma forma.”

“Certamente, sim,” Louisoix respondeu. Enquanto ela mantinha fixo o olhar, um leve sorriso se espalhou através da face desgastada pelo tempo do Arconte, e o par caiu em uma gargalhada abafada, mas sincera.
Eles falaram de dias melhores e colegas queridos, de descobertas excitantes e feitos compartilhados. De maneira natural. Não forçada. É como se nos conhecêssemos desde sempre. Como se fôssemos uma família.
Gradualmente, a conversa desacelerou. Não mais eles podiam adiar o assunto em questão, pois a hora do acerto de contas estava à frente deles. “Então…e agora?” Minfilia começou.
Louisoix balançou a cabeça. “Agora devemos seguir caminhos diferentes. Onde eu vou, você não pode seguir.”
O plano do Arconte era convocar os Doze usando artes proibidas conhecidas somente por ele. Com suas forças combinadas, ele estava certo de que poderia evitar a queda da lua menor. Dada força, no entanto, representava um risco por si mesma. Se as divindades protetoras de Eorzea assumissem forma física muito provavelmente estariam propensas aos mesmos desejos dos deuses das tribos de Eorzea. Caso isso se tornasse verdade, sua mera presença privaria a própria terra da vida. Então Louisoix, ao invés disso, invocaria uma fração do poder dos Doze – o suficiente para impedir a queda de Dalamud e nada mais.
“Parece um equilíbrio delicado a ser atingido. Você tem certeza de que pode o fazer?”
A voz de Louisoix estava distante. “Talvez não. Mas os Doze não podem pôr os pés em solo eorzeano.” E assim, de cabeça abaixada, ele a contou do resto.
Não. Minfilia estremeceu, sentindo-se repentinamente fraca e com frio. Ela teve de lutar contra o impulso de esfregar os braços. “Não há realmente nenhum outro modo?”
“Nenhum tão confiável.” Ele colocou a mão em seu ombro. “Se eu não retornar, os outros precisarão de você. Você precisa estar preparada para os liderar.”
Mas eu não estou pronta. Ela se virou, fechando os olhos como uma tentativa de conter as lágrimas. “Eles sabem o que você pretende?”
“Eles sabem o bastante.” Ele deu um passo à frente. “Dias mais sombrios pairam a nossa frente. Porém saiba que onde há trevas, sempre haverá luz.” Sua voz era suave e reconfortante. A voz de um pai. “Você verá a verdade nisso, Minfilia, quando alguém que carrega a luz se apresentar perante a você. Uma pessoa com uma habilidade, como você. Juntos, vocês saudarão o amanhecer.”
Minfilia se voltou para Louisoix mais uma vez. No azul suave de seus olhos brilhava o aço frio. Ela sustentou o seu olhar até onde pôde.

Por favor volte para nós. Por favor…

Após a Calamidade, Minfilia e Thancred convocaram os membros sobreviventes do Path of the Twelve e do Circle of Knowing para uma reunião conjunta. A medida que Minfilia compartilhava os desejos do falecido Louisoix Leveilleur, todos os presentes escutavam em serena solenidade, e quando ela solicitou objeções à união, nenhuma foi apresentada.
“Doravante, seremos conhecidos como os Scions of the Seventh Dawn,” ela declarou, e todos concordaram que era um nome adequado.

Em tempos de dificuldade, ela frequentemente contemplava os fragmentos de Tupsimati, entesourados na parede de sua sala no novo Waking Sands. O que lhe deu forças, ela se perguntava. Quem lhe guiou pela escuridão? Por cinco anos ela cumpriu fielmente os desejos dele – por cinco anos ela manteve a fé e acreditou em suas palavras.
Cinco anos gastos trabalhando, observando, esperando. Mas não em vão. Pois quando o aventureiro entrou na sala para saudar os Scions, ela soube imediatamente.
Eu estou pronta.

 



 

Fonte: https://na.finalfantasyxiv.com/lodestone/playguide/#side_storyes
Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth

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