FFXIV | Contos da Calamidade: Os Sete da Sultana

O mundo foi para sempre alterado pela Calamidade e a destruição por ela moldada. Ao longo de cinco pequenas histórias, personagens centrais irão revisitar os eventos que rodeiam aquele fatídico dia, proporcionando um panorama dos efeitos da Calamidade na vida de muitos.

Tales from the Calamity: The Sultana’s Seven
Contos da Calamidade: Os Sete da Sultana

Nanamo assistiu aos Immortal Flames marcharem para fora de Ul’dah do seu terraço particular. A armada saiu da cidade através do Gate of Thal ─ uma saída que simboliza a passagem para a vida após a morte ─ com esperanças de burlar a morte no campo de batalha. Multidões acumularam-se pois que Ela estava lá, parada e paralisada diante da balaustrada enquanto Raubahn pressionava suas esporas contra seu corcel, e lá ela permaneceu por muito após que a poeira houvesse assentado pelo caminho da retaguarda. Ela havia se preparado para este momento, porém quando ele finalmente chegou, percebeu que sua coragem havia a desertado igualmente. De súbito, a realidade de seu isolamento tornou-se clara, e o mero pensamento disso a fez se esforçar para recuperar o fôlego. Estou sozinha… Que os deuses me dêem força.

Com o passar dos dias, o peso da responsabilidade e da incerteza começou a mostrar-se. As noites de Nanamo eram passadas em claro. Nem mesmo seus pratos favoritos passavam por seus lábios, e suas redondas bochechas de Lalafell tomaram um formato oco. Era claro que, independente dos melhores cuidados de suas damas de companhia, sua saúde começou a falhar. Ela fez-se um fantasma de si mesma, e seus deveres foram deixados de lado.

Quando uma dificuldade apresentava-se, ela pensava invariavelmente, Se ao menos Raubahn estivesse aqui, maldizendo sua própria fragilidade assim que o pensamento tomasse forma. Ela sabia muito bem que, como um Flame General, o lugar de Raubahn era com o exército em Carteneau Flats. Era o trabalho dele liderar os seus homens na batalha contra a VIIª Legião Imperial. Logo terei completado dezesseis verões. Não posso continuar dependendo dos outros para sempre. Cedo ou tarde, precisarei caminhar com meus próprios pés. Apenas espero ter força.

Mais uma refeição chegara e se foi, intocada. Retirando-se da sala de jantar, Nanamo mirou como quem pedia desculpas à sombra silenciosa que era Pipin Tarupin, o filho adotivo de Raubahn e oficial da Immortal Flames. Ela não conseguia deixar de se sentir responsável por negar-lhe a sua vontade —, já que fora confiado aos seus cuidados durante a ausência do Flame General. Diligente como era, Pipin nunca admitiria, mas Nanamo sabia que ele preferia estar lutando junto aos seus companheiros de armas em Carteneau. E para que? Embora Pipin fosse o filho de seu pai, era claro para os dois que era do pai que ela precisava.

E então os dias se arrastaram, cada um se desmanchando no próximo, até que, enfim, a hora do julgamento chegou.

“Mensagens de Mor Dhona, Sua Graça! Nos juntamos à batalha!” Nanamo estava nas Fragrant Chambers, ao meio de uma audiência privada com Thancred do Circle of Knowing quando Pipin adentrou-se de repente com a notícia. Um fraco “Entendo” foi tudo que ela conseguiu responder. Ao passo que Pipin empenhava-se para esconder sua decepção, Thancred foi rápido ao declarar como se sentia.

“Com todo o respeito, Sua Graça, mas eu esperava por algo um pouco mais vibrante.” Desde que concordara em servir como conselheiro ao sultanato, o autoproclamado bardo fez da corte como se fosse sua casa, tornando-se cada vez mais irreverente no processo. “Da última vez que eu vi, seu povo precisava de você.”

“O que raios um fantoche incapaz como eu poderia fazer!?” Nanamo retrucou, arrependendo-se imediatamente de sua petulância.

O bardo não desmotivara-se, entretanto, e respondeu com atípica robustez. “Você não é incapaz, Sua Graça. Você pode orar pela salvação de Eorzea.”

Orações? Ela pensou. É a esse ponto que chegamos? Mas é claro que sim. Ao tempo em que conversavam, Dalamud se aproximava. De acordo com Arconte Louisoix, apenas com o poder dos Doze a lua menor poderia ser retornada aos céus, e era para isso, permitir que o ritual de invocação continuasse sem contratempos, que os soldados da Aliança Eorzeana — Raubahn em meio a eles — agora guerreavam em Carteneau.

Thancred continuou, sua voz agora tomando um tom mais gentil. “Se você orar, o povo bem como fará. E a força combinada de sua fé carregará seus apelos pela salvação de Eorzea aos céus.”

Um momento passou em silêncio. Se orar é tudo que posso fazer, então o farei de todo o coração. Recompondo-se, ela assentiu, levantou-se de seu assento e direcionou seus passos ao Arrzaneth Ossuary.

Ao chegar no templo, Pipin ajudou Nanamo a ajoelhar-se e montou guarda enquanto ela orava. No distante oposto da cidade, em Milvaneth Sacrarium, Thancred estava fazendo nada mais que o mesmo, ela sabia. Ó deuses de meus ancestrais, livrai-nos da destruição. Ó deuses de meus ancestrais, tragam-me Raubahn de volta em segurança.

Após algumas horas de reza, o caos irrompeu como um vulcão. O Ossuário tremeu violentamente, como se tivesse sido atingido pelo punho de um gigante, o que fez Pipin aproximar-se ao tempo em que os destroços caíam perto deles. Guinchos aterrorizados ocupavam suas orelhas, porém Nanamo não cedeu ao pânico. Em desafio ao tumulto ao seu redor, ela orou com tudo de si.

Sua determinação fora rapidamente recompensada. O pedestal de pedra que carregava a marca do Dusk Trader começou a brilhar. Momentos depois, um pilar de luz emanou da superfície do pedestal, envolvendo a imagem de Thal que pairava ali e iluminando toda a extensão do saguão. Naquele instante, Nanamo sentiu a presença do divino. Enquanto se deleitava com a sensação, uma familiar voz ecoou em sua mente. “Que Eorzea renasça,” a voz dizia. Louisoix, pensou, e de mais nada sabia.


Nanamo acordou e viu-se deitada de bruços no polido chão de pedra do Ossuário. Passos ecoaram ao seu redor. Com o canto do olho, ela viu Pipin apoiar-se sobre o joelho, pelo visto com dificuldades de se livrar do mesmo torpor que a dominava. A Sua luz divina esvaiu-se, ela constatou vagamente. Contente ao mirar o pedestal de pedra, ali ela permaneceu, imóvel.

Um brado esganiçado a trouxe de volta de seus devaneios. “Manifestantes na Sapphire Avenue! Caminham em nossa direção!”

A face de Pipin foi tomada por consternação. “Sua Graça, não podemos nos retardar! Devemos retornar ao palácio de imediato!”

“Eu não me esconderei enquanto meu povo sofre!” A resposta ascendeu aos lábios dela espontaneamente, com celeridade que surpreendeu até a ela mesma. Pondo-se de pé, ela inspecionou seus arredores. Figuras encapuzadas espalharam-se por todos os lados, carregando preciosos tomos e artefatos. No átrio do alvoroço, um pequeno, porém imponente, ser pregava ordens. Nanamo o reconheceu como Mumuepo, Sumo Sacerdote da Ordem de Nald’Thal e Mestre da Guilda dos Taumaturgos.

“Não podemos permitir que esses arruaceiros maculem o Ossuário!” Vociferou o homem, vigorosamente. “Incinerem qualquer um que seja tolo o bastante para chegar perto!”

“E você se considera um homem do clero!?” Controlando sua fúria, Nanamo dirigiu a palavra a todos presentes. “Nossos cidadãos estão à mercê do medo. Eles desejam apenas por uma voz da razão que os traga de volta aos seus sentidos. Quem entre vocês me ajudará?”

Pipin deu um passo à frente, como Nanamo sabia que ele faria. “Embora eu seja apenas um medíocre substituto de meu pai, vivo apenas para servi-la, minha sultana. Por favor, comande-me como for necessário.”

Próximo veio Papashan dos Sultansworn, acompanhado por cinco taumaturgos da guilda ─ Lalafells todos, além de irmãos. Nenhum outro respondeu ao chamado da sultana, no entanto. Apenas sete, ela lamentou ao fazer um balanço de seus voluntários. Mas eles serão o suficiente. Terão de ser.

Com os dentes cerrados, Nanamo saíra em direção às desoladas ruas de Ul’dah. Por conta própria, sua escolta montada às pressas formou um anel protetor ao seu redor, e, juntos, arrastaram-se em meio aos escombros e à fumaça. Não importava a qual direção olhasse, um homem estaria gemendo com as pernas esmagadas por uma tonelada de pedra. A condição penosa deles partia seu coração, porém ela não podia parar por eles. Primeiro ela havia de conter a manifestação, caso contrário, não haveria qualquer alívio duradouro. Eu voltarei a todos vocês. Eu prometo.

À medida que o grupo de Nanamo se aproximava da Emerald Avenue, a aglomeração de manifestantes surgiu à vista. Comércios e moradias foram depredados e saqueados ao longo do caminho do tumulto, enquanto os ocupantes fugiam para salvar suas vidas. Intrépida, Nanamo prosseguiu até onde sua voz seria audível aos ouvidos da em avanço populaça, onde ela parou, respirou profundamente e iniciou sua missão.

“Papashan! Eu preciso da atenção deles!” Assentindo com a cabeça, o já de idade paladino produziu um clarão ofuscante que deixou os desordeiros estupefatos. Muitos, entretanto, continuaram o tumulto, inabalados.

“Taumaturgos! Ponham os céus em chamas!” Em uníssono, os cinco irmãos Lalafell dispararam uma enxurrada de feitiços aéreos em advertência. Dentre eles, o feitiço mais impressionante foi o lançado pelo irmão com a face enfaixada. Os manifestantes que ainda não haviam tornado a atenção a Nanamo, agora o fizeram. Satisfeita, Nanamo voltou-se a Pipin. “Empreste-me suas costas.”

Com voz retumbante que desmentia seu tamanho, Nanamo dirigiu a palavra ao povo. “Prestem atenção, meus amados cidadãos!” Ela começou. “Eorzea está à beira da Sétima Era Umbral. Mas, enquanto estivermos vivos, não podemos nos deixar esquecer de nossa compaixão. Agora não é a hora de rapinar de seu vizinho, mas sim de oferecer-lhe a mão em socorro.

“Os corajosos homens e mulheres da Immortal Flames arriscam suas vidas para que nós continuemos as nossas. Seria o desejo de vocês que eles retornem a uma Ul’dah que desolou a si própria?” Olhares envergonhados manifestaram-se nos rostos manchados por cinzas. “Apenas peço… Se unirmos as mãos por uma causa comum, não há dificuldade alguma que não possamos superar. Unidos, tratemos das feridas de nossa nação ─ do lar que compartilhamos!”

Ao ouvirem as palavras sinceras de sua sultana, a loucura começou a esvair-se dos olhos dos manifestantes, dando luz ao brilho da razão. Pouco depois, o semblante da ordem retornou à cidade e os esforços de socorro organizado iniciaram-se a sério.


Alguns dias depois, o que sobrou dos Immortal Flames marchou de volta a Ul’dah, adentrando a cidade pelo Gate of Nald. Por mais que feridos e exaustos estivessem os soldados, ainda tinham lares para onde poderiam retornar. Ao meio das reconstruções, Nanamo decretou a remoção de todos os títulos oficiais e privilégios que os acompanham de Mumuepo. Embora o ato fosse algo ordinariamente além de sua autoridade, foi feito possível devido às peripécias sagazes por parte de Pippin. Evidências de corrupção desenfreada foram encontradas, essas que incluíam o sumo sacerdote, e a ordem teve pouca escolha além de acatar à vontade da sultana. Substituindo o encarcerado Mumuepo, os cinco irmãos Lalafell foram nomeados mestres conjuntos da Guilda dos Taumaturgos.

Durante os meses e anos que seguiram, Nanamo relembrava os eventos daquele fatídico dia com frequência. Eu não sou incapaz, ela costumava se lembrar. Existem coisas que até mesmo um fantoche pode realizar. Se ela conseguiu cumprir seu dever como sultana em meio à Calamidade, certamente poderia cumprir a tarefa que estava por vir.



Fonte: https://na.finalfantasyxiv.com/lodestone/playguide/#side_storyes
Traduzido por Nyel Art @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth

Author: Andrew Simmons
(Ou Andrew, ou Andrio, ou André) White Mage, programador, tenta escrever, não gosta de pipoca, não sabe usar o twitter, viciado em Final Fantasy, facilmente impressionável, ajuda todo mundo e bebe café ao invés de água.

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