Tales from the Dragonsong War: Words, Deeds, Beliefs
Contos da Dragonsong War: Palavras, Ações, Crenças
“Quando me propus a masterizar o salto do dragoon, não foi para instilar medo no coração das frutas da copa das árvores.”
Alphinaud soltou uma leve risada ao se lembrar do aborrecimento de Estinien.
Nos dias desde que o dragoon desapareceu de seu quarto de repouso, ele se viu com uma superabundância de lazeres. Pegando-se traçando descuidadamente os padrões no teto de seu quarto em Fortemps Manor, fechou os olhos e soltou um suspiro. Outra noite sem dormir.
Resignado, ele se levantou da cama e foi até a grande escrivaninha de carvalho. Afundando-se na cadeira, pegou o diário com capa de couro que começara a escrever há muito. Quando vi minha arrogância e vaidade pelo o que eram–naquele momento, nas profundezas do meu desespero–ele falou comigo.
“Você está satisfeito em permanecer uma lâmina quebrada? Não há chama quente o bastante para o reforjar?”
Talvez não. Um rubor subiu por seu pescoço enquanto fechava os olhos e se lembrava das palavras gentis que Lorde Haurchefant lhe dissera e do rosto corajoso que assumira na época. Velhos hábitos. E então deixaram para trás Falling Snow, embarcando na jornada que mudaria tudo. Até eu–embora lentamente.
Embora Eorzea inteira olhasse para o aventureiro como um herói, para Lorde Haurchefant o grande Warrior of Light era acima de tudo um amigo. E o sentimento era claramente mútuo. Almas familiares. Como o Warrior of Light, o cavaleiro viveu para servir. Para proteger. Para sacrificar. Pois não há chamado maior.
Embora ele os tivesse recebido de braços abertos, só mais tarde Alphinaud compreendeu a verdadeira profundidade do amor do cavaleiro por seus amigos e por sua nação. Como isso os salvaria, como o salvaria. Muito tarde.
Logo, no pacífico interlúdio após o fim da guerra, ele retornou ao memorial no topo do penhasco com vista para a capital, e lá disse ao vento do norte tudo que havia falhado em falar antes.
Abrindo seus olhos, Alphinaud retornou o olhar ao diário que jazia à sua frente e começou a folhear as páginas. Instantaneamente, sua mente foi transportada de volta ao tempo em que os quatro, cada um vindo de um diferente estilo de vida, haviam tomado a estrada em uma jornada impossível.
“Quão levianamente você propõe a destruição deste deus. Já ocorreu a você que pode estar enviando o Warrior of Light para a morte?”
As palavras de Estinien doeram mais do que um tapa na cara. Apenas seu avô ou Alisaie poderiam ter sido tão bruscos. O que você teria dito, querida irmã, se estivesse lá para me ouvir, o comandante supostamente reformado do Crystal Braves, enviar alegremente outro em meu lugar, tendo recentemente decidido lutar minhas próprias batalhas?
E ainda sim ele lutou. E ainda assim ele lutou… e se ressentisse de mim por isso, não o culparia.
Alphinaud se viu andando de um lado para o outro enquanto esperavam Ysayle e o Warrior of Light retornarem triunfantes de Loth ast Gnath. Naquela eternidade, Estinien o observara, às vezes com o rosto impassível, outras vezes com uma expressão estranha. Ele irá retornar para nós. Ele sempre retorna…
Alphinaud Leveilleur. Palavras eram suas armas–seu intelecto, seu raciocínio, sua inteligência. Presentes do meu avô a mim, como tudo mais. Alphinaud Leveilleur. Ali, apenas pelo nome, os homens o ouviam–respeitavam-no. O que você fez com as próprias mãos?
Alphinaud. Não um homem que sacrifica seus amigos e família por uma causa, mas alguém que luta com eles–por eles. Qualquer coisa a menos seriam palavras vazias e promessas ocas.
“Mestre Alphinaud possui um raro talento para as artes arcanas. Se continuar a se dedicar aos estudos se tornará um mago formidável com o tempo.”
Embora ele tivesse treinado nas aplicações marciais, sempre foi puramente como incentivo acadêmico. Mas com o incentivo de Ysayle, decidiu buscar uma educação mais prática. Talvez não hoje, nem mesmo amanhã, mas um dia… um dia estarei ao seu lado.
Alphinaud virou a folha e sua respiração ficou presa na garganta.
Acampamos em uma clareira não muito longe de Zenith e, amanhã, esperamos nos encontrar com Hraesvelgr. Ysayle cuidou de nossa refeição noturna e todos concordaram que seu guisado era o melhor que já havíamos provado. Da minha parte, juntei a lenha necessária, tendo o cuidado de lembrar das instruções de Estinien…
Uma parte de mim ainda luta para acreditar que chegamos até aqui. Que tratamos com dragões… e até mesmo uma distante tribo de moogles! E que Estinien não dera uma surras nestes. Mesmo assim, caso ele tivesse tentado, o Warrior of Light teria inevitavelmente intervindo. Se ao menos eu tivesse tanta força e coragem.
Até algumas luas atrás, eu estava sumariamente confiante em minhas próprias habilidades–convencido de minha própria superioridade–apenas para mostrar, muito claramente, quão ignorante e impotente realmente sou. Eu disse isso antes, mais cedo, quando estávamos reunidos ao redor do fogo…
No fim, Ysayle recebeu minha confissão com muito mais simpatia do que esperava. “Todos somos culpados de ignorância semelhante,” ela me disse.
O que importa, então, é que almejemos substituir nossa ignorância por conhecimento, enquanto permanecemos fiéis às nossas convicções.
Apenas se fosse assim tão fácil…
Uma batida suave atraiu seu olhar do diário para a porta, de onde uma centelha de lamparina se alargava lentamente.
“Mestre Alphinaud?”
Fechando o diário, ele se levantou e virou para cumprimentar o conde anterior.
“Parece-me que não sou o único insone nesta noite,” Edmont sorriu. “Pessoalmente, acho que um copo morno de chá de ervas pode possivelmente funcionar de maneira maravilhosa nesses momentos. Você se juntaria a mim para uma xícara?”
“Seria uma honra.”
Enquanto caminhavam em direção à cozinha, Alphinaud compartilhou alguns dos pensamentos nascidos de sua insônia com Lorde Edmont, que assentiu compreensivelmente. Ao chegar, o nobre recusou a assistência do único criado presente, instruindo-o a entregar cobertores extras às câmaras dos Scions. Lorde Edmont então começou a aquecer a água e preparar uma mistura que Alphinaud não reconheceu imediatamente. Quando indagado, explicou que era feito de raízes de lírios Nymeia¹.
“Uma planta difícil,” observou Alphinaud.
Lorde Edmont sorriu brevemente e nada disse.
Eles aproveitaram o chá em silêncio. Diversas vezes Alphinaud pensou em falar, mas se via incerto do que dizer. E logo a xícara estava vazia.
“Devo agradecer-lhe mais uma vez pela mais generosa hospitalidade,” finalmente começara.
“Muito feliz por estarmos em sua companhia,” veio a resposta, com uma prontidão que surpreendeu Alphinaud. “Que a Fúria vigie e mantenha você seguro em sua jornada.”
Ele sabe.
Colocando gentilmente a xícara e o pires na mesa, Lorde Edmont o encarou e sorriu. “Você é um bom homem, Alphinaud Leveilleur”, disse ele, e saiu.
Sozinho, Alphinaud tornou a encher sua xícara e tomou outro gole. Um esboço amargo. Estremecendo, pegou o mel mais uma vez, mas parou quando os fragmentos dançantes da raiz do lírio Nymeia no chá por acaso chamaram sua atenção.
Sentado à sua mesa mais uma vez, Alphinaud retornou ao diário e às memórias nele contidas. Ao ver as palavras “Falcon’s Nest”, estremeceu. Que eu tenha vivido para ver os emissários de dragões e homens se encontrarem–apenas pela promessa de paz entre seus povos ser dilacerada pelo avatar de sua vingança.
A armadura carmesim do dragoon era inconfundível, assim como os olhos massivos e trêmulos fundidos ao seu braço e ombro. Em um único movimento fluído, Sir Aymeric agarrou o arco, puxou e disparou uma flecha no coração de seu amigo mais querido. Ele sabia o que precisava ser feito e o fez. E naquele instante, sabia que eu não poderia.
Nem mesmo o Warrior of Light.
Então colocamos as mãos naquelas coisas terríveis e puxamos. Puxamos com toda a nossa força, mesmo enquanto nossos corpos gritavam em agonia. E quando nossos braços vacilaram, assim como nossas esperanças se desvaneceram, de onde veio a força para o libertar?
Por aqueles que perdemos. Por aqueles que ainda podemos salvar.
“Onde uma vez ansiava por vingança, agora anseio por descanso.”
A enfermaria estava vazia quando voltaram da investidura de Sir Aymeric, exceto por um vaso de lírios Nymeia e a armadura carmesim que Estinien havia renegado. Apesar de todos os protestos, ele não teve forças para sofrer todos os agradecimentos sinceros e despedidas chorosas. E foi assim que Alphinaud Leveilleur mais uma vez falhou em dizer o que estava em seu coração–falhou em agradecer a um homem que não se importava nenhum pouco com seu nome ou posição. Um homem que me tratou com severidade, mas com justiça. Um verdadeiro amigo e camarada. Um irmão.
Pela manhã, Alphinaud partiu, diário em mão, em uma peregrinação para refazer seus passos pelo norte. Viajando sozinho, foi surpreendido por bandidos e feras em certas ocasiões–mas ele não era o garoto de antes e facilmente se defendia com magias agora bem praticadas.
Depois de um tempo, chegou mais uma vez ao pico de Sohm Al, depois a Zenith. Lembrou da primeira vez em que esteve diante de Hraesvelgr, como a terra tremeu quando ele desceu dos céus para pesar o valor dos homens. Lembrou das palavras do dragão ancião e de tudo que colocaram em moção. O Aery. O Vault…
E assim Alphinaud chegou mais uma vez a Azys Lla.
Ali, na beira da área de desembarque, avistou um buquê de lírios Nymeia. Estinien. Não tinha como saber, mas sabia.
Nós quatro, cada um vindo de um caminho da vida diferente, que pegamos a estrada em uma jornada impossível… O que quer que possamos ter sido no início–no fim, éramos amigos.
E nós vamos nos encontrar de novo.
Fechando seu diário, Alphinaud terminou seu chá de ervas e se retirou para a cama. Depois de tirar um momento para se alongar, juntou as mãos e as pousou sobre o peito, voltando os olhos sonolentos para o céu azul-celeste. Antes que o sono o tomasse, um pensamento veio espontaneamente.
Um buquê de lírios para aqueles que perdemos. E para os que ficam…
Ele sabia.
Enquanto Alphinaud ali jazia, não pôde deixar de sorrir.
1 Lírios de Nymeia são conhecidos por serem usados como uma oferta aos que já se foram, sendo normalmente colocadas em seus túmulos (confira o evento de aniversário de 8 anos de FFXIV que aborda um pouco mais sobre essa flor).
Fonte: https://na.finalfantasyxiv.com/lodestone/playguide/#side_storyes
Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth