FFXIV | Contos da Dragonsong War: Pelas Moedas e o País

Tales from the Dragonsong War: For Coin and Country
Contos da Dragonsong War: Pelas Moedas e o País

Nanamo não soube das circunstâncias acerca de seu estranho torpor até três dias após ter acordado.

Foi Papashan quem finalmente a revelou a verdade. Embora o Sultansworn aposentado não mais fosse seu guarda-costas—uma posição que ocupava desde que a sultana era uma criança—nunca havia renunciado totalmente ao papel. Em um primeiro momento, Nanamo não podia fazer mais do que ouvir cada revelação chocante de maneira perplexa e atordoada. Mas quando Papashan descreveu a perda do braço de Raubahn, e as acusações feitas contra os Scions of the Seventh Dawn, foi tomada por fúria e exigiu que Lolorito fosse trazido para enfrentar julgamento imediato.

Dito isto, Papashan balançou a cabeça. “Eu sugiro que primeiro permita que Lorde Lolorito explique seus motivos, Sua Graça,” disse calmamente. “Nada de bom vem de tirar conclusões precipitadas.”

 

No dia seguinte, Nanamo convocou os membros mais importantes do Sindicato para a Fragrant Chamber—Lord Lolorito Nanarito, o suposto mentor dos recentes eventos; Flame General Raubahn Aldynn; e Dewlala Dewla, chefe da Ordem de Nald’thal. Dessa forma cada uma das facções fora representada: Monetaristas, Monarquistas e neutras¹.

“Acredito que este pequeno encontro privado tenha sido projetado como uma oportunidade de explicar minhas ações.” declarou Lolorito alegremente.

“Se há algo que gostaria de dizer, o diga agora,” respondeu Nanamo com toda a calma que conseguiu reunir.

“Muito bem,” suspirou, como se estivesse sendo indulgente com uma criança mimada, e parou por um momento para remover sua máscara. Era considerado um grande desrespeito usar tais apetrechos em uma audiência com a sultana, mas os Monetaristas sempre justificavam tal descortesia com a alegação de que seus olhos eram sensíveis à luz forte. No momento, entretanto, ele estava de cara limpa, sem o menor sinal de desconforto.

“Perdoe minha sinceridade, Sua Graça, mas se tornou dolorosamente óbvio que você subestima os perigos que nossa grande nação enfrenta.” Os olhos dourados do idoso lalafell permaneceram fixados ao rosto da sultana enquanto fazia sua dura avaliação.

A mandíbula de Raubahn cerrou visivelmente, mas baixou a cabeça e nada disse. Notando a luta do Flame General pelo canto do olho, Nanamo gesticulou para que o comerciante continuasse. Ela acatara o conselho de Papashan e ouviria o relato de Lolorito na íntegra – embora pudesse estrangular de bom grado o pretensioso porquinho.

De maneira um tanto quanto previsível, Lolorito viera preparado para defender suas ações. Falou extensivamente sobre a ameaça imposta pelo novo imperador e uma Garlemald unida, alertando ser apenas uma questão de tempo antes que garleanos retomassem sua campanha por Eorzea. Desestabilizar o governo de Ul’dah em tal conjuntura, afirmou, era descuido ao extremo.

“Para evitar que Vossa Graça promulgasse tamanha… reforma rafical, Teledji Adeledji escolheu o simples expediente do assassinato. Meramente tirei as rédeas deste esquema asqueroso de suas mãos atrapalhadas.”

Nanamo se pegou cerrando os punhos enquanto o mercador calmamente explicava como tinha sido necessário manter a ilusão de sua morte para expor os aliados de Teledji e dessa forma desenraizar a corrupção generalizada do vilão. A audácia do homem…

“Se você tivesse se prestado a consultar o Sindicato sobre a questão de sua abdicação, talvez tais medidas extremas pudessem ter sido evitadas,” Lolorito sorriu. “No mínimo, Vossa Graça poderia ter procurado o conselho do General antes de tomar uma decisão tão grandiosa e de longo alcance.”

Nanamo enrijeceu-se, cada palavra uma adaga em seu peito. Lolorito certamente estava correto. Ela tinha deliberadamente escondido seus planos de Raubahn, sabendo que ele tentaria a dissuadir de seu plano.

Tudo o que ela desejava era um governo acessível ao povo – um governo capaz de deixar de lado os interesses próprios e devotar os recursos da nação para resolver os muitos problemas de Ul’dah, incluindo a crescente crise de refugiados. Ela nutria esperanças de que o general, apoiado por uma população que o amou desde os dias como campeão do Coliseu, continuaria a desempenhar um papel de liderança em sua república imaginada. Naturalmente, Lolorito e seus caros príncipes mercadores comprariam influência como sempre fizeram, mas a perspectiva de suas riquezas encherem os bolsos do homem comum parecia-lhe uma troca aceitável.

Mas que tragédia resultou de minha manobra desajeitada? O caos que seguiu custou o braço ao seu mais querido amigo e quase destruiu os Scions of the Seventh Dawn, uma organização a qual ela e todos de Eorzea deviam tanto. Uma onda de arrependimento cresceu por dentro, e por um momento ela sentiu que poderia se afogar em tristeza.

“Claro, a execução do meu plano teve suas falhas,” continuou Lolorito em um tom calmo e sem pressa. “Eu não previ a fuga dos Scions, nem a violência que acompanhou sua fuga do palácio – uma complicação muito indesejável.”

De acordo com Lolorito, acusar o Warrior of Light de assassinato e implicar os Scions como cúmplices tinha sido ideia de Teledji. Ele especulou que o falecido membro do Sindicato desejava “retribuir” aos Archons por interferirem na aprovação da Lei de Recuperação de Carteneau. O próprio Lolorito pretendia não mostrar má vontade em relação à ordem, mas foi forçado a jogar junto com a captura para que Teledji permanecesse ignorante à duplicidade de Ilberd. Uma vez que a farsa tivesse terminado, assegurou a Nanamo, pretendia limpar totalmente as falsas acusações e libertar a Antecedent junto de seus companheiros.

Nanamo criticou internamente a implicação de que, ao se recusarem a aceitar uma prisão injusta, os Scions trouxeram a ruína sobre si mesmos. Com um esforço que esperava não transparecer em suas feições, prendeu a respiração e contou até dez.

“Lamentavelmente, não previ a extensão da insubordinação de Ilberd,” o mercador continuou, alheio à ira crescente de Nanamo. “Você está ciente do nosso… desacordo em relação ao tratamento do General, acredito?”
A sultana concordou mecanicamente e respondeu após um momento, “Não consigo imaginar por que o capitão Ilberd desejaria a morte do general Aldynn.”

Lolorito acenou com a cabeça em resposta e lançou-se em outra explicação objetiva. Ele tinha, revelou, inicialmente garantido os serviços de Ilberd com a promessa de armamentos e fundos suficientes para transformar os refugiados de Ala Mhigo em uma milícia bem armada e treinada. Esses “combatentes da resistência” seriam enviados para a sua antiga pátria, onde impediriam o avanço de forças imperiais.

“Além de atrasar a invasão garleana, esta mobilização teria a vantagem adicional de diminuir a multidão de refugiados que lotam as paredes de Ul’dah,” o mercador pronunciou com devida satisfação, o início de um sorriso puxando o canto de sua boca.

Ao olhar taciturno vindo de Raubahn, o sorriso desapareceu, mas Lolorito continuou, “Infelizmente, General, sua mera existência representou um problema a Ilberd.”

Os Monetaristas comparavam a posição do ex-gladiador no Sindicato a um farol de esperança para os desalojados e oprimidos de Ala Mhigo. Muitos, notou com certo divertimento, preferiam lançar seu olhar em direção à luz de uma estrela inatingível, em vez de se virar e enfrentar a escuridão sombria de sua realidade problemática.

“Ilberd acreditava que a morte do General era a única cura para esse romantismo pernicioso,” continuou o mercador, voltando-se para a sultana. “Mas enquanto há alguma verdade nisso, nós precisávamos do nosso amigo de um braço só vivo se quiséssemos persuadir Vossa Graça a se sentar no trono mais uma vez. E aí jazia a raiz de nossa contenção.”

Se Raubahn tivesse sido executado… o que ocorreria? Jogaria a razão aos ventos do deserto e clamaria mais uma vez pela dissolução do sultanato? Nanamo suspeitou que sim. Maldito seja, Lolorito.

“Por favor, aceite esta prova, Sua Graça. Talvez este exemplo material do meu apoio irá remover quaisquer dúvidas remanescentes quanto a minha lealdade…”

Nanamo aceitou o pergaminho na mão esticada do mercador e desenrolou a fina folha. Leu em voz alta o conteúdo do documento—um contrato legal que, uma vez assinado, conferiria à coroa a propriedade de todos os ativos de Teledji Adeledji assim como metade da riqueza pessoal de Lolorito.

“Pelo quinto dos infernos!” Raubahn rugiu, sua paciência finalmente esgotada. “Você pensa em enterrar os seus pecados embaixo de uma montanha de moedas?!”

Um simples gesto da sultana foi o bastante para o silenciar. Ele apertou a mandíbula, ainda carrancudo, enquanto Lolorito demonstrava um ar de ferido.

“Meu querido General, o sacrifício de moedas não seria o meio mais adequado para um mercador expressar sua contrição? Você notará que não há estipulações ou restrições sobre como Sua Graça pode gastar esta fortuna. Construir um monumento aos Scions, apaziguar o sofrimento de refugiados – as possibilidades são infinitas,” proferiu Lolorito com benevolência. “Eu humildemente sugeriria, entretanto, que alguma parte seja poupada para a iminente invasão imperial.”

Tendo compartilhado esta pérola final de sabedoria, o mercador se dirigiu à sultana mais uma vez. “Agradeço por sua audiência paciente, Sua Graça. Agora, se me dão licença, há assuntos urgentes aos quais devo atender.”

Com isto, Lolorito recolocou a máscara e, sem esperar a saída da sultana para se retirar, ausentou-se a passos rápidos da câmara.
E assim a reunião acabara.

 

Drenada, Nanamo se recolheu aos seus aposentos privados para refletir sobre as palavras do comerciante. Não posso perdoar os métodos deste homem, ponderou, mas o meu próprio plano não merece menos censura. Sua resolução míope havia causado derramamento de sangue e turbulência, e não sabia como poderia expiar por seus erros. De sua parte, Lolorito havia renunciado a uma parte principesca de sua fortuna – o que, como mercador, era um ato semelhante a renunciar à própria carne e sangue. Mas o que ela, como sultana, poderia fazer para pagar a dívida que havia contraído?

“Busquem o General Aldynn!”

Raubahn chegou aos seus aposentos logo após, escoltado pela nova serva de Nanamo, e entregou-lhe o contrato sem nenhuma palavra. Quando o General viu a assinatura fluída da sultana anexada ao documento, sua testa franziu em consternação.

“Eu desprezo aquele homem,” declarou ela, categoricamente.

“Assim como eu,” veio a resposta.

“E, no entanto, me desprezo ainda mais. Não confiei em meu conselheiro de maior confiança e alegremente trouxe uma verdadeira rebelião para dentro do Sindicato. Minha ambição imaculada trouxe dor e sofrimento para aqueles que menos mereciam, e mostrou-me ser a maior tola de todos!”

Neste momento, Raubahn só conseguiu abaixar a cabeça.

“Lolorito é um vilão insensível e calculista, movido apenas pela ganância,” ralhou. “Mas, mesmo assim, não posso ignorar sua habilidade como político nem os feitos que realizou a serviço de Ul’dah.”

Nanamo fechou os olhos enquanto emoções conflitantes ameaçavam a engolir mais uma vez. Mas ela se manteve firme ao seu propósito emergente e ergueu os olhos para encontrar Raubahn a encarando com preocupação paternal.

“Convoque o conselho de guerra, General,” ordenou em voz clara e forte. “Devemos discutir como Ishgard pode ser reintegrada na Aliança de Eorzea. E então devemos explorar nossa estratégia para nos opor ao avanço inevitável do Império.”

Nanamo respirou fundo e fixou em Raubahn um olhar resoluto. “Não vou mais ser intimada por Lolorito e sua laia. Não importa meus sentimentos pessoais, uma sultana deve fazer uso de todos os recursos a sua disposição… pelas moedas e o país.”

Ela havia ascendido ao trono com a idade de cinco anos e feito um juramento em sua coroação—palavras vazias que havia memorizado, mas não entendido. O juramento que ela fez agora, por sua vez—embora fosse mais adequado a um soldado do que a uma sultana—ressoou por todo o seu ser.

“Pelas moedas e o país,” Raubahn ecoou em sua voz profunda.

Então o general de um braço só sorriu, e Nanamo não pôde deixar de fazer a mesma coisa.

Ul’dah era um sultanato mais uma vez.



¹ Achamos que seria melhor traduzir as facções de Ul’Dah por serem nomes comuns, ou seja, você pode encontrar eles como Monetarist, Royalist, e Neutral dentro do jogo.

 

Fonte: https://na.finalfantasyxiv.com/lodestone/playguide/#side_storyes
Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth

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