Tales from the Dragonsong War: Vows Unbroken
Contos da Dragonsong War: Votos intactos
O vento pinicava o rosto do jovem enquanto ele escalava penosamente em direção às pedras, lírios recém-colhidos firmemente em mãos. Outra nevasca a caminho, pensou. O pior ainda está por vir.
Logo, ele chegara. Ao se ajoelhar para substituir a oferenda do dia anterior, os olhos de Francel se desviaram para o escudo encostado no indicador. Um unicórnio vermelho, apagado e envolto em espinhos. E abaixo…
Ele estremeceu e olhou para longe. “Você simplesmente não podia se conter, não é mesmo?” murmurou com os dentes cerrados, torcendo e esmagando as flores em suas mãos até que não sobrasse mais nada.
Quinze… dezesseis anos agora, Francel refletiu. Um garoto de seis verões, mesmo assim velho o suficiente para assumir suas responsabilidades sociais. O pai havia lhe dito que o jantar em Fortemps Manor seria o primeiro de muitos.
Os lordes e senhoras o trataram com a gentileza prevista enquanto ele dava voltas com o conde, cuidadosamente repetindo as frases que foi ensinado. “Este é um barão, mas você não deve o tratar dessa maneira em pessoa,” seu pai sussurrou enquanto seguiam em frente. “Aquele é leal a nossa casa. Você o conheceu quando tinha…”
Era tudo demais.
Mas ele continuou, conforme instruído, até que tivesse falado com todos os indivíduos de renome. Totalmente exausto, ele devidamente implorou ao pai por um momento de descanso e ficou surpreso a o descobrir receptivo ao pedido. Emocionado pelos meus esforços─ ou talvez pelo vinho.
Após o conde ter o liberado, Francel se dirigiu diretamente para as portas, parando apenas para fisgar uma porção de pudim em uma mesa próxima. Lá fora, sob o céu estrelado, inspirou fundo o ar fresco da noite e saboreou o silêncio.
“Venha! Tome isto! Pela glória da Casa Fortemps!”
A gritaria parecia vir de um gazebo próximo, onde Francel esperava comer seu pudim em paz. Ele se esgueirou para perto, incerto do que iria encontrar.
Um menino de cabelos prateados com o dobro de sua idade brandia uma espada de madeira com uma despreocupação imprudente, o peito despido brilhando de suor ao luar.
“O que você está fazendo?” Francel estava surpreso ao perceber que havia falado. O menino mais velho girou em sua direção, caindo parcialmente agachado. Piscou, então se ergueu em toda sua estatura. “O que parece? Estou praticando!”
Francel estava perdido. Seu pai havia enfatizado a importância das festividades noturnas. “Mas… a festa…. você não deveria estar─ ”
O menino mais velho bufou. “A condessa proibiu. Meu pai queria que eu fosse, mas disse a ele não estar interessado. Tudo bem─ de que serve um cavaleiro que não pode lutar?”
Era melhor quando eu não sabia. Filhos legítimos, bastardos, de origem não real…
O menino mais velho simplesmente ficou lá, as mãos apoiadas no punho de sua espada de madeira, a ponta plantada na terra. Francel subitamente lembrou do pudim em mãos. “Gostaria de compartilhar?” disse ele, oferecendo a sobremesa com certa trepidação.
Haurchefant arqueou uma sobrancelha, então sorriu. “Com toda a certeza eu gostaria.”
Eles se complementavam muito bem. Até onde um quarto filho e um bastardo poderiam. Quieto e reservado, a inclinação de Francel era sempre se enterrar em um livro, mas Haurchefant costumava aparecer sem aviso e o levava para alguma grande aventura. Sênior seis anos acima, o menino mais velho continuou a estudar esgrima, sempre estimulado por seus sonhos de cavaleiro. Pois todos devemos servir, cada um à sua maneira.
Nos anos seguintes, as visitas repentinas de Haurchefant se tornaram mais frequentes. Quanto mais ele cresce, mais se assemelha ao seu pai. Francel aprendeu a reconhecer os sinais de que ele logo chegaria─ gritos abafados da mansão, portas batendo, o barulho de pés correndo pelas pedras.
E lá estava ele, bufando e ofegante, olhos vermelhos e cheio de raiva. Eu tocaria seu ombro, e ele se lembraria de onde estava. “Para onde iremos hoje?” eu perguntaria. “Qualquer lugar que não seja aqui,” ele diria.
Ele se mexeu na sela e manteve seus olhos fixos no horizonte. Os batedores estavam dando água aos chocobos, deixando Francel sozinho com seu pai, que continuou a falar.
“Muitos de seus colegas são ávidos falcoeiros, sabia? E com boa razão─ nem todos os acordos são fechados sobre vinho. Aqui fora, em campos selvagens, homens são mais propensos a falar com franqueza…”
Para celebrar seu décimo primeiro aniversário, seu pai insistira que fossem caçar nas terras baixas do leste. Meu pai sempre teve jeito com presentes. Olhando para os batedores, Francel viu uma mecha de cabelo prateado e sorriu, mais uma vez voltando sua atenção para o céu. Uma pequena concessão, pelo menos.
O ponto preto na luz do dia que se desvanecia havia começado a circular acima da floresta na margem oposta do Clearwater Lake. Ele sentiu o conde apertar seu ombro. “Está vendo? Tudo o que você precisa fazer é seguir o falcão. Ele sabe para onde ir.” O conde fez uma pausa e então virou para ele. “Ele nasceu para isso─ assim como você.”
O grito do falcão foi uma benção. “Ele conseguiu algo!” Francel gritou, então cravou seus calcanhares e esporeou sua montaria para frente. Ele estava vagamente ciente dos brandos de seu pai enquanto segurava as rédeas com mais força e instigava o chocobo a continuar.
Se tem algo que o Haurchefant me ensinou, foi como fugir. Francel sorriu enquanto baixava a cabeça e montava levemente na sela. Os homens de seu pai não o alcançariam antes que chegasse às árvores.
Quando estava quase chegando, um bando de faisões saiu da vegetação rasteira. Em minha direção. Francel parou sua montaria, intrigado e semicerrou os olhos na escuridão, apenas para sentir uma dor aguda na cabeça. Logo ele estava caindo da sela enquanto o mundo escurecia ao seu redor.
Ele acordou assustado com um latejo maçante na base do crânio e gosto de sangue com algodão. Gemendo, tentou estender as mãos e tocar sua cabeça, mas descobriu que não podia. Serragem e cânhamo. Ah, como isso me irritou.
“Ei, o lordezinho tá acordado!”
Gradualmente, o mundo voltou ao foco e Francel se viu deitado no chão de uma cabana à luz de velas. Uma cabana de lenhador, há muito abandonada e esquecida. A porta na parede oposta parecia levar noite adentro…, porém, sentado em um banquinho logo em frente a ele estava um homem calvo com vestimentas em couro, um nariz quebrado pelo menos menos meia dúzia de vezes e dentes que haviam sofrido um destino ainda pior.
O homem sorriu maliciosamente. “Meus amigos tavam com medo de que tinha te batido com muita força, mas disse pra eles que as cabeça de sangue azul são mais grossas do que eles imaginam.” Um taco de madeira saliente jazia sobre seus joelhos. Uma coisa feia e disforme, não muito diferente de seu dono.
Francel testou suas amarras mais uma vez e a corda grossa apertara seus pulsos. Tentou falar através da mordaça. “Quieto, garoto, ou vou mandar sua língua de volta pro conde antes dos seus dedos,” o homem rosnou. Uma ameaça vazia, mas como eu saberia?
Horrorizado, Francel se encostou na parede e encarou o bandido, que sorriu. E ficou mais aterrorizante por causa disso.
“Assim é melhor. Agora─ ”
A porta se escancarou e o bandido levantado-se, girou, clava em mão, bem a tempo de vislumbrar o jovem de cabelo prateado que se chocou contra o seu peito, jogando-o no chão, deixando-o sem ar.
O bandido arranhou o rosto de Haurchefant, soltando xingamentos enquanto o jovem impedia sua faca. Mais a frente, na porta, um homem jazia de costas, olhando para o nada. Sem piscar. Haurchefant tateou cegamente em busca de uma faca, e encontrando-a enfiou entre as costelas do homem maior. De novo e de novo, mesmo muito depois dele ter parado de se mover.
Ele ficou lá por um tempo, o rosto enterrado no peito do homem morto. A cabana estava silenciosa, exceto por sua respiração ofegante. Mais besta que homem, sua túnica tingida de vermelho, mãos tremendo. Lentamente, ele se forçou a levantar e olhou nos olhos de Francel. “Pronto. Eles estão mortos,” ele sussurrou, inclinando-se para frente e tirando o pano amassado da boca do garoto.
“Todos eles?”
Um homem apareceu na porta, flecha pronta e prestes a ser disparada. “Seus merdinhas!” ele rugiu, a corda do arco cantou.
Eu fechei meus olhos, mas o escutei golpear─ ouvi-o uivar, ouvi o bater de tábuas do chão. Ouvi-os lutando, duas vozes grunhindo… logo apenas uma arquejando…
Quando abriu os olhos, Francel viu Haurchefant ajoelhado ao lado de um terceiro bandido. “Certo. Agora sim,” ele se levantou, balançando ligeiramente. Um fino fio de sangue escorria de uma haste quebrada enfiada em seu antebraço esquerdo. Ele olhou para baixo e quase pareceu surpreso. ”Melhor não tentar isso de novo sem um escudo, né?”
O terceiro viveu para contar a história, Francel refletiu, enquanto traçava o brasão no escudo danificado. De como um bastardo destreinado e inexperiente de dezessete verões salvou um senhor com nada além de faca. E então Silver Fuller ganhou suas esporas.
Seus dedos chegaram ao furo.
“Um cavaleiro vive para servir─ para ajudar aqueles que necessitam,” ele conseguiu dizer, com a voz trêmula. Para além do véu branco que descia, a cidade se erguia para encontrar mais um dia, enquanto Francel, ajoelhado na neve, sorria e chorava.
Fonte: https://na.finalfantasyxiv.com/lodestone/playguide/#side_storyes
Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth