Tales from the Storm: From Azure Ashes
Contos da Tempestade: Das Cinzas de um Azure
A brisa que acariciava o palácio em ruínas parecia tingida de ouro.
Mais do que qualquer outra coisa, dizia-se que o dragão ancião Ratatoskr adorava tecer canções, e o poder sobrenatural de seus versos ainda permanecia aqui, mil anos depois que sua voz foi silenciada para sempre pela traição dos mortais. Após a sua morte, os dragões chamaram sua casa nas nuvens de Sohr Khai, palavras que significam “desculpas de luto” , pela culpa em sua falha em protegê-la, e deixaram o lugar intocado.
Uma figura solitária observou a paisagem antes de se ajoelhar para colocar um buquê.
“Eu sei que sou um mensageiro estranho… mas a guerra acabou.”
Era, admitiu, uma expressão estranha. Mas como poderia ser diferente? O que mais ele poderia dizer para a anciã cujo assassinato acendeu as chamas da Dragonsong War—ele cujo único propósito na vida era caçar a sua espécie? Desculpe…? Mesmo enquanto lutava para formular um pedido de desculpas, uma rajada repentina dispersou sua oferenda de flores, enviando pétalas ondulantes em todas as direções.
“Não esperava encontrar tu aqui, Azure Dragoon.”
Estinien não ouviu tanto a voz porém a sentiu ecoando dentro de sua mente. Mas ele ouviu e sentiu o bater de asas poderosas logo depois. Olhando para cima, viu uma forma branca familiar descendo. Hraesvelgr… e eu achando que teria privacidade.
Após a derrota de Nidhogg e seu resgate milagroso no Steps of Faith, Estinien permaneceu no Holy See apenas tempo suficiente para testemunhar seu velho amigo Aymeric ser nomeado senhor orador da House of Lords¹. Ele então partiu em silêncio, não com a intenção de abandonar sua pátria, mas para ponderar como poderia a servir nesta nova era. Com o fim da guerra, raciocinou, sua presença não era mais necessária. Não havia lugar para um homem que derramou tanto sangue de dragão quando ele, muito menos um que virou a lança e presas contra seu próprio povo como escravo de seu inimigo.
Para onde, então, o campeão indesejado de Ishgard iria? Estinien podia pensar em vários lugares. E assim ele embarcou em uma jornada.
Para as ruínas de Ferndale, a aldeia onde nasceu, para oferecer uma oração à sua querida mãe, pai e irmão mais novo, Hamignant. Para um penhasco com vista para a capital, para agradecer ao cavaleiro corajoso e sincero cujo sacrifício manteve vivas as esperanças de Ishgard. Ao continente flutuante, Azys Lla, para homenagear a donzela da convicção que abriu caminho para seus companheiros queimando a vela de sua vida.
Seu antigo eu nunca teria contemplado uma viagem tão sentimental. Mas os tempos mudaram, e ele também. Por último, veio a Sohr Khai, para expressar seu arrependimento a Ratatoskr, há muito falecida. Uma visita que esperava passar despercebida.
“Espionar não é a sua cara, dragão.” Estinien rosnou.
O focinho do dragão ancião se contorceu no que parecia ser um sorriso.
“Oh, intrometido fui? Desejava apenas demonstrar meu apreço por teu gesto. Minha irmã de ninhada teria o recebido de braços abertos.”
Por um tempo, a alma de Estinien se fundiu com a de Nidhogg; a tumultuada tempestade de emoções do terrível dragão ancião se misturando as suas. O rancor, a fúria, a dor—ele sentiu tudo. E a dor perdurava até agora. O abismo deixado para trás pela morte de Ratatoskr era um que ele conhecia tão bem quanto qualquer homem ou dragão. E assim as palavras de Hraesvelgr foram mais reconfortantes do que o ancião percebeu.
“Não mereço tal bondade. Mas… muito obrigado,” Estinien respondeu, sua voz prendendo na garganta. Recompondo-se, continuou, “E depois de tudo, eu não sou mais Azure Dragoon. Esta era não precisa da minha lança.”
Com isso, os olhos do grande ancião se estreitaram.
“E ainda assim ela está nas suas costas, pingando a essência do meu irmão de ninhada.”
A observação o pegou totalmente de surpresa. Quando deixou Ishgard para trás, fez sem a armadura de dragoon, considerando-a uma relíquia da vida anterior. No entanto, de alguma forma, não havia ocorrido a ele também largar sua lança, embora deformada pelo poder de Nidhogg. A confusão de Estinien era clara para Hraesvelgr, e quando falou, foi em tons tingidos com o mais leve traço de pena.
“Tua luta não acabaste, mortal. Como tu sabes muito bem.”
A ferroada de outra compreensão.
Maldito seja, dragão. Ele estava certo, é claro. Azure Dragoon ou não, ainda havia trabalho a ser feito. Propósito mesmo para uma lança temperada e afiada em uma guerra injusta.
“Se tu jurar lutar pelos homens e pelos dragões, então venha comigo. A ti legarei uma armadura digna de um verdadeiro dragoon.”
Sem esperar por uma resposta, Hraesvelgr saltou para o céu com um chute poderoso, suas asas machucadas levando-o para longe tão rapidamente que sua forma iminente logo se tornou nada mais que um pontinho no céu. Escapando de seu devaneio, Estinien correu para o seu manacutter² e partiu logo após.
Após um breve vôo, chegaram a um aglomerado de ruínas nas margens de Sohr Khai; um estábulo para wyverns durante os dias esquecidos de harmonia, Estinien pensou. Lá o grande ancião pousou, e depois que o fez também, Hraesvelgr acenou para o coração das ruínas. Não tinham andado muito quando Estinien avistou o que sabia ser o destino deles.
“Pela Fúria…”
Dentro do que parecia ser os restos de um quartel construído para homens havia vários baús de armas. Todos carregavam as cicatrizes da inexorável marcha do tempo, exceto um—um exemplar imaculado, preservado por algum tipo de encantamento dracônico. Estinien não precisava de mais incentivos.
Ao se aproximar do baú, Hraesvelgr quebrou o silêncio. “No início, dragoons eram homens que lutavam ao lado dos dragões, não contra eles. Ratatoskr teve grande prazer em carregar essas almas destemidas em suas costas. E assim ela abençoou a armadura desde com seu poder.”
Levantando a tampa, a mandíbula de Estinien caiu. Diante dele havia não uma, mas duas magníficas armaduras de placas. A tonalidade delas era muito familiar. Azure. Deuses me perdoem…
“No início. homens se sentiam honrados em receber tais presentes. Mas quanto mais poder eles recebiam, mais ansiavam. E muito em breve, nada além da fonte deste poder os saciaria.”
E então eles a massacraram… Devoraram seus olhos como bestas selvagens.
A armadura dos primeiros dragoons, cheia de poder livremente dada… A mera visão dela fez o coração de Estinien inchar. Mas não fez nenhum movimento para reivindicar seu prêmio.
“Por que?” disse longamente. “Por que me conceder este poder? O que o faz pensar que sou diferente de Thordan e dos outros?”
Com isso, o dragão fez uma pausa, de cabeça baixa, antes de responder suavemente: “Uma donzela me deu motivos para acreditar em tua espécie mais uma vez.” Só depois de outro longo silêncio ele continuou. “Nunca foi usada esta armadura. Ela anseia por um mestre—um verdadeiro dragoon. Tu deixaste de lado um azure³. Se quiseres aceitar outro, é teu.”
Pouco tempo depois, Estinien emergiu do quartel com uma nova armadura e propósito. A armadura azure brilhava fortemente ao captar a luz do sol do meio-dia.
“Tal armadura merece um nome”, declarou. “E eu conheço um que combina bem.”
Hraesvelgr o encarou com expectativa.
“Iceheart⁴. Pois vigiará um homem ignorante de todas as coisas, exceto como manejar uma lança mergulhada em raiva.”
Com essas palavras, Hraesvelgr jogou a cabeça pra trás e soltou um rugido poderoso, tanto de aprovação quanto de diversão. O dragoon tinha escolhido bem.
Quando Estinien finalmente deixou Churning Mists, seus pés praticamente sozinhos o carregaram para o campo de batalha mais uma vez, para abrir caminho para seus companheiros, cujas lutas ainda continuavam.
O tempo passou, e a guerra pela libertação de Ala Mhigo encontrou as forças da Aliança de Eorzea na porta da cidade-fortaleza. De seu ponto de vista do penhasco, Estinien observou enquanto o exército seguia seu caminho pelos Lochs, uma grande serpente com soldados parecendo escamas. Embora estivessem muito longe para serem vistos, ele não duvidava que seus companheiros estivessem entre eles—Aymeric, Alphinaud, o Warrior of Light. Ele havia silenciado o monstruoso canhão em Castrum Abania para abrir caminho; o ato final para derrubar os Garleans, deixou para os companheiros.
Algo mais exigia sua atenção. Um assunto só dele. Melhor dizer dois assuntos, corrigiu interiormente. Esgotados em aether como estavam, não tarefa fácil os localizar…
Quando a batalha final foi iniciada e seus amigos lutavam, silenciosamente interceptou um esquadrão de armaduras voadoras que estava se movimentando para os flanquear. Foi então que ele sentiu o chamado—um poder que conhecia tão intimamente quanto conhecia a si mesmo, emanando dos céus acima do palácio real. Puxando a ponta de sua lança de um destroço fumegante, ele saiu em uma corrida brusca, abrindo caminho atrás do caos que o cercava. Mas quando finalmente emergiu nos jardins do Royal Menagerie, estava tudo acabado. Exceto sua própria tarefa.
Mesmo sem os ver, ele sabia exatamente onde estavam. Caminhando entre as flores exóticas, sem se importar com sua beleza, parou em um ponto como qualquer outro. E lá estavam eles, os olhos de Nidhogg, o encarando cegamente.
“Bem, bem, bem, que bela bagunça nós fizemos,” ele os cumprimentou como velhos amigos. “Tudo gasto alimentando aquele primal, né? Bem, você não fará nenhum mal com essa quantidade de aether.”
Ele sacou sua lança—nomeada seu nêmesis e o dragão que ele havia sido—e apontou sua ponta mortal para um globo ocular indefeso.
“Ainda assim… melhor prevenir do que remediar.”
Preparando-se de corpo e alma, ele a mergulhou no olho. Ele cedeu prontamente, transformando-se em névoa negra e desaparecendo no céu carmesim. Sem perder tempo, entregou ao seu gêmeo o mesmo destino.
“Pronto. Assim termina o seu legado de ódio.”
Assim a jornada de Estinien chegou ao fim—uma jornada que o viu revisitar o passado e assim encontrar um futuro. A batalha de toda a sua vida tendo chegado à sua verdadeira conclusão, ele poderia finalmente começar de novo. Ninguém pode dizer para onde o seu caminho o levará, se os céus que o saudarão serão o azul forte do dia, o carmesim ardente do entardecer ou o negro profundo do crepúsculo. No entanto, onde quer que se encontre, uma coisa é certa: ele sempre empunhará sua lança tanto para os homens quanto para os dragões.
¹ Após a queda de Nidhogg, o governo de Ishgard passou a utilizar um modelo republicano bicameral, onde as políticas seriam decididas por uma câmara de senhores e outra de plebeus. House of Commons seria essa segunda categoria.
² Manacutter: essa é a mount que recebemos ao fazer as Main Quests do Heavensward.
³ Azure é tanto o tom de azul quanto parte do título do dragoon mais importante de Ishgard, optei por deixar como no original para manter o laço na expressão e título.
⁴ Título da Ysayle em Heavensward.
Fonte: https://na.finalfantasyxiv.com/lodestone/special/tales_from_the_storm/sidestory_06/#sidestory_06
Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth