FFXIV | Contos da Tempestade: Depois da Tempestade, a Calmaria

Tales from the Storm: A Calm After the Storm

Contos da Tempestade: Depois da Tempestade, a Calmaria

Y’shtola fechou os olhos, saboreando o sabor e o calor do chá. Não fazia muito tempo desde a grande batalha pela libertação de Ala Mhigo, mas nesse momento de trégua sagrado, parecia muito bem ter sido há uma eternidade. As mesas e cadeiras despretensiosas da confeitaria estavam dispostas ao longo de um dos decks em espiral de Limsa Lominsa, oferecendo aos patronos uma bela vista de Rhotano. Evitando a pompa e a cerimônia dos estabelecimentos de Limsa mais renomados, era o local preferido entre os locais para passarem uma tarde relaxante à beira-mar com os amigos.

Ao olhar para ela tomando chá casualmente, contentamento esbanjado em seu rosto, ninguém teria adivinhado as provações que Y’shtola havia superado recentemente. Enquanto voltava a colocar a xícara em seu lugar, uma risada suave escapou de seus lábios. Espalhados diante dela havia uma variedade de guloseimas de dar água na boca, entre elas a especialidade do confeiteiro: uma rica torta de baunilha recheada de geléia brilhante e frutas vermelhas. Do outro lado da mesa, Alisaie levantou uma sobrancelha inquisidora enquanto colocava outro cookie na boca. Espanando os dedos, ela checou a área procurando os convidados que ainda não tinham chegado. Seus olhos se fixaram numa figura familiar saltando em direção a elas.

“Desculpe o atraso!”, Lyse exclamou, sem fôlego.

Y’shtola dispensou o pedido de desculpas. “A sua foi a viagem mais longa. E começamos sem você.”

Com um suspiro feliz, Lyse se jogou em uma cadeira. Ela estava mais uma vez vestida com as roupas que usou durante sua estada no Far East. Este foi o primeiro encontro delas desde que ela anunciou a sua decisão de permanecer em Gyr Abania para ajudar na reconstrução de sua terra natal, e foi como se um grande peso tivesse sido retirado de seus ombros. Depois de fazer seu pedido com a garçonete, virou-se para olhar suas amigas com carinho.

“Meu deus, como é bom ver vocês!” Depois de uma breve pausa, ela continuou. “Seremos só nós?”

“Krile infelizmente não poderá comparecer,” Y’shtola explicou. “Ela está em meio a uma importante pesquisa e disse que se contentaria com um delivery. Já em relação ao Warrior of Light…”

Engolindo o seu cookie, Alisaie continuou de onde Y’shtola tinha parado, uma pitada de desagrado em sua voz. “Oh, ele sem dúvida está envolvido em algum esforço heroico ou outra coisa. Ele sabe a hora e o lugar, porém, e não me deu nenhuma razão para acreditar que não viria.”

O sorriso de Lyse era um misto de divertimento e resignação. “Algumas coisas nunca mudam, né. Ele nunca conseguiu ficar parado por muito tempo.”

Tomando isso como um convite, Alisaie deu voz à sua frustração. “Então!! Se ele não está escapando da morte com seus companheiros aventureiros, você pode ter certeza que ele está ajudando alguma beast tribe, ou coletando tomestones, ou regalando as crianças de Idyllshire com os contos de suas façanhas¹, ou entregando algo pra alguém. Sinceramente, não acho que ele durma.”

Perplexas com o súbito lampejo de emoção, Y’shtola e Lyse se entreolharam antes de cair na gargalhada. Alisaie olhou para elas, seu rosto uma imagem de indignação.

“Perdoe-nos”, disse Y’shtola com um brilho nos olhos. “Estamos impressionadas com o quão de perto você segue cada ato de seu herói.”

“Mas como assim— Eu simplesmente perguntei a ele que tipo de treinamento ele tem! Por todo o bem que isso me fez—não tem nada nisso que não consiga imitar razoavelmente.”

“Bem, eu aprovo de todo coração a sua escolha de pessoa modelo”, disse Lyse, assentindo sabiamente.

“Ah não, você também, Lyse? Hmph. Se você quer falar sobre uma escolha interessante de modelo não deve procurar para além do meu irmão.”

Trazendo seu garfo para apoiar a torta, Alisaie começou a contar sobre seu tempo em Yanxia…

Enquanto o grupo de Lyse viajava para Azim Steppe em busca de Lorde Hien, Alisaie e Alphinaud permaneceram em House of the Fierce. Durante aquele tempo, seu irmão adepto dos livros ajudou a resolver as frequentes carências da Liberation Front com um tipo de sabedoria que só poderia ser descrita como útil.

“Quando perguntei o que o havia levado a voltar sua mente para assuntos mais práticos, ele me disse que havia conhecido um homem que lhe ensinou bastante sobre ‘as ruas’, e que não desejava parecer ocioso se seus caminhos se cruzassem de novo. Naturalmente, ele não diria quem esse homem misterioso era—apenas que o via como um irmão. Como se eu precisasse de outro irmão a lidar…” Alisaie terminou esta declaração mergulhando o garfo em sua torta.

Lyse recebeu a história da mudança de Alphinaud com grande interesse, enquanto Y’shtola, tendo um pressentimento sobre tal objeto de admiração, só pôde sorrir ironicamente. Sendo um homem não inclinado a sentimentos, ela sabia, mesmo tendo ciência de que era uma pessoa que fazia falta, isso não apressaria o seu retorno.”

A garçonete apareceu com a bebida de Lyse, um copo de limonada feita com honey lemons de Othard. O primeiro gole fez seus olhos brilharem, e assim seguiu com um gole mais longo. Ver a alegria de Lyse levou Y’shtola de volta aos seus primeiros dias em Limsa Lominsa, quando estava começando a descobrir a renomada cultura gastronômica da cidade-estado. Apesar de todo o conhecimento culinário armazenado nas vastas bibliotecas de Sharlayan, nada poderia replicar a experiência de saborear uma iguaria em sua terra natal.

“E então, como vai você, Lyse? O esforço para reconstrução começou de vez? ” A pergunta de Y’shtola trouxe Lyse de volta à realidade, e ela baixou tanto o olhar quanto o copo.

“… Mais ou menos. Os problemas não tem fim, e não são do tipo que consiga socar. Pensar sempre foi o departamento do Papalymo. Quer dizer, eu estou dando o meu melhor, mas… bem, as coisas raramente vão como planejado.” Distraidamente, passou um dedo sobre as gotas em seu copo. “Ainda me pego pensando, o que meu pai faria? O que Yda diria? Por que eu não sou que nem eles? E acabo me deixando deprimida.” Ao ouvir suas próprias palavras, Lyse fez uma careta e fixou Y’shtola com um olhar determinado. “Mas não vou desistir. Não depois de tudo que foi preciso para chegar tão longe.”

Vendo as chamas nos olhos de Lyse, Yshtola não pôde deixar de se lembrar de Yda quando falou de libertar sua terra natal, tantos anos atrás… Como ela teria ficado orgulhosa.

Soltando um suspiro, Alisaie colocou uma segunda fatia de torta no prato de Lyse.

“Mas eu ainda não terminei o—”

“Você precisa manter a sua força.” Y’shtola declarou, em um tom que não toleraria discussão. “Todos nós sabemos que trabalhar duro deixa você com fome. Assim como ficar séria. Assim como pensar em círculos.”

Os ombros de Lyse baixaram subitamente. “Meu deus, eu não sou tão ruim… sou?”

Y’shtola resolveu a questão servindo-lhe outra fatia.

“Se você duvidar de si mesma, não hesite em se apoiar naqueles ao seu redor. Em nós. Você tem mais do que as memórias de sua família para invocar, Lyse. Lembre-se disso.”

Ao perceber isso, Lyse encontrou seu sorriso novamente.


Enquanto cuidava do conteúdo de seu prato bem farto, Lyse relatou os acontecimentos recentes em sua vida.

“Fiz um novo amigo,” ela começou, com a boca cheia de torta. “Um garoto da minha idade, que costumava estar na Resistência. Ele… mmm… sabe tudo o que há para saber sobre a política e a história de Ala Mhigo—todas as coisas que sou ruim, basicamente. Ele… mmm… na verdade, graças a ele que tive tempo de vir aqui hoje. Ele me ajudou a desenterrar alguns registros antigos em uma mina que estava procurando.” Ela fez uma pausa no meio da mastigação, sobrancelhas franzidas. “Mas ele tem esse estranho hábito de olhar diretamente através de mim. Pensei que ele poderia ter um olho de vidro no começo, mas não—ele simplesmente não me encara. Não sei o que fazer a respeito.”

“Acredito que ele está assustado”, Alisaie positivou. “E não é de se admirar. Você é uma heroína.”

Y’shtola revirou os olhos. “Crianças, crianças… é melhor eu soletrar? O garoto está apaixonado por você.”

Lyse recebeu essa revelação com uma chuva de migalhas e muita tosse.

“Você está brincando né!”, se recompondo finalmente.

“Claro. Eu sou famosa pelo meu senso de humor”, Y’shtola concordou com o rosto impassível. “Mas se não fosse o caso, você poderia considerar a ideia. A menos, é claro, que seu coração já tenha decidido? O belo e jovem lorde de Doma é quase da mesma idade, não é?”

“Que, H-Hien?! Não! Eu não—quero dizer, eu o admiro e tudo mais, mas muitas pessoas também. E talvez conheça alguém que o admire ‘especialmente’.”

O olhar de Lyse flutuou para longe junto com seus pensamentos. Ela não disse mais nada sobre o assunto, e as duas não se intrometeram. Como se sinalizasse o fim de relatório, ela deu uma boa mexida em sua limonada antes de estreitar os olhos para Y’shtola.

“E você, Y’shtola? O que você acha, uh…” Lyse procurou um candidato adequado “Thancred, talvez? Ou… um dos outros?”

“Posso honestamente dizer que eles nunca passaram pela minha cabeça. Se você quiser saber, no entanto…”

Naquele momento, uma memória veio à mente subitamente.

Ela estava convalescendo no Rising Stones após seu desastroso encontro com Zenos quando sua irmã fez uma visita. Embora feliz de a ver bem, este último encontro com a morte claramente veio muito perto do episódio com o Lifestream para o gosto de Y’mhitra, e ela começou a repreendê-la pelo desrespeito intencional que ela demonstrou pelo seu bem-estar. Sua irmã sabia o quão dedicada era dedicada ao caminho escolhido, e normalmente a teria deixado com algumas palavras severas, mas desta vez elas irromperam como uma torrente, sem cessar até que ela mandasse Y’mhitra embora, suplicando por descanso. Foi então que sua irmã falou cansadamente as palavras…

“Já não passou da hora de você encontrar alguém? Forte que seja, mas quão mais forte você poderia ser acompanhada?”

As palavras ressoaram na mente de Yshtola enquanto bebia o seu chá. Para além da xícara, ela viu as outras duas inclinando-se para frente mal disfarçando de antecipação. Ela soltou um sorriso breve.

“Nah. Talvez seja melhor que siga o meu próprio conselho.”

Lyse e Alisaie recuaram com um gemido e começaram a resmungar. Ignorando-as, Y’shtola pegou o bule. Sua mão parou quando seus ouvidos discerniram passos familiares.

“Pelo visto o nosso encontro está finalmente completo.”

Em uníssono, as três Scions se viraram para olhar. E realmente, era ele—o Warrior of Light.

“Então, vamos pedir um pouco mais de tudo?”

A tarde estava apenas começando.



¹ Aqui Alisaie se refere ao Wondrous Tails, o conteúdo (bi)semanal a qual falamos com a Khloe sobre os feitos de trials e dungDeons.
Fonte: https://na.finalfantasyxiv.com/lodestone/special/tales_from_the_storm/sidestory_02/#sidestory_02
Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth

Author: Aro
Idealista que se empolga com música, comida, pescaria, trocadilho, boas histórias, filosofia, animais, café, pessoas animadas e... na verdade, eu me empolgo fácil mesmo.

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