FFXIV | Contos da Tempestade: Ó Nhaama, Onde Estás Tu

Tales from the Storm: O Nhaama, Where Art Thou

Contos da Tempestade: Ó Nhaama, Onde Estás Tu

“Nosso é o solo. Venham, venham—venham e escutem a minha história. A história de um irmão mais que radiante—”

Com isso, os jovens reunidos ao redor do fogo riram.

“Muito radiante mesmo! Mas como todos os grandes contos, começou há muito, muito tempo—no início, com um pai, uma mãe, um Steppe, e um povo…”

Das alturas proibidas das Tail Mountains fluem muitos khaa que serpenteiam pelo caminho até Azim Khaat. E sobre este Khaat repousa um grande monumento de pedra. Uma fortaleza sagrada forjada pelo próprio Dawn Father. Um trono sobre o qual seus filhos pudessem se banhar com sol.

À sua sombra vivia um povo orgulhoso e forte. Aqueles que eram descendentes de Azim, aqueles que estavam destinados a governar. Os Oronir.

E entre os Oronir vivia um menino nascido para grandes feitos.

Mais leves risadas, seguidas por um barulho pedindo silêncio.

Magnai era o seu nome. Muito maior e mais quieto do que a maioria dos jovens de sua idade, possuidor de uma força temível que rivalizava com a de um guerreiro adulto. Podia carregar meia dúzia de baldes de leite com facilidade, e empunhava um machado com o dobro de seu tamanho como se fosse machadinha. Tão talentoso que era, juntava-se aos homens em suas caçadas, levando-os a rir e proclamar que Magnai estava destinado a ser nomeado o mais radiante. Essas coisas seriam decididas nas disputas fraternas, é claro, mas ainda assim eles acariciavam sua cabeça e o enchiam de elogios, dos quais ele gostava, como todo garoto gostaria.

Mas o que o jovem guerreiro mais gostava de ouvir eram os contos da antiguidade.

Repetidamente ele incomodava os contadores de história para contar mais vez a mais velha de todas—a do Pai e da Mãe, sua guerra e seus filhos. Com os olhos arregalados e os ouvidos atentos, sentava-se enquanto os anciões falavam do amor que floresceu entre os filhos de Azim e Nhaama, e como os deuses passaram a compartilhar dele também. De como os deuses nunca poderiam estar juntos, e de como o avatar de Azim, dito de escama noturna, veio habitar entre os filhos de Nhaama como protetor, dando origem aos Oronir.

Toda vez que o contador de histórias chegava à conclusão do conto, Magnai acenava com a cabeça vigorosamente em afirmação e retornava ao seu treinamento sem dizer uma palavra, sua determinação em chamas novamente.

Até que, um dia, depois que o conto foi narrado, irmão Magnai fez uma pergunta.

“Ancião, quando vou saber quando encontrar minha Nhaama?”

Este com o odre em seus lábios quase engasga com a bebida.

A pergunta de Magnai, é claro, partiu da crença dos Oronir que Dusk Mother, ao ver os filhos do Dawn Father, derramou lágrimas de amor e saudade, as quais ao se encontrar com chão, se ergueram como contrapartes dos homens. Para cada sol, haveria uma lua, para cada Azim, uma Nhaama.

Surpreendido, o contador de histórias começou a contar a Magnai como conheceu seu verdadeiro amor. Mas Magnai ficou inquieto, pois a história humilde estava muito distante das lendas antigas que tinha em tão alta consideração.

Então, Magnai se dirigiu aos seus irmãos mais velhos perguntando: “Como vou saber quando encontrar minha Nhaama?”

“Nos mercados”, disse um. “Nossos olhos mal se encontraram, e mesmo assim já era claro.”

“Na caça”, disse outro. “Quando a vi puxar o arco, soube imediatamente que era ela.”

Ele ouviu muitas histórias. Um encontro fatídico, um olhar partilhado. E então tudo foi como deveria ser.

Mas como o contador de histórias antes deles, seus relatos não diziam algo a Magnai. Dos rostos sorridentes daqueles homens que foram favorecidos pelos deuses, que prosseguiram e encontraram suas luas, não vislumbrou nenhuma sabedoria secreta.

Mas Magnai era um garoto de fé. Em seu coração, ele sabia que estava ligado pelo destino a uma mulher do crepúsculo, e que quando se encontrassem, ambos saberiam.


Os pensamentos de Magnai muitas vezes se voltavam a sua Nhaama e que tipo de pessoa ela poderia ser. O Steppe é vasto, e os Xaelas muitos. Ela poderia estar em qualquer lugar, em meio a qualquer tribo, assim temia.

Neste tempo, Magnai tinha muitas irmãs, e elas não eram menos formidáveis do que ele. Sempre que tentava fugir para brincar, negligenciando seus deveres, elas não descansavam até que o localizassem. Uma vez descoberto, choramingava e protestava, pois não se importava com essas tarefas braçais, mas elas se certificavam que ele completaria cada uma delas—por isso ele não gostava nada delas.

Um dia, enquanto de mal humor ao cuidar da lã recém tingida por suas irmãs mais velhas, meditou que sua lua nunca levantaria a voz para ele como elas fizeram. Não, ela seria uma donzela gentil, etérea.

Murmúrios, uma observação sarcástica.

Sim, esta seria a esposa perfeita.

Mais tarde, Magnai foi enviado sozinho por suas irmãs para trazer de volta uma ovelha perdida. Quando o sol escaldante afundava no horizonte, o garoto encontrou uma horda de halgai grandes como a grama de verão, atraídos pelo balido de sua presa. Ele atravessou pelas feras e salvou o cordeiro, é claro, mas a essa altura as estrelas estavam no céu, Magnai não teve escolha a não ser se abrigar entre as rochas com o animal e esperar a noite congelante passar.

Ele acordou quando a luz crescente do Dawn Father começou a apagar a das estrelas. Ele observou como o mundo foi transformado pela graça de Azim, enquanto o céu ficava cada vez mais claro, como as bochechas de uma donzela corada, e a vista enchia seu coração de alegria.

Meditou que sua lua seria tão bonita, e olhar para ela ela seria reviver este momento. Ela seria como uma dançarina na névoa da manhã.

Um gemido seguido de uma gargalhada.

Sim, esta seria a esposa perfeita!

Anos se passam, e o jovem guerreiro ficou maior e mais forte, e quando tinha idade suficiente para participar das disputas fraternas, venceu com facilidade e foi nomeado como o mais velho. Transbordando de poder e orgulho, liderou os Oronir à vitória no Naadam, e sobre ele recaíram ainda mais elogios. Ninguém era mais adequado a ter a escama noturna do que ele, o mais que radiante dos filhos de Azim, os protetores jurados dos Xaela.

Mas apesar de todos os seus triunfos, apesar de toda a sua glória, ele ainda tinha de encontrar a sua Nhaama.

Um suspira; outro se levanta para vagar no escuro e pegar água.

Havia donzelas que faziam propostas, é claro. Mas Magnai era particular—muito particular. “Ela não”, ele dizia. “Ela não”, e em pouco tempo ninguém se dava ao trabalho de se aproximar dele.

Um após o outro, irmãos da mesma idade encontraram suas luas, enquanto Magnai se sentava em seu trono e ficava cismado, seu humor cada dia mais desagradável. Vendo isso, um dos mais jovens ofereceu uma sugestão.

“Mais que radiante irmão Magnai, foi você que liderou os Oronir à vitória no Naadam, você que reivindicou o Dawn Throne, você que se elevou acima de todos os outros no Steppe! Certamente está em seu poder exigir que as donzelas dessas terras venham perante a você, não é? Deixe-nos enviar cavalos e yol para os cantos mais distantes do Steppe, e pela graça de Pai Azim, eles retornarão com a sua Nhaama!”

Era, Magnai pensou, uma sugestão sábia.


Muitas donzelas do Steppe responderam ao chamado de Magnai. À sombra do Dawn Throne, elas se reuniram para se apresentar ao mais radiante, que estava sentado em um grande pavilhão com uma expressão muito severa. Em seu ombro estava um dos mais jovens, que se inclinou para frente e sussurrou em seu ouvido.

“Grande radiante irmão Magnai, dou-lhe as mais belas donzelas do Steppe. Não tenho dúvidas de que uma delas descende das lágrimas da Dusk Mother e destinada a ficar ao seu lado.”

Com isso, Magnai assentiu, antes de se levantar de seu assento para inspecionar a fila de mulheres. Ele olhou da esquerda para a direita, estudando seus rostos. Algumas o olhavam com admiração. Outras com desconforto. Outras ainda com desgosto. Mas seus olhos foram atraídos para uma além de todas as outras.

Apesar da máscara que ela usava para cobrir a boca, sua beleza era fácil de ver. Não compartilhava sussurros com aquelas ao seu lado, nem o observava com medo como algumas. Ela estava calma e composta e se portava em silêncio, aparentemente alheia à presença dele.

Magnai ficou intrigado. “Você aí”, começou, dando um passo à frente. A mulher, no entanto, deu um passo para trás com um sobressalto.

Infelizmente, o grande radiante teve poucos negócios com os Qestir, e não sabia que a mulher não tinha interesse nele—apenas em seu pavilhão, que certamente atrairia muitos clientes em Reunion.

Um coro de risos, seguidos de pedidos de silêncio.

Irritado e confuso, Magnai agarrou o pulso da mulher. Ela congelou, seus olhos arregalados de terror.

Ela era fraca e ele forte, poderia facilmente ter esmagado o braço dela se essa fosse a sua intenção. Ele mesmo ficou surpreso ao descobrir isso. Ainda assim, segurou o pulso da donzela. Ela não era diferente de suas irmãs em estatura, mas era graciosa, e ainda não levantava a voz para ele. Poderia ser ela, ele se perguntou.

Magnai a encarou, como se procurasse a resposta. Procurando a cor em suas bochechas, esperando que ela levantasse a cabeça e olhasse em seus olhos e revelasse a lua com quem ele havia sonhado por tanto tempo. Ele faria mil orações em nome dos deuses ali mesmo, e naquele dia faria planos para a maior cerimônia de casamento que o Steppe já tinha visto…

Ah, se ao menos!

Pois a donzela trêmula, encolhendo-se sob o olhar de aço de Magnai, explodiu em lágrimas e balançou a cabeça fervorosamente em recusa! E naquele instante, uma voz cheia de veneno, uma voz como um trovão ecoou pelo o Steppe!

“Hahahaha! Aí está, tem a sua resposta! Agora, deixe-a ir. A menos que você goste de fazer meninas chorarem?”

Todos se voltaram para a mulher que estava afastada das outras. Uma mulher vestida com o azul dos imortais viera não para se oferecer, mas para observar a farsa. Destemida, ela caminhou em frente, cabelos brancos dançando na brisa.

Ela era Sadu, khatun dos Dotharl, que haviam lutado muitas vezes contra os Oronir pela supremacia do Steppe.

Sorrisos e acenos de aprovação e respeito.

Olhos arregalados, narinas dilatadas, Magnai soltou a donzela Qestiri, que abaixou a cabeça em agradecimento a Sadu e se juntou às outras mulheres, que estavam observando o confronto à distância.

“Então este é novo khan dos Oronir. Embora não tenhamos nos encontrado no campo de batalha, ouvi histórias de seus feitos… mas nenhuma de suas outras preferências. Que decepção.”

“Gedan sem modos. Não presuma entender coisas das quais você não sabe nada. Saia… ou junte-se às outras, se desejar. O sol ainda pode te abençoar.”

Sadu mostrou as presas em um sorriso largo—uma baras¹ de olhos azuis brincando com a sua presa. Ela avistou vários irmãos Oronir se aproximando, num instante puxou o seu cajado e fez a terra em chamas!

Os mais jovens recuaram de medo, e as outras mulheres fugiram. Mas, para seu crédito, Magnai apenas franziu a testa.

“Hah! Parece que assustei todas as suas pequenas luas. Ou talvez elas tenham ficado agradecidas pela desculpa?” Ela abriu os braços e ergueu o queixo, como se estivesse se aquecendo no calor de suas chamas. “Sua vitória não muda nada. O mundo não vai se curvar aos seus caprichos—muito menos nós Dotharl!”

Ela abaixou a cabeça, e em seus olhos só havia assassinato e alegria.

Um irmão correu para o seu lado e pressionou seu grande machado em mãos, antes de se retirar mais uma vez, pois isso era entre o khan e a khatun.

“Um dia”, ele foi ouvido sussurrando então. “Um dia te encontrarei. meu amor. Minha senhora do crepúsculo. Minha donzela etérea. Minha dançarina na névoa da manhã.”

Por três dias e três noites a batalha durou—o mesmo tempo que os Oronir lutaram para reivindicar o Dawn Throne. No fim, no entanto, nenhum deles conseguiu vencer o outro, e Khatun Sadu voltou para casa para lamber suas feridas e sonhar com vingança.

E o irmão mais radiante? Ele também voltou para sua casa—para os irmãos cuja felicidade ele ainda invejava, e para o trono que ele se sentaria sozinho. Completamente, inteiramente sozinho.

Mas quem pode dizer o que o futuro reserva?


¹Baras é o nome de um dos animais presentes na fauna de Azim Steppe e que se assemelha muito a um tigre com dentes de sabre.

 

Fonte: https://na.finalfantasyxiv.com/lodestone/special/tales_from_the_storm/sidestory_04/#sidestory_04
Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth

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