FFXIV | Contos da Tempestade: O Peso de um Nome

Tales from the Storm: The Weight of a Name

Contos da Tempestade: O Peso de um Nome

“E lá se vão, de repente. Outro esquadrão. Perdido.”

Os ombros de Conrad cederam enquanto suspirava e murmurava baixinho. Xingando os deuses ou si mesmo? M’naago observou seus olhos. Eles olharam para além dela, para além de tudo. O que você vê? As faces dos pobres bastardos que você mandou para East End, com certeza. Alguns dos nossos melhores.

Nenhum deles sobreviveu à emboscada.

A Resistência Ala Mhigan compreendia inúmeras facções, e as pessoas de Rhalgr’s Reach eram apenas uma delas. Por sua natureza, nunca poderia ser verdadeiramente derrotada pelo exército imperial. Mesmo assim, a perda de tantos soldados experientes, alguns dos quais lutaram por quase vinte anos seria sentida profundamente. Até uma maldita novata como eu pode ver isso. M’naago limpou a garganta.

“Nós não sabemos se os imperiais encontraram o túnel, senhor, mas mesmo se eles não tiverem… sem os nossos homens para os guiar, nossos amigos de Ul’dah provavelmente estão perdidos.”

Pelo canto do olho, M’naago espiou Meffrif, franzindo a testa. Bem, se você não vai falar…

“Senhor, se me permite… quem são essas pessoas, e por que nós estamos arriscando tanto para fazerem chegar ao lado errado da maldita Baelsar’s Wall?”

A pergunta óbvia foi respondida com braços cruzados e um olhar furtivo. Depois de um tempo, Conrad falou.

“Eles são os Scions of the Seventh Dawn. Velhos amigos. Um deles é a filha de Curtis Hext.”

A voz da rebelião? O homem que cuspiu no olho do rei louco? M’naago não estava certa da resposta que esperava, mas não era essa. Como esperado da bendita novata aqui mesmo…

“Nome é Yda,” Conrad continuou. “Após a ocupação, ela fugiu para Sharlayan. Aprendeu bastante lá, pelo que soube, mas nunca se esqueceu de nós. Yda tem nos auxiliado por anos desde então, como uma Scion.”

M’naago tinha ouvido falar dos Scions. Os “Salvadores de Eorzea”, como alguns chamavam. Porém se envolveram nas maquinações políticas de Ul’dah e agora as pessoas diziam que haviam assassinado a sultana. Parecia que Yda e seus companheiros haviam procurado a Resistência buscando um meio de escapar da justiça. O esquadrão de East End era a última esperança deles…

Pelo menos foi o que M’naago pensou.

“Nada a se fazer a não ser irmos os buscar nós mesmos.”, Conrad falou.


As folhas se retorciam e rodopiavam enquanto caíam ao chão, acompanhadas por dois pares de olhos nos arbustos.

“Tudo isso por duas pessoas. Não é a cara dele.”
M’naago se ajoelhou, flecha pronta em seu arco, tentando desesperadamente ignorar seu próprio batimento cardíaco. Deuses, odeio essa espera.

“Confie no urso velho. Ele não arriscaria se não valesse a pena.”

Meffrid, que foi encarregado de treinar M’naago, sempre foi a voz da razão. Ele havia contado a ela antes como os Scions foram fundamentais na campanha da Aliança de Eorzea contra a 14ª Legião—de como suas forças lideraram um ataque a Castrum Meridianum durante a Operation Archon¹, na qual Gaius van Baelsar foi morto. Esses aliados poderosos seriam inestimáveis para conseguir o apoio da Aliança, sem a qual eles não poderiam ter esperanças de libertar Ala Mhigo. M’naago fez uma careta.

“Se você diz…”

Meffrid olhou para ela de lado e então suspirou.

“Cá entre nós, eu acho que ele decidiu a recrutar. Talvez até a preparar para um posto de liderança.”

“Quem? Yda?”

“Pense só. A filha de um herói revolucionário, retornando para lutar pela liberdade da terra natal? Esse sim seria um conto que tocaria o coração dos homens. Esta seria uma bandeira para a qual as pessoas se reuniriam.”

Um conto de bardo, isso sim. Uma garota que ficou fora por vinte anos. Tudo que a gente precisava.

“Símbolos têm poder,” ele continuou. “Ouviu falar do Griffin?”

Ela acenou com a cabeça. Bastardo louco e suas Masks estão pregando vingança cruel para todos. Ninguém sabia sua verdadeira identidade, embora alguns afirmassem que ele era um parente distante de Theodoric. Alguns até achavam que isso era uma coisa boa. Qualquer um é melhor que Garleanos, é? Que se danem todos. Já estamos fartos de reis.

O grito de um falcão soou.

“Hora de ir, garota. Vamos, vamos!”

O par saiu do abrigo e correu em direção às rochas. A entrada estava bem escondida e não apresentava sinais de uso recente. Pouco tempo depois, enquanto rastejavam sobre as mãos e joelhos por um túnel estreito cavado mais de uma década antes, M’naago relembrou histórias de sabotagem imperial e corpos enterrados sob uma montanha de terra e pedra. Ela pensou em Conrad e nos outros. Lutando neste exato momento. Morrendo neste exato momento, talvez.

É bom que você valha a pena.


A dupla estava numa má condição quando finalmente entraram mancando no Reach. E que dupla eles eram. Sangrando e brigando, ainda fumegando sobre certa grande traição em Ul’dah, muito preocupados com seus companheiros, dos quais haviam sido separados em meio ao caos. Mas uma semana no Barber’s fez maravilhas para a disposição deles. Até certo ponto.

Papalymo, o taumaturgo, invariavelmente assumia que ele era a pessoa mais inteligente do recinto—uma atitude ainda mais irritante pelo fato de que ele invariavelmente era. Yda, por outro lado, era imprudente e impulsiva. Emocional. Mas ela tinha um jeito com as pessoas—um jeito de as fazer sorrir e pensar que tudo ficaria bem…

Ambos os Scions estavam ávidos a dar uma mão e retribuir a Resistência, e não demorou muito para que M’naago os visse como amigos e companheiros de luta. Mas quando ela pensou no que Meffrid disse sobre os planos de Conrad—sobre preparar Yda para ser uma líder, ela simplesmente não conseguia ver. Não ainda…

 

Era um dia como outro qualquer. M’naago e Yda foram encarregadas de escoltar Castrum Oriens e estavam se preparando para retornar para casa quando um lamento agudo cortou o silêncio.

“Uma mulher?” sibilou a batedora, subitamente alerta. “Não… uma garota!”

As vilas em East End tinham sido abandonadas há muito tempo, e apenas soldados imperiais utilizavam aquele caminho.

“Vamos conferir, Mnaago!”

Yda já estava correndo. Mas que inferno. M’naago tentou acompanhar o passo, mas logo decidiu apenas tentar manter a companheira à vista.

Após correr o que pareceu quilômetros, elas chegaram ao pé de uma grande árvore. Deitado em suas raízes estava um homem mais velho, inconsciente, sangrando por inúmeras feridas. Vestindo as cores da Resistência. Diante dele, uma garotinha estava soluçando. Seguiu o rastro de sangue, não foi…?

E então tudo fez sentido.

“Que inferno, acho que ele fazia parte do esquadrão que despachamos para encontrar vocês um mês atrás! Pensei que não havia sobreviventes!”

Yda se ajoelhou ao lado do homem e começou a cuidar de seus ferimentos. “Vamos ter tempo para perguntas mais tarde,” disse ela, sem se virar. “Pegue a garota e retorne ao Reach.”

M’naago piscou. “Ãhn?”

“Papalymo me contou sobre essa tática. Ele é a isca. Os imperiais provavelmente escutaram a garota também. Eles estarão aqui a qualquer momento.”

“Então nós temos que sair daqui! Nós duas! Isso ou ambas ficamos e lutamos!”

“A garota não é parte disso. Alguém tem de a levar. E esse homem é um dos nossos. Nós não podemos apenas o abandonar aqui!”

Mnaago encarou Yda. Três lutadores—um prestes a morrer—e uma garotinha chorando. Tudo muito perto de um maldito castrum.

Mas que inferno.

M’naago agarrou a menina pelo braço e tentou a levar para longe. Ela simplesmente ficou lá, petrificada. Mas que inferno! M’naago pegou a criança e a jogou por cima do ombro.

“Fique viva. Eu vou voltar.”

E então ela correu.

 

M’naago fez seu caminho para o norte atravessando a floresta, sua mente disparando. Leve a garota para um lugar seguro, chame reforços—mova-se!

Ela se agachou atrás de uma árvore e se esforçou a escutar.

“Ela não pode ter ido tão longe!” gritou uma voz.

Mulher. Perturbada. Ala Mhigan. Mãe. Graças aos Doze.

A mulher estava com vestimentas de caçador e tinha um arco apoiado nas costas. Ela encarou ao se deparar com M’naago à primeira vista, mas correu em sua direção quando reconheceu a garota em seus braços. Ela tentou agradecer enquanto tirava a menina de M’naago, mas a batedora já havia se virado e começado a correr de volta do caminho por onde veio.

É melhor que você esteja viva…

 

Corpos estavam espalhados pela clareira. Homens e mulheres em vestes de aço e tecidos negros. Uma patrulha inteira…

Estavam todos mortos.

Com cuidado, ela se movimentava entre os corpos, olhos fixos na única figura que estava de pé, manchada de lama, sangue e ofegante como uma besta selvagem.

Aquilo se virou quando chegou perto, punhos erguidos, dentes à mostra, rosnando baixo.

Por Rhalgr…

O tempo parece ter parado por um instante… então Yda deixou seus braços caírem e despencou aos seus joelhos, na sua cara uma imagem de desânimo.

“Papalymo vai ficar uma fera comigo.”

 

E, de fato, o taumaturgo castigou Yda quando retornaram ao Rhalgr’s Reach. Nem ela poderia culpá-lo. Foi estúpida e imprudente e impossível de justificar, e mesmo assim… E mesmo assim…

 

Dias depois, após Yda ter tido tempo para se recuperar, M’naago a encontrou parada na costa de Starfall e olhando para o Destruidor. Ela perguntou a Scion, ali mesmo, se ela consideraria se juntar à Resistência. Mas Yda recusou.

“Engraçado, você não é a primeira pessoa a perguntar. Eu disse não ao Conrad também.”

“Mas por quê? Essa é a sua terra natal—essa é a sua luta! Quer dizer, pelos deuses—você é filha do Curtis Hext! Pessoas seguiriam você, não consegue ver isso?”

Yda balançou a cabeça, então olhou mais uma vez para a estátua de Rhalgr.

“Eu sou sua filha—não ele. Eu possivelmente não sei de muitas coisas, mas eu sei que isso não é o bastante.”

M’naago abriu a boca para protestar, mas não conseguiu encontrar as palavras.

“Papalymo e eu ainda temos amigos lá fora. Boas pessoas que lutamos lado a lado várias e várias vezes. Depois que os encontrarmos, nós iremos trabalhar juntos para que dê tudo certo.”

Ela se virou e sorriu.

“É só isso que importa no fim, não é mesmo, Naago?”

 

No início, ela não tinha certeza de como responder. Mas M’naago se viu sorrindo de volta. Mas de que interessa como chamamos uma à outra, ela pensou—tanto ali quanto depois, quando Lyse lhe contou a verdade sobre sua irmã, a máscara e tudo mais.

Você ainda é a mesma mulher. A mesma amiga. Eu irei lutar com você.

E eu irei seguir você também.



¹ Série de quests ao fim do ARR 2.0

Fonte: https://na.finalfantasyxiv.com/lodestone/special/tales_from_the_storm/
Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth

Author: Aro
Idealista que se empolga com música, comida, pescaria, trocadilho, boas histórias, filosofia, animais, café, pessoas animadas e... na verdade, eu me empolgo fácil mesmo.

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