FFXIV | Contos da Tempestade: O Primeiro Passo

Tales from the Storm: The First Step

Contos da Tempestade: O Primeiro Passo

O clima na carruagem dos Flames era digno de um velório. Enquanto fingia olhar para a paisagem seca de Southern Thanalan, o jovem tentou em vão pensar em algo para dizer. Logo a frente, estava sentado o esquadrão de summoners recém-formados da grand company, almas corajosas encarregadas de combater as ameaças de primal—nenhum dos quais disse uma palavra desde sua partida. Silenciosamente, ele ensaiou uma primeira fala. Então—vocês são corajosos ou estúpidos ou os dois?

Embora ele e estes tivessem sido despachados para prestar ajuda nesta missão, eles ainda não haviam estabelecido um relacionamento com os soldados, e estava determinado a quebrar o gelo.

“Meu nome é Arenvald. Arenvald Lentinus”, finalmente conseguiu dizer. E quando nenhuma resposta veio, acrescentou, “Então—vocês… lutam contra primals com frequência?”

Nisto, o sumonner lalafell sentado em frente deu de ombros sem dizer nada. Por que eu ainda me importo… Mas então a mulher ao lado dele ficou com pena e respondeu.

“Com a frequência que as circunstâncias pedem, suponho. Crispin e eu lutamos com Ifrit quatro vezes até agora”, disse ela, gesticulando para o terceiro summoner, que descontraidamente aceitou o bastão da conversa.

“Embora nossa experiência seja pálida em comparação a do tenente. Jajasamu é da antiga Company of Heroes—ele enfrentou o Lord of Crags e sobreviveu.”

Ah, então ele é o expert. O tenente olhou brevemente para ele antes de desviar o olhar novamente, indiferente. Provavelmente se perguntando por que você está andando um par de zé ninguéns.

“Veteranos, então? Isso é um alívio. Vou tentar não ficar para trás.”

Assim que as palavras saíram de sua boca, ele se arrependeu de atuar esse papel.

“Malditos moleques inúteis. Se cê valoriza sua vida, cê vai fazer duas coisas: observar e aprender,” Jajasamu retrucou, antes de retomar seu ritual pré-batalha de ignorar todos.

Então é assim que vai ser né? Arenvald sufocou um suspiro e forçou um sorriso enquanto olhava de soslaio para sua companheira moleque, rezando para os Doze para que ela não piorasse as coisas. Mas se as palavras do tenente tocaram algum ponto sensível, ela não demonstrou. Seus olhos estavam fechados, seu rosto desprovido de toda a tensão, a própria imagem da serenidade. A calmaria antes da tempestade.

Talvez os dois estejam certos.

Aceitando a derrota, Arenvald abandonou seu plano brilhante de fazer amizade com o esquadrão antes da batalha e, ao invés disso, voltou sua mente às circunstâncias que o levaram a compartilhar uma carruagem com os summoners e Fordola Lupis.


O destino e os Scions conspiraram para trazê-lo de volta a Ala Mhigo, sua terra natal, e foi lá que eles se encontraram pela primeira vez—como inimigos mortais no campo de batalha. A mesma idade, o mesmo local de nascimento e, no entanto, de alguma forma, eles passaram a levar vidas tão diferentes. Ele, o filho mestiço de um soldado Garlean, expulso pela sua mãe, deixou Gyr Abania e se tornou um aventureiro, enquanto ela, uma filha puro-sangue de Ala Mhigo, recebeu uma educação imperial e sacou armas contra seus próprios conterrâneos.

No entanto, apesar de tudo que tentamos escapar, negar, nossos caminhos nos trouxeram até aqui.

Como um Scion, ele ganhou o respeito da Resistência e do povo de Ala Mhigo, enquanto ela, como uma traidora e assassina de conterrâneos, ganhou seu desprezo. Somente a morte pagaria as mortes, eles acreditavam—não estando, talvez, errados.

E então chegou o dia em que estavam do mesmo lado em um campo de batalha.

Representantes de toda Gyr Abania se reuniram para discutir o futuro de Ala Mhigo, apenas para que os procedimentos fossem jogados ao caos pela traição das Ananta. Sri Lakshmi, evocada por Qalyana, teria prendido todos os presentes à sua vontade, não fosse a intervenção do Warrior of Light, Arenvald… e Fordola.

“Está feito. Leve-me de volta para a minha cela.”

Com essas palavras, Fordola jogou a espada que Lyse Hext colocou em suas mãos quando a antiga Scion desafiou a odiada Butcher a tirar sua própria vida—como Zenos fez—ou usar seus poderes recém-descobertos para um propósito nobre. Arenvald os observou levá-la embora, enquanto debatiam mais uma vez o destino de sua compatriota e de suas colegas colaboradores. No final, foi Raubahn quem ofereceu a solução: o recrutamento. Uma nova unidade na qual alguns condenados podem cumprir sua pena em vez de em uma cela ou no fim de uma corda.

Embora outros tenham recebido a oferta, ficou claro quem eles mais queriam. Fordola provou ser capaz de resistir à influência dos primals. Suas habilidades como Resonant, juntamente com sua experiência em combate, fizeram dela um recurso inestimável na guerra sem fim contra os primals.

Uma arma.

Ela concordou.


Para fora da carruagem! Vamos, vamos!

As palavras do capitão Roegadyn que cavalgava com o cocheiro trouxeram Arenvald de volta ao presente. Com precisão praticada, os summoners sacaram seus equipamentos e desembarcaram, formando uma fila diante de seu superior. Arenvald seguindo logo após.

“Como vocês sabem, ontem, o Mestre Coultenet dos Scions nos informou de uma perturbação de aether nas proximidades do altar de Zanr’ak. Tal perturbação quase certamente pode ser atribuída a uma evocação primal.” O capitão andou para cima e para baixo pela fila, examinando os rostos de seus soldados. “Felizmente para nós, temos algumas armas secretas.”

Arenvald sentiu seus olhos sobre ele e Fordola.

“Arenvald dos Scions e Fordola da Resistência. Abençoados pelo Echo, os dois, então não há necessidade de se preocupar com eles ficando temperados. Dito isso, sou obrigado a divulgar certos detalhes sobre a…”

Ele viu seus rostos escurecerem enquanto escutavam – seus olhos se estreitavam, seus corpos tensos. Fordola inclinou a cabeça e riu. “Se eu fosse esfaquear vocês, seria pela frente, não pelas costas. Mas não se preocupem com suas cabecinhas—meu pescoço ainda está no laço do carrasco.”

Ela bateu na gargantilha incrustada com a pedra preciosa abaixo do queixo com dois dedos. Você pode confiar em palavras ou você pode confiar em magia. Se o taumaturgo da Resistência encarregado de ficar de olho em Fordola estivesse inclinado a isso, poderia desencadear o encantamento tecido no colar, fazendo-o gradualmente ficar mais quente e mais apertado, queimando lentamente sua pele enquanto sufocava a vida dela. Antes você do que eu. Um enforcamento adequado quebraria seu pescoço, pelo menos.

O capitão limpou a garganta e continuou. “Dados seus talentos, nós vamos fazer com que eles mantenham Ifrit à distância enquanto o esquadrão de summoners ataca de longe com egi e magias. Você terá healers como apoio, assim como a habilidade da mente da garota. Estarei direcionando as manobras diversivas para o sul. Alguma pergunta? Certo, então.”

 

Eles deixaram Forgotten Springs em conjunto e se aventuraram alguns quilômetros a leste de Sagolii, antes que o Capitão Wolf e seu contingente saíssem para sitiar um acampamento próximo de Amalj’aa, fornecendo ao esquadrão de summoners a distração que eles precisavam para seguir para o norte em direção ao Altar de Zanr’ak sem serem detectados. Arenvald então liderou o caminho por um desfiladeiro estreito, agarrando-se às sombras cerca de cinquenta passos à frente do grupo. Espiando um sentinela distraído, ele gesticulou para que seus companheiros parassem, e lentamente sacou sua adaga…

Limpando a lâmina, olhou para trás e sinalizou para os outros se juntarem a ele. Como um só, continuaram para o norte em direção ao altar, onde encontraram, como temiam, um anel de chamas e o Lord of the Inferno esperando em seu meio.


Mesmo após a batalha, ele lutou para se lembrar de detalhes da luta.

O primal foi convocado com uma quantidade simbólica de cristais, e Arenvald não se sentiu nem um pouco pressionado como durante a batalha com Sri Lakshmi. Os summoners e healers tiveram um desempenho admirável. Uma vitória conquistada no campo de treinamento, não no campo de batalha.

“Nós terminamos aqui. Todas as unidades, retirada!” Ao comando do Captain Wolf, eles partiram para retornar por onde vieram.

“Parados aí!”

Arenvald já estava correndo no momento em que ouviu o grito. Olhando para fora da cobertura, ele viu uma figura na chão segurando uma flecha em sua barriga, sua ponta de ferro preto projetando-se obscenamente de suas costas. Amalj’aa.

“Fiquem parados e fiquem quietos. Deixe a luta para mim e Aulie.”

“Arqueiros inimigos, cume oeste! Para atrás das rochas!”

Arenvald fechou os olhos, respirou fundo, e contou até quatro.

As flechas estavam chovendo ao redor deles agora. Erguendo seu escudo, ele partiu e correu em direção aos summoners para ajudar a defender sua retirada, e passou por Fordola correndo na direção oposta, a espada brilhando enquanto ela dançava através de uma saraivada de flechas.

“Eu sabia! Eu sabia que ela fugiria!” Jajasamu gritou com uma pitada de triunfo. Sinos de alarme soando em sua cabeça, Arenvald olhou para trás e viu que ela estava indo em direção ao soldado ferido—um homem da Resistência.

O taumaturgo.

Mas no momento em que Arenvald sentiu o estômago afundar nas botas e o punho da espada cravar-se profundamente na palma da mão, viu Fordola pôr o mago de pé e lhe oferecer o ombro. E então Arenvald estava correndo de novo, desta vez em campo aberto, sua armadura de prata brilhando à luz do sol enquanto ele gritava maldições e apedrejava os arqueiros no cume, desafiando-os a enfrentá-lo.

Depois de um tempo, as flechas diminuíram e os arqueiros desapareceram de vista. Melhor deixar o louco em paz, hein? Por um momento, ele se permitiu relaxar.

“Mantenha sua guarda, garoto!”

Arenvald aparou a primeira flecha em seu escudo e desembainhou a espada a tempo de cortar a segunda e a terceira. “Desculpe, A’aba”, sussurrou. O arqueiro, um bruto enorme de Amalj’aa usando uma máscara, mirou com cuidado. Maldito.

Com um grito, ergueu o escudo e atacou, diminuindo a distância e lançando todo o seu peso contra o inimigo mal preparado. Quando o arqueiro cambaleou para trás, Arenvald ergueu a espada e a desceu, partindo o arco do inimigo em dois enquanto o levantava em uma vã tentativa de se defender do golpe. O Amalj’aa caiu no chão, e a areia ao redor ficou escura e úmida. O silêncio era ensurdecedor, e Arenvald sabia que os companheiros do bruto estavam observando.

“Mas que infernos, essa foi a demonstração mais estúpida de ‘heroísmo’ que eu já vi em anos. E eles se perguntam por que eu odeio os jovens…”

Murmurando baixinho, o summoner ordenou seu familiar retornar para ele. Quando a massa flutuante de rocha passou por Arenvald, ele viu que a flecha final do mascarado Amalj’aa estava alojada em seu peito.

 

O clima na carruagem dos Flames era digno de um banquete de aniversário, os summoners todos sorriam enquanto conversavam entre si e até riam de algumas das piadas de Arenvald. Fordola sentou-se longe de todos, cotovelos nos joelhos, cabeça baixa, embora o Scion pensou que viu Jajasamu dando-lhe um olhar avaliador.

Antes de partirem, Arenvald estava com ela quando o taumaturgo se aproximou. Ela estava ajoelhada na areia, arrumando seu equipamento quando ele perguntou por que ela havia arriscado sua vida para salvar a dele. “As meninas precisam de seus pais”, foi tudo o que ela disse, antes de apertar uma correia final e embarcar na carruagem.

O homem se virou para ele, seu rosto uma imagem de perplexidade. “Eu nunca disse nada sobre ter uma filha.”

Ao que Arenvald só pôde dar de ombros e sorrir. “Palpite de sorte.”

Tudo começa com o primeiro passo.



Fonte: https://na.finalfantasyxiv.com/lodestone/special/tales_from_the_storm/sidestory_07/#sidestory_07

Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth

Author: Aro
Idealista que se empolga com música, comida, pescaria, trocadilho, boas histórias, filosofia, animais, café, pessoas animadas e... na verdade, eu me empolgo fácil mesmo.

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