FFXIV | Contos das Sombras: Antes de Nossa Cortina se Fechar

Tales from the Shadows: Ere Our Curtain Falls

Contos das Sombras: Antes de Nossa Cortina se Fechar

 

“Emet-Selch!”

Meu nome soou pelo Capitol, a voz do interlocutor ressoando pelo saguão.

Eu mal podia fingir que não tinha ouvido (infelizmente), e assim me virei para encarar meu perseguidor. Estive tão perto de escapar…

A voz pertencia, como sabia que seria, a um jovem de manto branco de baixa estatura, que estava correndo pelo corredor. Sua máscara vermelha o marcou como um dos membros da Convocation of Fourteen. Elidibus.

Eu o encarei com um olhar inquisitivo enquanto ele recuperava o fôlego. Quando finalmente ele falou, foi (como sempre) de maneira séria.

“Você já soube do vulcão que discutiremos na próxima sessão?”

“Sei que deveremos fazer algumas pirotecnias…”

De acordo com relatos que circularam entre a Convocation, houve atividade aetherica incomum em uma ilha vulcânica isolada—o que significava que uma erupção estava prestes a acontecer.

A ilha tinha uma vila e riqueza de terras férteis—tudo isso logo seria perdido. Mas esse era simplesmente o jeito do mundo. Como em muitos desses casos, nosso papel era meramente reconhecer o fato. Os ilhéus fariam a mesma coisa, e aqueles que julgavam conveniente provavelmente já haviam começado a se mudar para outro lugar. Embora fosse verdade que a Convocation pretendia discutir o assunto, a conclusão não seria menos inevitável.

Mas então por que Elidibus se aproximou de mim?

“Bem… Azem foi lá e está decidido a parar a erupção.”

Naturalmente. Senti minha sobrancelha franzir e lutei para reprimir uma carranca que ameaçava puxar minha testa para baixo sobre meus olhos.

“Como?” eventualmente consegui falar.

“Você já ouviu falar de Ifrita, sim? O espírito do fogo?”

“Obra-prima de Lahabrea. Um conceito impressionante, mesmo para ele.”

“É realmente incrível”, disse o jovem com fervor silencioso, a linha determinada de seus lábios se curvando em um sorriso. Geralmente, eu achava sua admiração ardente pelo resto do Conselho cativante—embora embaraçosa—mas naquele momento, estava bastante preocupado com as implicações de sua sugestão. É um milagre que minha sobrancelha tenha se recuperado.

Ifrita. Uma manifestação de aether concentrado de fogo. Pude ver o que Azem estava planejando: transformar o aether do vulcão em Ifrita, afastá-la e destruí-la em outro lugar. Isso dispersaria com segurança o excesso. Claro, o plano exigia que alguém adquirisse o conceito de Ifrita para Azem. Mas se esse alguém não era o próprio Lahabrea, quem mais poderia ser?

Como todos sabiam, os conceitos eram guardados no Bureau of Architect e nem todos podiam ser facilmente removidos para uso pessoal. O chefe da lugar, no entanto, poderia conceder acesso como quisesse.

Quem mais realmente. Imaginei meu amigo enviando alegremente Azem para a batalha sem pensar duas vezes. Esquecendo minha máscara, bati com a palma da mão na testa em exasperação—o que Elidibus rapidamente tomou como um sinal de que entendi a situação.

“Se as coisas saírem do controle, Azem pode ser censurado novamente”, e aqui o jovem fez uma pausa. “Mas tenho certeza de que isso não vai acontecer. Não com a sua ajuda.”

Minha testa retomou sua descida.

“… Muito bem. Mas você tem certeza de que é sábio para o emissário se aliar a uma figura tão divisiva?”

“Oh, eu não estou”, ele respondeu com destreza praticada. “Estou simplesmente dando à opinião de Azem sobre o assunto um peso justo. O resto dos Fourteen ainda não chegaram a um veredicto, afinal.”

Nesse ponto, eu não podia argumentar—embora não estivesse particularmente inclinado a concordar. E então dei de ombros, pensando interiormente que Azem tinha sorte que o atual emissário fosse uma alma tão gentil. Antes de nos separarmos, no entanto, não pude resistir a fazer mais uma pergunta.

“Você descobriu por que Azem está tão interessado em evitar essa erupção?”

O jovem franziu a testa, inevitavelmente se esforçando para relembrar sua conversa com Azem com a maior precisão possível. Afinal de contas, não seria bom para o emissário falar imprudentemente. Eu esperei educadamente.

“Se bem me lembro”, começou por fim, com o ar de quem está prestes a revelar uma grave verdade, “as uvas cultivadas naquela ilha são particularmente deliciosas. Ou assim disse Azem. Devem ser realmente notáveis.”

“De fato.” Eu não consegui acabar com a sua confiança. No entanto, prometi dar aos meus “amigos” uma palestra sobre prioridades.

Alegremente ignorante de meus receios, o jovem sorriu para si mesmo novamente e se despediu de mim. Enquanto ele se afastava, juro que o ouvi murmurar algo sobre a “perspectiva sempre refrescante” de Azem.

Esse é o tipo de pessoa que Elidibus era; ávido para cumprir seu dever, também respeitava e admirava a Convocation mais do que qualquer outra pessoa. Para muitos de nós, ele era uma espécie de irmão mais novo. E quando ficou claro que era o candidato mais adequado para o coração de Zodiark, não importava quão forte fosse nossa resolução… Não havia ninguém entre nós que não vacilasse.

Poderia ter havido algum choque maior, então, do que nosso reencontro subsequente?

Isso foi logo depois que Zodiark se tornou um com o planeta, e nossos Final Days foram evitados. O povo estava dividido, incapaz de decidir o que fazer com o futuro que agora se estendia diante deles. Muitos desejavam trocar a nova vida que havia surgido para recuperar aqueles perdidos em sacrifício a Zodiark. Nenhum pequeno número, porém, insistiu que o destino de nosso mundo deveria ser confiado a essas mesmas almas recém-criadas. Todos estavam em seu limite.

Imediatamente, nós o vimos, brilhando. Saiu do peito de Zodiark e se transformou na forma de um homem. Enquanto nos olhava— boquiabertos, sem dúvida—ele deu o que passou por um sorriso sincero.

 

“Não… temam… Vocês irão fazer… a escolha certa. E eu a irei realizar.”

 


Quanto tempo se passou desde então eu não me importava em lembrar. De qualquer forma, meu papel como Solus zos Galvus, fundador de um império, havia terminado e eu estava à deriva. Achei que poderia me contentar com um cochilo agradável e tranquilo na fenda por mais ou menos um século. Serviria para lavar o resíduo enjoativo de Solus, cujo corpo eu havia deixado na Source. Não se deve permanecer perpetuamente em um personagem.

Não que houvesse muito sentido em manter meu senso de identidade. Eu havia pensado mais de uma vez que seria mais fácil simplesmente acabar com isso e descartar completamente minha forma “real”. No entanto, dado o estado dos outros dois Unsudered, uma parte de mim estava convencida de que, se permanecesse persistindo, uma razão mais convincente do que um sentimento vazio acabaria por surgir.

“Emet-Selch.”

Meu nome soou na escuridão, me puxando de volta à consciência.

De novo? Optei por ignorar a perturbação, mas a voz era persistente. Mais uma vez chamou, mais perto agora.

Embora a voz fosse aquela que tinha me emboscado no Capitol há muito tempo, soava como se pertencesse a outra pessoa totalmente diferente. Talvez sim.

“Lahabrea se foi”, a voz disse suavemente.

Para nós, a morte não era o fim. Mas “se foi”…

“Sabíamos que esse dia chegaria.”

Fechei os olhos, deixando escapar um suspiro calculado, ou o que passava por um no vazio da fenda. Ele estava certo, é claro. A ousadia de Lahabrea só cresceu com o passar dos tempos—levando inevitavelmente à imprudência. Através de muitos receptáculos e muitos mundos ele abriu caminho, cada salto louco para frente deixando-o muito mais dividido. Não satisfeito por ter causado a Seventh Umbral Calamity, trabalhou desnecessariamente para prolongá-la.

Era sua afinidade com os conceitos de chama que o tornava tão parecido com o próprio fogo? Da inigualável Ifrita a aquele pobre pássaro irremediavelmente imortal, suas criações queimavam brilhantes e bonitas— assim como ele.

Ele deveria saber o que acontece com a chama, uma vez que tudo mais são cinzas.

Abri os olhos para ver o rosto do meu irmão, mas os lábios visíveis abaixo de sua máscara não tinham expressão. Ele nunca mais mostraria o que sentia por nós, como já o fez tão prontamente? Esses mesmos sentimentos foram perdidos há quanto tempo?

“O que foi, Emet-Selch?”

“Nada. Eu só estava pensando em como Lahabrea era semelhante às suas criações.”

“Suas criações?” Desta vez, tive pouca dificuldade em ler a incerteza de Elidibus. Ele não conseguia se lembrar. Se seus punhos cerrados fossem alguma indicação, compartilhava da minha conclusão: mais uma parte dele havia sido perdida. Desde o dia em que reapareceu para nós como a personificação da “esperança”, as marés do tempo conspiraram para levar os pedaços que restaram da pessoa que foi.

“Você não vai conferir o seu cristal?” perguntei.

Quando Elidibus ainda era Elidibus e Lahabrea ainda Lahabrea, nós coletamos todas as nossas memórias dos Fourteen e as gravamos no cristal, para que aqueles que um dia tomassem nossos assentos pudessem aprender. Elidibus iria, eu tinha certeza, encontrar muito dentro deste dispositivo para ajudá-lo a se lembrar—mas ele balançou a cabeça.

“Eu sou Elidibus. Contanto que me lembre do meu dever, isto é o suficiente. Qualquer outra coisa eu só perderia novamente no curso desta luta atemporal… e se essas memórias são realmente tão preciosas, por favor, não peça que eu as esqueça duas vezes.”

Neste ponto também, eu não poderia discutir—embora, novamente, dificilmente pudesse concordar. Do jeito que estava agora, no entanto, eu duvidava que Elidibus pudesse dizer que meu encolher de ombros foi notado.

“Eu vou para a Source, para acabar com aquele que derrubou Lahabrea”, disse ele, enquanto magias de teletransporte começaram a se agitar ao seu redor.

“Como um verdadeiro herói. Não é páreo para você, em outras palavras.”

“Devemos sempre nos preparar para o pior. Se quisermos ter sucesso, você também deve retomar seus esforços.”

Eu estava meio inclinado a dizer que preferiria dormir, mas é claro que ele já tinha ido embora, me deixando sozinho na escuridão.

 

Aquela foi a última vez que vi Elidibus.

 

E agora… ?

 

Agora todos os meus sortilégios foram derrubados,

E a força restante em mim, aos fragmentos soterrados,

Incrivelmente fraco, assim como a minha respiração

Oscilante à beira da defunção.

Era meu destino apostar tudo

Não impedindo o fim dos meus irmãos, contudo.

E assim o aether me chama

Para as profundezas da eternidade turva,

Para sonhar com coisas há muito perdidas,

E futuros que ainda podem ser conquistados—

Embora não por mim, para que você não se engane,

Pois outro espera, quão logo o palco ganhe,

E mesmo que seu valor esteja longe de ser confiável,

Eu ofereço ao fechar das cortinas—pausa.

Permita “bis” ser minha palavra final,

Seu epílogo à morte elegido.

 



Fonte: Tales from the Shadows | FINAL FANTASY XIV, The Lodestone

Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth

Author: Aro
Idealista que se empolga com música, comida, pescaria, trocadilho, boas histórias, filosofia, animais, café, pessoas animadas e... na verdade, eu me empolgo fácil mesmo.

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