FFXIV | Contos das Sombras: Ecos de Desilusão

Tales from the Shadows: Echoes of Delusion

Contos das Sombras: Ecos de Desilusão

A noite os encontrou em sua mesa habitual em Shiokaze Hostelry. Embora ele e seu companheiro de viagem já tivessem se tornado uma visão familiar em Kugane, poucos ali tinham alguma ideia do quão estranho esse par era—um matador de dragões, embora aposentado, e um dragonete.

“Foi bom você me tirar de nossa situação”, Orn Khai observou naquele tom insuportavelmente presunçoso dele—e não pela primeira vez. Mas desta vez, decidiu Estinien, já era demais. Com o rosto escurecendo, pegou um pedaço de lula seca ao sol, conhecida pelos locais como surume, do prato entre eles, fazendo o diminuto dragão piscar.

“Uma situação de sua autoria. Sua pista falsa que nos causou trabalho desnecessário.” Arrancando uma lula mastigável com os dentes, ele soltou um suspiro irritado. Deuses, como chegamos a isso? Mas a resposta ele conhecia muito bem.

Tudo começou em meio a fumaça e cinzas em Ghimlyt Dark, quando ele arrancou o Warrior of Light das garras da morte. Tendo levado seu camarada ferido para o acampamento Ishgardiano, ele prontamente se despediu, raciocinando que sua habilidade com uma lança seria mais útil no campo de batalha do que na enfermaria. E então voltou seus passos para a luta, disposto a emprestar sua força à Aliança… apenas para descobrir que não era mais necessária. Pois Zenos havia se retirado das linhas de frente, deixando as forças imperiais expostas e em desordem.

Desta maneira Estinien se viu vagando sem rumo pelos campos nevados de Coerthas, que é onde ele ouviu uma voz dracônica familiar chamando por ele—Orn Khai. No passado, ele havia ajudado o dragonete em sua busca para encontrar a consorte há muito perdida de seu senhor; uma viagem ao Far East que, ao que parece, deu à criatura o gosto pela aventura¹. E agora queria que Estinien o acompanhasse em outra.

“Eu não tenho interesse em bancar a babá”, Estinien respondeu em um tom que não tolerava nenhuma discussão.

Mas Orn Khai não havia desanimado. Tendo perguntado sobre a idade do Elezen, ele respondeu com um sorriso malicioso: “Eu vivi dez vezes mais que os seus anos. Parece que sou eu quem deve bancar a babá.”

E desta maneira a conversa deles prosseguiu, uma dor começou a se manifestar nas têmporas de Estinien, primeiro incômoda, depois furiosa, até que—levado ao limite de sua paciência—ele declarou com um grunhido, “Eu havia renunciado à matança de dragões, mas para você talvez abra uma exceção!”

Dito isso, ele havia sacado sua lança e feito como se fosse usá-la contra seu interlocutor—que devidamente aplaudiu.

“Sim, esse é o espírito!” Orn Khai exclamou alegremente antes de informar Estinien de seus planos. Ele tinha ouvido falar, explicou, de uma lenda intrigante—a de Seiryu, um dragão adorado no Far East como um guardião benevolente, mas temido em certos cantos como um demônio devorador de homens.

“Desejo averiguar a veracidade das histórias. Se este dragão devora carne humana como alguns acreditam, cabe a nós acabar com seu reinado de terror!”

E assim o Azure Dragoon partiu mais uma vez para o Far East, um companheiro de viagem nada disposto para um dragonete disposto até demais. E através de um esforço excruciante, andando para lá e para cá coletando informações, eles descobriram a verdade da lenda… para sua decepção mútua. Pois o dragão conhecido como Seiryu não era nenhum dragão—pelo menos, não do tipo que eles conheciam—mas algo mais parecido com uma serpente. E para adicionar ao seu desgosto, sua busca se arrastou muito mais do que o pretendido, se encontrando no limite de suas reservas. Por alguns dias foram forçados a suportar barrigas vazias, mas sua sorte mudou quando Orn Khai chamou a atenção do proprietário da hospedaria mais famosa de Kugane. Como muitos Hingan, a mulher acreditava que os dragões eram portadores de boa sorte, e ela lhes ofereceu pensão e alojamento em troca de atrair clientes.

 

E aqui estamos. Um espetáculo para bêbados.

“Que ingrato!” Orn Khai disse com falsa indignação. “Estou cada vez menos inclinado a queimar sua lula!”

Tão pouco quanto Estinien se importava com a petulância do dragão, naquele momento ele se importava menos com o vinho de arroz seco sem um acompanhamento saboroso. “Certo. Estou agradecido”, conseguiu responder, resistindo à vontade de revirar os olhos. “Agora me queime outro, sim?”.

Aparentemente apaziguado, Orn Khai cuspiu fogo sobre o surume, que exalou um aroma de dar água na boca enquanto estalava e chamuscava. Estinien esperou por um momento para esfriar antes de se servir de outra mordida desse lanche estranhamente viciante. Mesmo enquanto saboreava o sabor e a textura, passos soaram na direção da entrada da taverna.

“Bem-vindos à Shiokaze Hostelry!” Orn Khai saudou alegremente os fregueses recém-chegados.

Com um breve aceno de cabeça, Estinien respirou fundo para oferecer sua própria saudação desanimada, apenas para as palavras morrerem em seus lábios quando se virou e viu as duas donzelas lalafells de pé na soleira.

“Aí está você!” gritou a de quimono rosa. Embora ela tivesse adotado o traje local, não havia dúvida, Tataru Taru, recepcionista indomável dos Scions. E ao lado dela, ainda menos inconfundível em seu manto distinto, estava Krile Baldesion, encarando-o com os olhos arregalados. O que quer que a Arconte viu, claramente a divertiu, pois de repente ela foi atormentada por paroxismos de riso mal abafado.

“Perdoe-me”, disse lagrimando, lutando para respirar. “Ouvi dizer que o Azure Dragoon pendurou sua lança. Mas não esperava que ele pegasse a bandeja em seu lugar.”

A essa declaração, Estinien não pôde replicar. E por mais que a diversão dela o irritasse, acima de tudo estava preocupado com a sensação assustadora de que estava prestes a ser arrastado para outro caso incômodo.

Ele se virou para Orn Khai. “Já está na hora de seguirmos nossos caminhos separados, pequenino. Mas enquanto você permanecer aqui, você não vai precisar se preocupar com conforto. Adeus.”

Sem poupar outro olhar aos visitantes, Estinien pegou seu saco de viagem com a ponta de sua lança, balançou-o sobre o ombro… e saltou. Ele disparou para o andar superior da hospedaria, aterrissando graciosamente entre foliões assustados, que irromperam em aplausos arrebatados pelo que eles supunham ser uma performance. Desconsiderando a ovação, correu pela porta e saiu para a noite.

Ele soube imediatamente onde mirar seus passos—Kugane Ohashi. Do outro lado dessa ponte, ficava o resto de Shishu, cuja entrada era proibida a todos os ijins², exceto a alguns privilegiados. Certamente, seria o último lugar em que pensariam em procurá-lo. Mas mal havia se acomodado contra a balaustrada da ponte para deixar a névoa do vinho se dissipar de sua cabeça quando, por entre o tráfego que passava, as Lalafells apareceram novamente.

“Você sabe que eles não vão deixar você passar sem um desses?” Tataru acenou um pergaminho na frente dele, com escrita do Far East e um selo carmesim. Uma permissão de entrada… Por que não estou surpreso? Mas o que foi surpreendente foi a rapidez com que conseguiram localizá-lo. Naquele momento, um barco que navegava pelo canal abaixo por acaso se aproximou. Ele não parou para pensar e saltou para o mastro.

Alguns momentos e vários saltos depois, Estinien observava a cidade do telhado do Castelo Kugane, um sorriso de satisfação no rosto. Deixe-as tentar me encontrar aqui… Distraído, retirou o que restava de seu surume do bolso onde ele o havia escondido, levou-o à boca e… encarou. Em uma passarela próxima, duas Lalafells estavam surgindo, lideradas por uma lâmina Sekiseigumi com uma lanterna. Mas que bruxaria é essa?

Naquele instante, ocorreu a Estinien que elas poderiam ter uma boa razão para procurá-lo. O pensamento desapareceu rapidamente, no entanto. Talvez fosse o vinho—uma variedade potente originária da ilha principal—ou talvez fosse simplesmente sua natureza, mas quanto mais elas o perseguiam, mais determinado ele ficava para elidi-las. Só preciso escapar até de manhã. Assim resolvido, ele desceu do telhado e desceu, desceu, desceu até o chão.

 

Depois do que pareceu uma eternidade, o céu noturno começou a tomar o cinza do amanhecer. Um pouco mais, e o Kuroboro Maru deixaria o porto e levaria Estinien para longe, além do alcance dos problemas do Scions. Mas mesmo enquanto se permitia ter esperança, a mesma voz alegre que o perseguira a noite toda ecoou.

“Qualquer um pensaria que você estava tentando nos evitar!”

Você não pode estar falando sério… Resmungando por dentro, ele se virou para encarar suas perseguidoras implacáveis, sua mente a todo vapor enquanto considerava suas opções. Foi então que a mulher Baldesion caiu de joelhos, segurando a cabeça.

“V-você está bem!?” Tataru se agachou ao lado de sua companheira em estado de alarme. A Arconte claramente se esforçou demais durante o jogo noturno de gato e rato. Incapaz de se impedir de sentir uma certa culpa, ele estava prestes a estender a mão quando os ombros de Krile começaram a tremer de tanto rir, tão mal abafados quanto antes.

“Oh, Estinien… Nunca teria imaginado…” Ela fez um esforço para olhar para ele, mas a visão de seu rosto parecia apenas aumentar sua diversão, enviando-a para mais paroxismos.

“O que foi agora? Você viu algo do passado dele?” Tataru perguntou, sua voz cheia de curiosidade. Embora já estivesse a caminho de ser um dia quente, Estinien sentiu um calafrio capaz de rivalizar com uma noite de Coerthas. Ele sabia que, como o Warrior of Light e Ysayle, Krile era abençoada com o Echo, e podia perscrutar o passado através dos olhos de outra pessoa. Ele não conseguia chutar qual episódio mortificante de sua vida ela acabara de testemunhar. Havia simplesmente muitos.

Finalmente se recompondo, Krile ficou de pé e olhou Estinien com um olhar de pena. “Fique tranquilo. Não sou tão insensível a ponto de revelar o que vi. Não aqui e agora, pelo menos.”

Maldita seja até o mais profundo dos infernos.

“Mas deixemos isso de lado,” continuou docemente. “Nós estávamos esperando falar com você—se você tiver um momento?”

Os ombros de Estinien subiram e desceram enquanto suspirava em resignação. A perseguição tinha acabado.

 

Mais tarde naquela manhã, Estinien estava no convés de um navio mercante com destino a Radz-at-Han, a caminho do Império. Ele foi encarregado de encontrar—e se possível destruir—uma arma alquímica com o nome de Black Rose. Se deixados de lado, os Garleans inevitavelmente usariam o gás mortal contra seus inimigos, Ishgard entre eles. À parte o método de recrutamento, não podia ficar de braços cruzados enquanto seus camaradas eram ameaçados desta maneira, nem podia negar que estava bem preparado para a tarefa.

Enquanto olhava para o Ruby Sea, descansou a mão sobre o peso tranquilizador pendurado em sua cintura—uma bolsa de couro cheia de moedas. Os despojos de algum empreendimento lucrativo pertencente a lendas do Far East, de acordo com Tataru.

Mais uma viagem incômoda. Mas pelo menos não vou precisar me preocupar com dinheiro.

Enfiando a mão no saco de viagem, ele tirou um pedaço de surume recém tostado, um presente de despedida de Orn Khai. Deu uma mordida, certificando-se de mastigar lentamente. Não havia como dizer quando ele teria mais.

Mais ou menos na mesma hora, Tataru e Krile estavam sentadas em Shiokaze Hostelry, tomando refrescos com seu novo amigo Orn Khai.

“Então, nos diga, Krile…” Tataru começou, suas bochechas coradas pelo vinho de arroz, “que evento escandaloso do passado de Estinien você viu?”

Como o sol da manhã espreitando no horizonte, um sorriso tímido lentamente surgiu nos lábios de Krile. “Desculpe? O que lhe deu a impressão de que eu vi uma coisa dessas?”

Suas risadas barulhentas podiam ser ouvidas até a beira da água. Mas felizmente não além.



¹ Essa parte da história se refere as quests de Dragoon do nível 70.

² Forma de referência à estrangeiros.

Fonte: Tales from the Shadows | FINAL FANTASY XIV, The Lodestone

Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth

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