FFXIV | Contos da Dragonsong War: Através do Fogo e do Sangue

Tales from the Dragonsong War: Through Fire and Blood
Contos da Dragonsong War: Através do Fogo e do Sangue

Um suspiro de surpresa escapou de seus lábios quando os viu – incontáveis asas coriáceas, batendo ritmicamente logo acima. Milagrosamente, os dragões não demonstraram interesse nele, um solitário pastor cuidando de um rebanho que mal poderia ser contado como um. Não, seus olhos estavam voltados para algo mais substancial, e eles continuaram em direção a… Oh não. O medo se apoderou dele como uma doença. Ele começou a correr, por vezes pulando, outras rolando colina abaixo. Ao retornar para a trilha, seguiu para o leste, para onde os dragões se dirigiam – à vila.

Depois do que pareceu uma eternidade, o menino tropeçou na estrada lamacenta. Durante todo o caminho, disse a si mesmo que a vila poderia ter sido poupada, que os dragões tinham planos para algum outro lugar, mas agora a verdade se mostrara. Devastação por todos os lados. Pilhas de madeira lascada e entulho jaziam onde as casas ficavam, enquanto montes de feno, encharcados pelas chuvas recentes, expeliam nuvens de fumaça branca. Apesar de seu peito estar prestes a explodir pela súbita corrida, ver a carnificina o imbuiu de uma energia desesperada, e começou a correr mais uma vez. Embora os vapores acres sufocassem seus pulmões e ferissem seus olhos, não diminuiu o ritmo. Por favor, Halone! Por favor, que eles estejam seguros!

A Fúria não o ouviu. Virando uma esquina, seu coração ficou preso na garganta quando os restos de sua casa apareceram à vista. O telhado havia caído para dentro, derrubando uma das paredes junto. Passando pela cerca estilhaçada, ele encontrou seus pais. O braço de seu pai estava sobre sua mãe como se a protegesse do vento, mas a terra queimada contava uma história diferente. Ainda que uma dormência mortal tivesse começado a o dominar, suas pernas continuaram se movendo por conta própria, levando-o para dentro do chalé. Lá, avistou seu irmão mais novo esparramado no chão, seu corpo obscurecido pela alvenaria caída. Seu rosto estava intocado pela violência, sua expressão, serena. À primeira vista, parecia que estava simplesmente dormindo e abriria seus olhos a qualquer momento. O que o menino não teria dado para que isso fosse verdade.

Com as esperanças extintas, a força do menino por fim o abandonou, caindo de joelhos. Com a mão trêmula, ele a estendeu para acariciar o cabelo branco como a neve de seu irmão, lágrimas desenhando pálidas linhas nas bochechas enegrecidas pela fuligem. Mas a tristeza logo deu lugar à raiva. Ele amaldiçoou Nidhogg e sua ninhada por tirar dele tudo o que amava. E amaldiçoou o destino por tê-lo condenado a continuar vivendo.

“Acorde! Você não estava entre os caídos, pelo que me lembro!” Uma voz autoritária arrancou Estinien de seu pesadelo. Ele se viu encostado contra um afloramento rochoso. Com a visão embaçada, distinguiu uma silhueta masculina. Sua cabeça girando, murmurou o primeiro nome que lhe veio à mente, o de seu pai adotivo e mentor.

“Al… Alberic?”
“Não, amigo, infelizmente”, respondeu a figura. “Teríamos nos saído melhor se ele estivesse conosco. Aqui, beba isso e limpe a mente.”

Estinien aceitou com gratidão o odre oferecido e engoliu avidamente, a água acalmando sua garganta ressecada e restaurando seus sentidos. Parando depois de um longo gole, ele deu uma olhada no homem de cabelos escuros agachado ao seu lado. Sua armadura o identificava como outro Cavaleiro Templário. Pelas suas contas, já tinha certa idade, não mais do que alguns anos depois dos vinte. Estinien o tinha visto antes, mas não tinha um nome para associar ao rosto. Desde que entrou para a Ordem, sempre foi um lobo solitário, afastando-se do contato com seus companheiros em favor de aprimorar suas habilidades de combate.

“Meus agradecimentos, Ser…” Estinien começou.

“Aymeric, e com certeza ‘de nada’ “ o cavaleiro de cabelos escuros respondeu, uma pitada de divertimento em sua voz. Olhando por cima do ombro, seu tom se tornou severo, “Temo que sejamos os únicos sobreviventes.”

Recuperando seu discernimento, Estinien examinou seus arredores e abafou um suspiro. O campo chamuscado estava coberto com os corpos de uma dúzia de cavaleiro, suas armaduras enegrecidas e suas carnes razoavelmente cozidas. Em um instante, tudo voltou.

Ele e sua unidade foram despachados para Ever Lakes em resposta ao avistamento de um dragão. Enquanto cruzavam terreno montanhoso, uma besta vermelha massiva havia descido sobre eles. Metade morreu em seu bafo abrasador antes mesmo que pudessem sacar suas armas. Liderando o contra-ataque, Estinien sucedeu em ferir e repelir o dragão, apenas para sucumbir à fumaça. Embora o ar tivesse clareado, o fedor da grama queimada ainda persistia. Combustível para aquele sonho maldito. A lembrança, junto com a cena da carnificina, atiçou nele o fogo que sempre ardeu – a vingança.  Tal dor que sofri, eu irei os fazer passar por isso mil vezes pior.

Estinien voltou sua atenção a Aymeric mais uma vez. “Eu tenho um talento especial para sobreviver.” Quer eu queira ou não.

Ele se levantou com dificuldade. Uma onda de tontura o abalou, e quase se viu de volta ao chão. Botando-a de lado, pegou uma lança para repor a que tinha perdido. Satisfeito com sua ponta, se virou para sair. Depois de um momento de silêncio confuso, Aymeric chamou sua atenção, “O Holy See é para o outro lado.”

“Você está livre para retornar,” Estinien respondeu de maneira simples. “Mas eu pretendo terminar o que nós começamos.”

“Você quer ir atrás da besta sozinho!? Isso equivale a suicídio! Além disso, nós não temos nenhuma maneira de a rastrear!”

Um sorriso familiar apareceu no rosto de Estinien. “Ah, mas nós temos. Contemple,” disse ele, apontando para um rastro de sangue. “Do golpe que dei no seu abdômen.” Com isso, ele girou sobre seus calcanhares e se afastou antes que Aymeric pudesse pronunciar outra palavra de protesto.

 

Por horas a fio, Estinien caminhou. A trilha sanguínea o conduziu através de colinas e vales, florestas e planícies. Por fim, desceu por uma ravina, onde repentinamente mudava e terminava caverna adentro. Estinien respirou fundo e entrou, seus olhos gradualmente se adaptando à escuridão. Cerca de cem passos após a entrada, a caverna se abriu em uma câmara. E lá, na outra extremidade, ele encontrou sua presa, sua forma escamosa bem enrolada. Irei lhe mostrar um pesadelo tal qual você me mostrou.

Estinien sacou sua lança, checando seu aperto uma vez , e novamente para garantir. Então ele atacou. A rajada de passos despertou o dragão, que se ergueu em fúria e berrou um desafio ensurdecedor. No instante seguinte, um fluxo de chamas rodopiantes irrompeu de sua boca. Antecipando isso, Estinien mergulhou longe do calor fulminante, rolou e se recompôs ao alcance de um ataque seu. Infalivelmente, deu uma estocada rumo a asa do dragão, rasgando a pele coriácea, e foi recompensado com um uivo de dor.

“Você não vai escapar de mim de novo!” Estinien rugiu. Mas seu inimigo não tinha intenção de fugir. Não, ansiava por seu sangue mais do que nunca, e veio atrás dele com uma vingança. Então começou um jogo de gato e rato.

O dragão atacou com fogo, presas e garras. Usando a geografia da caverna a seu favor, Estinien conseguiu escapar do pior de sua ira, revidando quando a oportunidade se apresentava. E assim a dança continuou por um tempo, sem que nenhum dos lados conseguisse levar vantagem. Eventualmente, no entanto, o rigor da batalha começou a afetar Estinien, e a lança ficou pesada em suas mãos. Devo terminar isso rápido…

No fim das contas, a própria caverna seria a primeira a sucumbir. Abalada por incontáveis golpes irregulares, um aglomerado de pedras se soltou e choveu sobre Estinien repentinamente. Apesar de ter conseguido se atirar para longe na hora certa, ele recuperou seu equilíbrio a poucos passos de seu inimigo. Perto demais. A cauda do dragão o atingiu em cheio no peito, fazendo-o voar para a parede da caverna. Dobrou-se no chão, seu fôlego nocauteado assim como ele, e permaneceu inerte à medida que seu inimigo se aproximava para desferir o golpe mortal. Bastardo sortudo. Com a visão já escurecendo nas bordas, ele se agarrou à consciência, e desejou que seu corpo se movesse. Mas este não obedecia.

Um instante depois, o dragão pairou sobre ele, seus olhos fundidos e impregnados de ódio, o tempo pareceu desacelerar. Ele assistiu impotente enquanto a besta enchia seus pulmões, e olhou para sua mandíbula enquanto a morte ígnea brotou de dentro dela e começou a rastejar em sua direção. Mas apenas quando parecia certo que ele seria engolfado, a cabeça da criatura balançou para o lado, espalhando fogo por toda parte e em parte nenhuma. Estinien não parou para se perguntar o porquê.

Reunindo o que restava de sua força, ele saltou no ar. E no auge de seu salto,  tornou-se um com sua lança e desceu, traçando um arco digno do próprio Azure Dragoon. Com toda a força de seu peso, ele caiu sobre seu inimigo. A besta estremeceu, colapsou ao chão, e ficou imóvel.

Meio atordoado, Estinien apreciou a vista do primeiro dragão que matara. Só então percebeu a flecha saliente em um dos seus olhos. Momentos após, um semblante familiar emergiu das sombras para ficar ao seu lado, um arco longo em mãos. Estinien franziu a testa.

“Este não é o caminho para o Holy See.”

“Eu sei. Mas achei que a jornada para casa seria mais rápida em boa companhia.”

“Você tem meus agradecimentos, Ser… ?”

Um sorriso torto se formou nos lábios de seu salvador. “Aymeric. E já seria agradecimento o bastante você lembrar meu nome… embora eu não me oporia a uma caneca de cerveja em Ishgard.”

Apesar de sua exaustão, Estinien não pôde deixar de retribuir o sorriso largo.



Fonte: https://na.finalfantasyxiv.com/lodestone/playguide/#side_storyes
Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth

Moogles unidos para ajudar outros moogles, kupo! (perfil para publicação de colaboradores)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *