FFXIV | Contos da Dragonsong War: Palavras não ditas

Tales from the Dragonsong War: Thoughts Unspoken

Contos da Dragonsong War: Palavras não ditas

Seja presente, mas não intrusivo. Preveja, mas nunca presuma. Cabeça baixa, ouvidos atentos, andar suave, ele estava sempre pronto para servir, como havia feito por quase cinco anos. Embora querido por aqueles ao seu redor, para os senhores e senhoras era apenas mais um rosto sem nome entre os incontáveis que trabalhavam incansavelmente para a Casa Fortemps. Mas o seu dia chegará—pois não vivemos em tempos de mudança?

O fim da Dragonsong War foi apenas o começo. A mansão tinha visto desde então um aglomerado interminável de personagens estimados, ávidos a prestar seus respeitos ao velho conde e ganhar o favor do novo. No entanto, nem todos eram tão calculistas—os representantes recém-eleitos dos Commons¹ pareciam menos interessados em jogar o grande jogo e mais em simplesmente aprender suas regras. Pobres coitados.

Dobrando em um dos corredores da mansão, o criado se viu cara a cara com o mordomo-chefe da casa.

O velho lobo sorriu. “Ah, aí está você. Ande comigo. Há um assunto delicado que não confiaria a mais ninguém.”

“M-mas é claro, Mestre Firmien!”

Ele ouviu de maneira atordoada enquanto seu superior listava a documentação legal que servia como prova da reinvindicação histórica da Casa Fortemps sobre Camp Dragonhead, que o conde aparentemente exigia por razões que Firmien não divulgou. Parando em uma das janelas, o mordomo cruzou as mãos atrás das costas e inclinou o queixo em direção ao sol de meio-dia. “Você deve chegar antes do anoitecer se sair agora. E para que não sobre nenhuma incerteza persistente: você não deve voltar sem esses documentos. Fui claro o suficiente?”

O criado engoliu em seco e deu um aceno sério com a cabeça, quando uma silhueta no pátio abaixo por acaso chamou sua atenção. Mesmo à distância, o homem era inconfundível. Matador de Deuses. Cavaleiro de Dragões. Salvador de Ishgard.

“Mestre Firmien, aquele não é o Warrior of Light? Disseram-me que ele ficaria conosco por um tempo.”

“Cheguei a entender que ele pretende fazer uma jornada de recordação—inspirado por um de seus companheiros, pelo visto. Vamos rezar para que ambos retornem à mansão em breve.”


O céu a oeste queimava em cores carmesim às costas do criado quando foi conduzido ao grande salão em Camp Dragonhead. Lá, os cavaleiros ouviram pacientemente enquanto ele detalhava sua tarefa, e obteve total liberdade para procurar pela a fortaleza os documentos necessários.

Logo se tornou claro que a tarefa seria longe de simples. Apesar de todas as excelentes qualidade de Lorde Haurchefant, o falecido comandante da guarnição claramente não era um homem para papelada, sua abordagem aos aspectos administrativos de sua função aparentemente equivalia a enfiar relatórios, programações e contas nas gavetas de sua mesa ao acaso. Os jovens escudeiros também não ajudaram, pois nenhum deles tinha a menor ideia de onde o seu mestre poderia ter guardado documentos de maior importância, a não ser pelo seu escritório.

Com um suspiro, ele pediu por tinta e papel. Seu dia irá chegar… apenas espere…

Por respeito, o criado se absteve de revistar os aposentos privados de Lorde Haurchefant na primeira noite, mas depois de se provar uma infrutífera, pediu para que fossem destrancados na manhã seguinte. Mesmo assim, nada encontrado. Suas esperanças foram ainda mais frustradas ao meio-dia, quando chegou um corvo com a resposta simples do mordomo-chefe. Não faça perguntas que você não quer que sejam respondidas.

E então o criado permaneceu em Camp Dragonhead, vasculhando cada canto em que documentos poderiam ter sido armazenados de maneira razoável—e muitos outros locais em que não estariam dessa maneira. Com o passar dos dias, começou a alimentar fantasias elaboradas sobre o destino desses papeis. Talvez um bando de goobbues das terras mais altas passou pelos portões sem serem vistos e…não—um ladrão goblin! Sim, um ladrão goblin teria pouca dificuldade em esconder cem desses documentos nos muitos compartimentos secretos de sua mochila…

Secretos…

Nas horas próximas ao crepúsculo de mais uma noite sem dormir, o criado se dirigiu mais uma vez aos aposentos privados de Lorde Haurchefant, lâmpada tremendo em mãos. Imediatamente foram atraídos para a mesa.

Ele encontrou a gaveta com fundo falso quase imediatamente.

“Glória à Fúria,” sussurrou enquanto buscava pelos documentos dentro do compartimento. Não havia dúvidas em relação aos selos. Quando os puxou e começou a os folhear, um envelope escorregou entre seus dedos e caiu no chão. Ajoelhou-se e viu que não tinha marcas. Não estava nem lacrado… Intrigado, colocou os outros papeis da mesa, pegou o envelope e tirou o pergaminho que estava dentro.

Oh… droga.


Meu mais querido amigo,

 

Eu rezo para que esta missiva o encontre em boa saúde e alto astral.

Já se passaram vários dias desde que você e Mestre Alphinaud embarcaram em sua jornada ao oeste, sabendo da iminente invasão Dravaniana. Claro, não tenho como saber quando essas palavras chegarão a você. Talvez esses tempos conturbados sejam apenas uma memória distante quando o fizerem.

Percebo que assuntos de grande importância precisam de sua atenção no momento, mas quando olhei para os céus distantes outro dia e me vi orando por seu retorno seguro, senti-me compelido a juntar tinta e pergaminho. Perdoe-me por esta indulgência.

Bem, o que escrever. Eu normalmente perguntaria se estaria aproveitando o seu tempo em Ishgard, mas dadas as circunstâncias de sua vinda, e seu subsequente envolvimento em mais uma batalha que não era sua, talvez fosse melhor que eu não o fizesse. Imagino que já seja uma história familiar demais. Mesmo assim, dói-me dizer que é aflitivamente fácil imaginar você lutando até o amargo fim, de qualquer jeito…

No entanto, não posso negar que meu coração encheu de alegria ao ver você finalmente colocar os pés em nossa bela cidade. O pensamento de que eu seria capaz de testemunhar seus feitos diários de heroísmo em primeira mão foi simplesmente… Bem, digamos que eu estava tremendamente grato por isso. E a idéia de que pudesse lutar mais uma vez ao seu lado não parecia menos emocionante!

Ah, sim, algo que queria dizer—espero que minha decisão (provavelmente equivocada) de nomear sua casa longe de casa como Falling Snows não tenha agradado. Foi apenas minha tentativa ingênua de levantar seu ânimo. Quando você nos procurou em sua hora difícil, e vi em primeira mão como Mestre Alphinaud estava totalmente desanimado, soube imediatamente que deveria fazer tudo ao meu alcance para o ajudar a preservar a luz do amanhecer, seja como um amigo (com uma brincadeira) ou como aliado—por isso decidi fazer uma petição ao meu pai em seu nome.

 

 

Sendo franco, não foi nada fácil para mim.

Para que não fique um mal-entendido, meu pai é um homem honrado, bom e verdadeiro. Sem dúvidas, foi por isso que minha falecida mãe se apaixonou por ele. Talvez seja também por isso que ela achou melhor deixar o serviço à família—para que ao fazê-lo, poderia ajudar a preservar sua reputação, embora tenha escolhido me colocar sob os cuidados dele.

Ele a amava, é claro, como tenho certeza de que me ama, de forma mútua, devo completar, embora nós raramente falemos dessas coisas. Logo nossas conversas são invariavelmente breves.

Talvez seja por isso que escolhi me tornar um cavaleiro.

Infelizmente, meu pai foi firme na recusa, pois embora tenha apoiado nossos esforços compartilhados com Revenant’s Toll e os Scions no passado, fornecer refúgio seguro para fugitivos procurados era uma questão completamente diferente. Ainda assim persisti, levando meu pai a perguntar o que poderia ter me levado a lutar de forma tão fervorosa em seu nome.

E então eu contei a ele sobre o homem que inesperadamente entrou em nossas vidas—um modelo brilhante e reluzente de virtude, cuja apenas sua presença já levava outros a serem melhores do que eles mesmos. Eu disse a ele que esse homem, esse meu querido amigo, era um herói, mentiras e calúnias que se danassem, e como amigo dele, era simplesmente justo que o ajudasse.

Pensando agora, pode bem ter sido a conversa mais longa que tivemos.

Após isso, ele simplesmente me encarou em silêncio pelo que pareceu uma eternidade. E então, quando tinha decidido partir, disse que me daria sua resposta pela manhã.

O resto, você sabe.

Graças a você—e indiretamente ao meu pai—tenho começado a apreciar ainda mais minhas visitas à mansão. Você raramente está por lá, é claro, dada a sua propensão de desaparecer em grandes aventuras, mas eu o perdôo porque a maioria é realizada em nosso nome! Na verdade, apesar de sua famosa calma disposição, suspeito que, dado o incentivo certo, você teria algumas observações decididamente coloridas a compartilhar. Ficaria honrado em as ouvir um dia—talvez com bebidas!

Talvez irá lembrar de mim como faceto. Então, por favor, permita-me falar claramente.

 

Meu mais querido amigo, em quem confio sem hesitação, sem incertezas—

Aconteça o que acontecer, eu sei que você vai se esforçar.

Você se esforçará e, no fim, triunfará, nesta jornada e na próxima, e na próxima e na próxima.

E quando tiver lutado em todos os campos de batalha, apenas para descobrir, mais uma vez, que não foi suficiente—

Eu vou estar lá.

Isso eu prometo. Isso eu juro.

 

Além da noite mais escura aguarda um novo alvorecer. Rezo para que você o saúde com um sorriso.

 

Seu amigo,
Haurchefant Greystone


A neve fresca estalava sob os pés enquanto o criado se arrastava pela trilha em direção a Providence Point no dia seguinte.

Com os olhos turvos pela falta de sono, partiu ao ouvir que o Warrior of Light havia passado pelo acampamento menos de uma hora atrás. Ainda nessa jornada dele. Embora a neve conspirasse contra a cada árduo passo, seguiu em frente, consciente de sua tarefa, pois o envelope estava pressionado contra seu peito em chamas.

Chegando ao topo da colina, o criado diminuiu a velocidade ao avistar a figura logo além das pedras erguidas. Ao retirar a missiva não enviada de seu casaco e se aproximar, ele abriu a boca para chamar, apenas para as palavras ficarem presas em sua garganta.

O Warrior of Light se ajoelhou diante do memorial, imóvel. Mesmo à distância, o criado conseguia distinguir seu rosto, uma máscara que nada denunciava… E então, com brutalidade militar, ele se levantou, um sorriso curioso se espalhando por seu rosto. Você sabe, não sabe? Tudo o que ele nunca teve a chance de dizer…

Naquele instante, os ventos do norte reivindicaram a carta, arrancando-a da mão do criado e a levando para os céus. Ao erguer a cabeça para cima e proteger os olhos, ele a viu espiralar cada vez mais alto, até que por fim foi engolida pelo sol distante.

 

 

 



¹ Após a queda de Nidhogg, o governo de Ishgard passou a utilizar um modelo republicano bicameral, onde as políticas seriam decididas por uma câmara de senhores e outra de plebeus. House of Commons seria essa segunda categoria.

 

Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth

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