Você se interessa por uma história onde adolescentes vivem uma aventura em um mundo onde os desejos mais profundos das pessoas se materializam, onde suas armas são pistolas, metralhadoras… e monstros bizarros relacionados à mitologias antigas e à psique humana? Eu disse que tudo isso acontece em um RPG tático? E com um visual que parece saltar de dentro de um quadrinho e te inundar com uma enxurrada de nostalgia? Então você está no lugar certo.
Olá Moogles, aqui NÃO é a Yu, e ontem, dia 17 de novembro de 2023, foi o lançamento de Persona 5 Tactica! A Atlus fez a gentileza de nos enviar uma key antecipada do jogo e, por isso, eu, Dunncan (eu avisei que não era a Yu!) venho trazer uma Review e primeiras impressões desse jogo que, já adianto, me cativou desde a cena de abertura!
Antes de começar, fica o aviso: Essa review levará em consideração apenas o primeiro arco, ou “mundo” do jogo, o que se traduz em algo entre 8 e 10 horas de jogo, e conterá pequenos spoiler sobre essa parte. São spoilers menores, sobre mecânicas e aspectos gerais, sem entrar em detalhes profundos sobre as histórias e os personagens, ou qualquer coisa que possa estragar a primeira experiência de qualquer jogador. Dito isso, vamos lá!
Lição de casa
Aspectos técnicos e desempenho
Antes de falar do jogo em si, vamos ao básico, os aspectos técnicos. A versão jogada foi a de PC, na Microsoft Store. Os requisitos do jogo são:
O computador usado foi um Core i7 10700K, com 32GB de RAM e uma NVidia Geforce RTX 3070. Todas as configurações gráficas estavam no máximo, com V-Sync habilitado, resolução 4K Borderless Window em um monitor de 27 polegadas 60Hz. O FPS estavam travados em 30, configuração que não podia ser mudada dentro do jogo. O que também não podia ser mudado era o idioma da legenda, que estava em inglês, o que pode ser uma decepção para quem esperava o jogo em pt-BR. Mas, na parte de áudio, o voice acting em japonês era uma opção.
O jogo rodou perfeitamente liso, sem problemas, como esperado. Persona 5 Tactica (ou P5T, como será chamado daqui em diante) não é um jogo graficamente exigente ou “CPU heavy”, como pode ser visto na sua tabela de requisitos. O que é mais interessante destacar aqui, entretanto, é como a experiência em um monitor 4k de 27 polegadas foi excelente. Isso porque o jogo, que também sai para Nintendo Switch, foi planejado para ser agradável desde telas menores, como do portátil da Nintendo, até TVs maiores. Muitas vezes, os jogos se perdem no caminho, com menus minúsculos nos portáteis, ou elementos grosseiros e gigantescos em telas maiores. P5T não apenas não comete esse erro mas, muito por conta da sua direção de arte, que veremos mais a frente, oferece uma experiência visual incrível em todos os tamanhos de tela.
Não foram registrados bugs gráficos, crashes e nenhum outro aspecto técnico desagradável. Agora sim, com isso fora do caminho, vamos falar do que importa!
Apresentação
Que fofinho!!!
A primeira sensação ao ver o trailer de abertura de P5T foi um misto de nostalgia e empolgação. Isso porque o jogo se apresenta com um visual cartunesco, ou “chibi” para os que preferem termos em japonês, e os riffs de guitarra que abrem o trailer dão o tom da aventura. Como já é comum na série, a sensação de estar assistindo a abertura de um anime está presente aqui, mas com um twist: o design traz misturado muito do “feeling” das produções ocidentais.
Para quem cresceu com os velhos clássicos da Cartoon Network como Meninas Super Poderosas e Samurai Jack, com os novos já clássicos Steven Universo e Jovens Titãs, ou ainda para os fãs do lendário Astro Boy, a sensação é a de estar sentado na frente da TV para assistir um novo episódio.
O jogo mescla o tradicional 3D com arte 2D “chapada” dos personagens em diálogos e menus. E esta parte 2D segue uma direção de linhas e cores simples e vibrantes, que funcionam tão bem que você quase pode sentir a textura do papel couchê nas mãos, como se virasse as páginas de uma HQ a cada diálogo. E esta é a segunda impressão que o jogo passa, logo nos primeiros minutos: a de que estamos lendo uma HQ “animada”.
Os balões de diálogo, a escolha de como animar os personagens nas interações e, principalmente, o modo como algumas das animações são montadas, nos passam a impressão de estar “lendo uma revistinha” com aqueles personagens. E tudo isso funciona muito bem, com uma direção de arte e dublagem incríveis! Para fins dessa review, o jogo foi jogado com o áudio em Inglês, com as vozes já conhecidas dos personagens da franquia.
A mescla de cartões de personagens e balões, cortados por animações em estilo quadrinhos 2D e cutscenes em 3D, fazem a experiência ser extremamente agradável ao longo do jogo.
Os menus e interfaces da série Persona são sempre um show à parte, e aqui não é diferente. Cada menu, interface e dica visual é extremamente personalizada e vale ser apreciada por si só. A atenção ao detalhe na estética do jogo está presente em cada aspecto do jogo, assim como nos outros jogos da franquia, e a identidade visual, um forte da série, é extremamente importante aqui. O mesmo pode ser dito dos sons e animações. Seja um cursor andando entre opções ou uma animação de transição de menus, tudo é extremamente agradável, imersivo e, de longe, reconhecível por qualquer pessoa que já jogou qualquer jogo da franquia.
História
Si vis pacem te ipsum vince
Aqui vale um esclarecimento: Eu não “joguei” Persona 5. Eu acompanhei a história do jogo, na época, enquanto pessoas ao meu redor jogavam e conversavam sobre, mas não pude, por diversos motivos, jogar o jogo. Por conta disso, eu me encontro em uma posição interessante: eu conheço o plot do jogo, os personagens, suas histórias e linhas gerais, mas não me lembro de detalhes específicos. E digo isso pelo seguinte: a história de P5T se passa após os eventos de Persona 5, sem um ponto específico no tempo, mas parecem ser alguns meses depois dos eventos do jogo.
Os personagens começam o jogo conversando no Le Blanc, fazendo planos para o próximo ano e discutindo como será quando alguns deles forem para a faculdade enquanto, na TV, a notícia do desaparecimento de um jovem e promissor político é veiculada. Enquanto a cena se desenrola, algumas coisas estranhas ocorrem, e os personagens vêm uma porta estranha surgir na entrada do café. Intrigados, os mesmos atravessam essa porta, se vendo no que parece ser o Metaverso, com seus disfarces de Phantom Thieves e Mona em sua forma verdadeira. E aqui, a pergunta óbvia surge: “Eu preciso ter jogado Persona 5 para jogar P5T?”
A minha resposta simples é: não. Mas como nada na vida é simples, vamos lá.
Os eventos de P5T derivam diretamente de Persona 5. Os personagens discutem com frequência o Metaverso, e as diferenças entre o mesmo e o local onde estão agora. O conhecido grupo de amigos está entrosado como sempre, e a dinâmica entre eles se mantém a mesma do jogo anterior. Portanto, para quem jogou P5, a sensação é de estar assistindo mais a um spin-off do que uma continuação, mais uma vez acompanhando a jornada dos personagens que conhecemos por tanto tempo.
E para os novos jogadores? Para estes, o jogo oferece algumas explicações bem colocadas nos diálogos. Logo no início do jogo, somos apresentados para a nova personagem, Erina, e a mesma passa a fazer o papel desse “jogador novato”. Desconhecida do grupo, ela vai fazer as perguntas que os novos jogadores farão e, através dos olhos dela, entenderão quem são aqueles personagens e as coisas que eles passaram juntos.
Então temos duas experiências: o jogador veterano se sente parte daquele grupo. Entende as piadas internas, está intrigado com o mistério desse novo lugar onde se encontram, e empolgado com a nova aventura pela frente.
O jogador novo se sente como Erina. Ela só conhece os problemas deste mundo, sem saber que existem outros além desse. O grupo dos Phanton Thieves tem toda uma história juntos da qual ela não fez parte, mas sabe que os mesmos possuem os mesmos ideais que ela, e que, juntos, podem superar os difíceis desafios que estão pela frente. Além disso, todos eles se esforçam para que ela se sinta parte do grupo, e não uma forasteira. A sensação de conhecer esse novo grupo de amigos, ser aceita e construir uma nova história com eles é a mesma sensação que o jogador novato experimenta.
Então, dependendo do seu gosto, escolha sua experiência mas, posso afirmar com tranquilidade, que ambas serão recompensadoras!
Certo, agora que sabemos disso… sobre o que é a história afinal?
Como dito, os personagens se vêm nesse novo mundo, sem entender muito bem o que está havendo, e conhecem uma nova aliada. Mas contra o que eles lutam?
Neste primeiro momento, somos apresentados à um “Kingdom”, dominado por uma ditadora-noiva em um tanque de guerra com os dizeres “recém-casados”. A vilã, de nome Marie, possui o poder de dominar a mente não só dos habitantes deste mundo, mas também dos heróis. Sua primeira missão será não apenas entender que lugar é este, mas se unir a Erina e sua resistência para, juntos, libertar seus amigos e acabar com o regime opressivo de Marie!
A temática já característica de Persona se encontra também em P5T: um grupo de adolescentes lida com problemas que fazem paralelo à questões sociais importantes da sociedade, sobretudo, japonesa. A série é conhecida pelo modo inteligente de abordar estas questões, as vezes de maneira direta, as vezes como um subtexto, mas sempre de modo bastante crítico e contundente. P5T difere um pouco dos outros jogos apenas pela ambientação: o jogo é claramente mais “leve”, com a referência a desenhos infantis não sendo apenas na escolha estética, mas no tom geral.
Ainda no início do primeiro arco, o jogo introduz um novo personagem além de Erina. Vamos chama-lo pelo nome fictício de Bolinho, e o que é mais interessante sobre ele é que, diferente dos protagonistas, o mesmo não é um adolescente ou jovem adulto em idade escolar. Bolinho parece ter algo em volta do 30 anos, e com uma visão de mundo diferente dos protagonistas mas que, devido as circunstâncias, se vê obrigado a se aliar aos mesmos para fugir do “reino” onde se encontram. O embate entre as visões de mundo entre essas duas gerações se faz presentes nos diálogos dos quais faz parte, trazendo um aspecto já conhecido de Persona 5, mas com uma roupagem diferente e mais intimista aqui em P5T.
Mecânicas
A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa
A palavra “Tactica” não está no título à toa: o que de cara mais chama atenção neste novo jogo da franquia é o modo de combate que ficou popularmente conhecido como “tactics” ou “modo tático”. Para quem chegou de para-quedas, este modo de combate é popularmente conhecido pelas suas batalhas que ocorrem em um “grid”, como um tabuleiro de xadrez, onde o movimento dos personagens e sua posição no tabuleiro são um aspecto importante do combate. Jogos como Tactics Ogre, Final Fantasy Tactics, Disgaea, Fire Emblem e XCOM são alguns dos clássicos que popularizaram o gênero, que possui sua própria base de fãs dentro do nicho dos RPGs.
A primeira coisa que penso cada vez que um jogo tático é anunciado é em como é difícil balancear as mecânicas. Muitos jogos pecam pelo excesso, com mecânicas empilhadas umas em cima das outras, ou modos de dificuldade absurdos onde um erro pode ser fatal. Outros, simplesmente usam a “casca” dos jogos táticos, pegando emprestado apenas a movimentação dos personagens pelo grid, mas sem usar outras formas de interação que são clássicas do gênero, como terreno elevado, cobertura, flancos e retaguarda, efeitos de tereno, entre tantas outras.
E, no caso de P5T, temos de levar em conta que este é um spin-off de uma franquia já bem estabelecida, e com mecânicas icônicas, que não podiam ficar de fora desse jogo. Como misturar tudo isso, sem virar um Frankenstein? Eu não sei responder mas, pelo visto, a ATLUS sabe. Porque foi o que eles fizeram.
P5T não só implementa diversos aspectos dos clássicos como diferença de terreno, cobertura e ataque pela retaguarda, como traz aspectos únicos da franquia, como negar turno ao oponente através de estratégias de ataque, o uso de Personas e os famosos Triple Threats!
E, mais importante, o modo cadenciado como o jogo apresenta cada elemento, dando tempo para o jogador entender e implementar as novas estratégias, torna a experiência de batalha e party management muito agradável.
Não só isso, mas P5T acerta em algo que muitos jogos erram até hoje: como estimular corretamente o uso dos diversos sistemas em jogo.
Quantas vezes não somos apresentados a novas habilidades e mecênicas em jogos, somente para ignorá-las completamente, utilizando-as apenas nos tutoriais obrigatórios, pois o nosso “combo” default, que usamos desde o começo do jogo, é simplesmente mais eficiente? Por que eu vou quebrar a cabeça para evoluir essa skill tree mágica enorme, se socar tudo em força e comprar a arma com mais dano compensa mais? Por que vou me preocupar em utilizar magias que causam status, se posso matar os inimigos com duas bolas de fogo? Fazer uma side-quest por uma nova arma? Nem pensar! Em cinco minutos eu chego em uma nova cidade, e o vendedor da esquina vai vender equipamentos melhores do que aquela espada que acabei de me matar para pegar na barriga de um dragão.
Em P5T, todas as features do jogo são acompanhadas de pequenos incentivos para serem utilizadas. Os personagens possuem buffs passivos que, somados, fazem uma boa diferença em batalha. Personagens que não foram usados em uma batalha, recebem um “buff” se foram usados na próxima. O level-up é feito de forma coletiva, com os personagens “upando” juntos, não separados, removendo a punição para jogadores que rotacionam seus grupos. As armas, Personas, habilidades passivas e demais características dos personagens sempre lhe recompensam de alguma forma caso escolha usá-los. Existem combinações “ideais”, mas o segredo está no plural. Combinações, e não apenas um super-combo. E não usei o termo “pequenos incentivos” à toa. Todas estas coisas, sozinhas, dão pequenas vantagens em batalha que, somadas, fazem valer a pena a experimentação. Porém, se este não é seu estilo, se você é do tipo que gosta de usar apenas o mesmo grupo sempre, com as mesmas armas e estratégias, o jogo não irá puni-lo. Esse é um balanceamento difícil de atingir, onde você se sente estimulado para usar algo, sem se sentir necessariamente obrigado, e, por isso, eu tiro o chapéu para o balanceamento mecânico de P5T.
Voltando ao combate, P5T ainda é um turn-based, porém do estilo livre. O turno é do seu grupo, e você pode fazer as ações livremente com todos eles, em qualquer ordem, até esgotar todas. É possível andar com um personagem, parar com ele em determinado local, andar com um segundo, fazer uma ação de ataque, voltar para o primeiro e fazer uma ação, por exemplo. Além disso, uma implementação que eu acho sensacional é o fato de o personagem se mover livremente dentro da área de atuação dele. Você não precisa selecionar um quadrado, mandar o personagem se mover e se arrepender do movimento um segundo depois disso. Seu personagem pode se mover livremente, usando o analógico, por toda a área possível que sua movimentação permite, encerrando o movimento apenas no momento que uma ação é executada. Isso permite que você teste os ângulos de ataque possíveis e forme estratégias robustas, sem precisar ter a capacidade de um enxadrista de manter a posição de um tabuleiro na mente. E essa questão, dos movimentos e turnos livres é importante para a execução de duas das mecânicas mais legais do jogo.
A primeira delas, é o arroz com feijão do jogo: o “get them”. Algumas ações, como atingir um alvo fora de cobertura, lhe concedem o “get them”, que consiste em uma ação extra e um movimento extra no turno, e podem ser encadeadas diversas vezes. Essa é uma ação “setup”, um pré-requisito para a próxima.
Sempre que um personagem consegue um “Get them” e seu alvo não morreu, ele está pronto para um “Triple Threat”. Em P5T, os três personagens de seu grupo formam um “triângulo” entre eles, uma área onde, caso o inimigo que concedeu o “Get them” se encontra, o personagem que conseguiu o turno extra pode disparar um ataque com os 3 amigos, causando um dano massivo em todas as criaturas dentro da triangulação, e não apenas o primeiro alvo afetado. Essa mecânica cria uma série de jogadas interessantes, que abusam do sistema de movimentação do jogo, para cercar seus inimigos e conseguir abater o máximo deles em poucos ataques. E mais importante: executar oTriple Threat encerra apenas o turno do personagem que o executou. Os outros personagens do grupo, caso ainda não tenham feito suas ações, podem ainda fazê-las e, possivelmente, disparar outros ataques do mesmo tipo!
Isto é só um gostinho dos sistemas de batalha, que vão se tornando mais interessantes conforme o jogo progride e você aprende melhor a explorar elementos de cenário que interagem ainda mais com a batalha. Mas ok, os sistemas são legais mas… isso ainda é um RPG. Como posso customizar meus personagens?
A customização se divide em três aspectos principais. O primeiro são as armas, e cada personagem utiliza um estilo de arma, sendo algumas que acertam alvos em uma área, outras em um cone, outras, ainda, acertam apenas um oponente mas com capacidade de distância maior… cada personagem tem seus pontos fortes e fracos neste departamento, e as armas oferecem pequenas customizações dentro de um estilo “geral” desses personagens.
O segundo aspecto é a árvore de habilidades. Os personagens evoluem aqui seus Personas únicos, bem como habilidades passivas e outros benefícios únicos de cada um.
E o terceiro, claro, são os Personas. Em P5T, Joker perde a capacidade de equipar e trocar de Personas livremente nos combates. Entretanto, agora ele e todos seus amigos podem equipar um Persona “extra”, chamado de “Sub-Persona”, que se soma ao seu Persona principal. Este “Sub-Persona” funciona exatamente como as invocações de Persona 5, com as ferramentas de fusão e customização sendo herdadas quase que da mesma maneira.
Para os novatos na franquia, os “Personas” são manifestações físicas dos desejos e corações de seus usuários. Cada Persona concede um conjunto de atributos extra, bem como novas habilidades passivas ou ativas. Os personagens obtêm novos Personas ao longo da evolução do jogo, em batalha ou completando certo requisitos no jogo, além de ser possível “fundir” os mesmos para criar novas invocações que herdam parte das habilidades das que foram usadas nessa fusão.
Somadas, as armas, habilidades e sub-personas, oferecem um nível de customização confortável, simples o suficiente para funcionar com pouco esforço, e com um teto alto o suficiente para quem gosta de planejar grandes sinergias em seus grupos.
Jornada
E o que eu ganho com isso?
Já sabemos que P5T é um jogo tecnicamente muito bem executado, com uma boa história, mecânicas interessantes e uma apresentação cativante. E qual a experiência que resulta da soma de tudo?
P5T tem um “game flow” bastante simples, se dividindo basicamente entre fase de preparação e fase de combate. A fase de preparação se da, quase sempre, no café Le Blanc, o esconderijo dos Phanton Thieves. Aqui você pode fundir seus Personas, gastar seus pontos de habilidade, comprar armas e fazer as mais diversas “manutenções e customizações” nos seus personagens.
Aqui também é possível engajar em conversas entre os personagens, que são desbloqueadas aos poucos. As conversas adicionam pequenas curiosidades sobre os mesmos, e mostra um pouco da dinâmica deles. Elas não são obrigatórias, mas recompensam com alguns GP (os pontos usados para evoluir as skills) caso sejam assistidas.
Por último, no esconderijo é onde você pode planejar e executar as “Quests”, o modo como o jogo chama, essencialmente, as side-quests. Elas apresentam não só aspectos interessantes dos personagens, como também oferecem uma recompensa mais robusta, normalmente na forma de GP. As quests também incluem muitas vezes, mas não sempre, níveis de batalha com cara de “puzzles”, onde o objetivo não é exatamente matar os inimigos, mas escapar em uma quantidade reduzida de turnos, ou vencer sob condições diferentes. Os desafios, até aqui, foram na medida certa, interessantes e desafiadores, nada que fosse frustrante ou ridículo de fácil. A maioria das quests exige que sejam utilizados personagens específicos, focos da história que está sendo contada ali.
Se você lendo está prestando atenção, percebeu que todas as pequenas atividades em P5T, sejam conversas entre os personagens, evoluir toda a sua equipe ou explorar as fusões, são recompensadas de alguma forma pelo jogo. E aqui está o que, pra mim, tornou a jornada de P5T tão agradável até aqui: em nenhum momento eu senti que estava perdendo tempo fazendo algo. O jogo consegue, de maneira sutil e muito bem executada, recompensar a exploração e experimentação, sem parecer que você está perdendo o seu tempo, nem se sentir obrigado a engajar em nenhuma atividade que não tenha interesse por conta das recompensas, um equilíbrio difícil de atingir.
Conclusões
E finalmente alguns pontos fracos.
Persona 5 Tactica (sim, eu escrevi o nome completo de novo) entrou no meu radar voando baixo, me chamou atenção mais por eu ser apaixonado por jogos tactics do que por ser Persona, mas me conquistou pelo jogo bem construído, polido e divertido que entregou. Nada do que eu escrever aqui pode atestar mais sobre a qualidade do jogo do que o fato de eu não ver a hora de terminar essa review e voltar a jogar!!
Especialmente para novatos, P5T é uma porta de entrada interessante para a série. Se apresenta como um jogo mais simples, menos denso em sua proposta, e com um apelo grande ao público mais jovem. E mesmo para fãs antigos, é uma experiência nova bastante surpreendente!
Entretanto, como nem tudo são flores, jogadores veteranos sentirão falta de uma das características mais marcantes da série: o Social Link. Para os que não conhecem, Social Link era um sistema de afinidade, que o personagem principal desenvolvia com outros personagens através de atividades sociais como saídas para passeios, jantar, praticar esportes, e outras atividades dependendo do tipo de amizade que o NPC oferecia. Era não apenas uma expansão do lore do jogo, mas um sistema que fortalecia os Personas associados àquele determinado Link. Ao menos até o momento que joguei o jogo, esse sistema não está presente, e não me parece que estará, dado os menus desbloqueados até agora. Particularmente não foi um ponto que me afetou negativamente, mas é algo que merece ser mencionado.
Merece ser mencionado também o fato de que, para esse mesmo público, P5T parece ser uma experiência 100% “dentro de um Palace”. Em tese, na história, é quase isso que está ocorrendo. Mas, falando de “flow”, o jogo vai se passar no seu hideout e nos cenários de batalhas, apenas. Não existe uma exploração da cidade, como nos outros jogos, algo que sempre foi um ponto forte na série, que oferecia cenários extremamente fiéis às cidades japonesas nas quais se baseiam.
Por último, deixo um assunto que merece um tópico completo, mas que decidi não incluir nesta review: a música. A série Persona é conhecida pela trilha sonora incrível que apresenta em toda a sua série, uma mistura de Pop-rock e Jazz, sempre embalado por excelentes vocais, que acompanha o jogador em todos os momentos do jogo, desde cenas calmas no Le Blanc, até nas mais ferrenhas boss battles.
P5T segue a mesma linha, com o single Revolution in Your Heart abrindo o jogo e dando o tom desde o início. Porém, como todo o resto do jogo, a trilha sonora também parece ter passado por uma “simplificação” em sua essência, com temas mais monótonos e sem tanto charme como nos outros jogos da franquia. E, que fique claro, esta comparação é em relação à própria franquia Persona, e a espectativa que se gera nesse “departamento”. Isoladamente, a trilha sonora é agradável, e embala de maneira competente o jogo. Espero voltar no futuro, após terminar o jogo, e analisar melhor esse tópico, que ainda tem espaço para crescer, mas só o tempo dirá.
Por fim, eu recomendo muito Persona 5 Tactica tanto para fãs da franquia, como para fãs de RPGs táticos e JRPGs no geral. A experiência de jogo é fluída, divertida e descontraída, e o jogo cativa faiclmente fãs do gênero. O jogo sai para todas as plataformas, e está disponível day-one no XBox Game Pass, o que é um ótimo negócio para aqueles que ainda assim estão na dúvida se devem ou não dar uma chance ao jogo.
Agora, com licença, que finalmente voltarei a jogar!
Review maravilhosa, pontuando tudo que é importante e que um fã, tanto da série, ou do estilo de jogo(ou dos dois) iria se preocupar em saber. Nota 10 para a análise, agora para o jogo, volto para falar depois que jogar pois definitivamente fiquei interessado em ver o resultado da dona Atlus!