Em junho de 1996, no Japão, a Nintendo lançava o aguardado Nintendo 64, console lendário que provocou um grande salto tecnológico, e introduziu a Nintendo e seus jogos definitivamente no mundo do “3D”. O console vinha para pegar o bastão e continuar um legado enorme e nada fácil de ser carregado, pois era o sucessor do Super Nintendo.
O Super Nintendo, console principal da gigante japonesa desde 1990, encerraria em setembro daquele ano, mês que foi oficialmente descontinuado, um ciclo de sucesso absoluto no mundo inteiro. No brasil, o ciclo foi muito marcado pelas “locadoras”, que possuíam tanto consoles pagos por hora de uso, quanto cartuchos para serem alugados por alguns dias.
Nenhuma lista de clássicos que fosse perfilada aqui faria jus ao console. Porém, eu posso citar os meus favoritos pessoais, que me acompanharam durante toda minha infância, como Super Mario RPG, Biker Mice from Mars, Contra 3, Street Fighter, Jurassic Park, e tantos outros que cada um daria uma review a parte só com minhas memórias afetivas.
Como uma criança que cresceu com o Super Nintendo, eu ansiava o lançamento do Nintendo 64, que chegaria no final do ano (setembro de 1996) em solo nacional, mas que eu mesmo só fui ter muitos e muitos anos depois.
E no meio disso tudo, no mês de Março, a Nintendo fechava com chave de ouro os longos anos de vida do console de 16 bits.
Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars, coroava o fim dessa geração. O mascote bigodudo estreava pela primeira vez em um jogo de RPG, desenvolvido por nada menos que a já consagrada Square Enix (ainda Square Soft na época). O jogo extraía tudo o que o Super Nintendo poderia oferecer e, de certo modo, era quase um pé no que veríamos em breve na próxima geração.
Com gráficos do que podemos chamar de 2D e meio, uma jogabilidade fluída e uma gameplay extremamente bem feita, Super Mario RPG fechou com chave de ouro a geração. Eu me lembro claramente de jogar o jogo, e ficar espantado com como ele era diferente de tudo o que eu jogava no meu amado console. Foi uma experiência incrível e única, e nunca esquecida.
E que agora, quase 30 anos depois, por cortesia dos nossos amigos da Nuuvem que disponibilizaram a key do jogo, pôde ser revivida.
Apresentação
No mundo dos cogumelos, os banhistas são como pedestres, as lanchas são como carros, e o Yoshi são os… chocobos?
Como apresentar um jogo que dispensa apresentações? Estamos falando de um jogo que, em seu título, deixa claro ao que veio. Super Mario. RPG. Nintendo. Square Enix.
Liste estes 5 nomes e termos para qualquer gamer, que não existirão dúvidas do que esperar. Entretanto, existe algo novo aqui, pois estamos falando de um remake.
Super Mario RPG Remake se mantém completamente fiel ao jogo original. Todas as sensações de jogar pela primeira vez o jogo estão presentes aqui. A primeira vista, o jogo se parece muito com uma experiência “normal” de um Super Mario. Andar pelo mapa, pular obstáculos, salvar a princesa. A jogabilidade é simples e muito satisfatória.
Mas, rapidamente, os elementos de RPG se apresentam nas primeiras batalhas. O sistema de batalha em si será abordado em outro tópico mas aqui, no primeiro contato, a sensação é a de jogar um RPG clássico. Batalhas por turno, os comandos clássicos de atacar, defender, usar itens e “especiais”, ganhar experiências e itens no fim de cada combate.
E assim que o combate termina, você está novamente no “mundo de Super Mario”, pulando, explorando e revendo elementos familiares dos jogos da franquia.
E esse balanceamento entre os elementos de jogos de plataforma e de RPG foi atingido de forma simples: mantendo o básico de cada gênero. De certo modo, “básica” é uma palavra que define bem a apresentação do jogo. Os fundamentos da franquia Super Mario, como cenário, efeitos sonoros, personagens e jogabilidade dinâmica estão presentes em seu núcleo, assim como os fundamentos que se espera de qualquer jogo de RPG. Sem complicar, o jogo nos recebe com uma experiência que nos coloca rapidamente no fio condutor da proposta que está sendo apresentada.
E uma vez capturada sua atenção, ela é muito bem recompensada. Os gráficos atualizados do jogo respeitaram completamente o visual e “vibe” do jogo original, assim como a trilha sonora e efeitos em um geral. Cada novo detalhe visual incluído, respeita completamente a identidade do jogo original, ao ponto de que foi necessário que eu pesquisasse para ter certeza de que certas features e detalhes eram realmente novos, dado o modo como elas se encaixaram perfeitamente com o jogo.
Em resumo, Super Mario RPG apresenta algo simples e muito eficiente, guiando você de maneira suave por sua história.
História
Definitivamente um sapo.
Seria mais um dia comum, na vida do nosso herói. Toad gritando desesperado porque a princesa foi raptada. Uma rápida visita ao castelo do Bowser e uma trocação franca de socos depois, e estaríamos em casa com a princesa, e uma parada nos aguardando no reino cogumelo. Mario só não contava com uma espada gigantesca, caindo do céu bem em cima do castelo, enviando não só ele, mas Bowser e a princesa pelos ares.
Agora, com a ajuda de amigos inusitados como Mallow o (definitivamente) sapo, o boneco de madeira Geno, Bowser, que certamente está apenas interessado em recuperar seu castelo e até mesmo a própria princesa peach, Mario e seus amigos precisam lutar contra os capangas de Smith, um produtor de armas que despedaçou a Star Road em seu caminho para o reino cogumelo. Sem a Star Road, desejos nunca mais poderão ser realizados, e o mundo será tomado por armas malignas!
Assim como o resto do jogo, o plot de Super Mario RPG é simples e direto. Em nossa jornada, aprenderemos mais sobre o passado do “sapo” Mallow, descobriremos quem realmente é o misterioso Geno, criaremos laços interessantes com Bowser e, bem, de todos os personagens, infelizmente, Peach é a que recebe menos desenvolvimento. Colocando em contexto, em 1996, ver a princesa fugir do castelo para seguir ao seu lado na aventura foi algo divertido e, de certo modo, novo. Mas hoje em dia, é apenas uma lembrança de como era difícil o desenvolvimento de algumas personagens femininas à época.
Seja como for, o grupo agora tem a missão de recuperar os fragmentos de estrelas, derrotar Smith e reestabelecer a Star Road e garantir que desejos voltem à se tornar realidade. E para isso, o jogo nos convida a se aventurar por belos cenários, como um deserto labiríntico, cachoeiras e rios, uma rede de esgoto cheia de fantasmas e ratos e até mesmo um reino nas nuvens!
Sua jornada lhe guiará, de maneira natural e linear por todos estes cenários, cada um apresentando novos inimigos, aliados e desafios, de modo bastante divertido. A comédia é central aqui, e a história é leve e agradável.
Mecânicas
E se eu atacar o Mario nos meus inimigos?
O ponto alto de Super Mario RPG é, sem dúvidas, sua jogabilidade e mecânicas. Não existe nada de novo aqui, mesmo para a época do jogo original. O jogo combina os elementos mais básicos de RPG com um “tempero” de Super Mario. O grupo é composto por 3 personagens, com Mario sendo fixo sempre e o único personagem controlável fora de batalhas.
Os personagens em si são bem fechados em seu escopo, e não há muito customização. Mario é um personagem mais balanceado, Mallow um conjurador, Peach suporte e assim em diante. Existe uma sugestão de customização a cada level up, com alguns pontos podendo ser alocados em Ataque Físico e Defesa Física, HP ou Ataque e Defesa Mágicos. Entretanto, os números são quase negligenciáveis, e parecem servir mais a um propósito diferente, que será discutido mais adiante.
Além dos itens utilizáveis dentro e fora da batalha, é possível equipar 3 slots de equipamento nos personagens: Arma, Vestimenta e Acessório. Alguns poucos acessórios e vestimentas podem ser compartilhados entre os personagens, mas em sua maioria, os equipamentos são customizados para os personagens.
O “charme” de Super Mario RPG está em uma mecânica de batalha que mistura o RPG de turnos com uma espécie de “botão de ação”, algo que seria visto, inclusive, em Final Fantasy 8 alguns anos depois. O jogador é incentivado a apertar o botão de ação instantes antes de os ataques, magias e defesas ocorrerem, e assim, aumentar a eficiência dos mesmos. O interessante aqui é que cada magia, cada golpe do inimigo e cada arma equipada por seu personagem possuem momentos diferentes onde esse botão de ação deve ser apertado, tornando toda batalha uma espécie de “mini-game” a parte.
E nesta nova versão, uma novidade foi introduzida. A cada acerto no botão de ação, além de bônus em acertos consecutivos, uma barra de energia é preenchida. Quando a barra atinge 100%, o grupo pode utilizar um ataque especial, que varia dependendo dos 3 personagens presentes em campo! Cada ataque tem seus próprios efeitos e animações, mostrando os 3 personagens trabalhando juntos! As animações são divertidas, e ver o Mario chutando Bowser dentro do casco em direção aos inimigos enquanto a princesa peach potencializa o vilão com o poder de uma estrela é extremamente satisfatório!
A dificuldade nas batalhas foi, na minha opinião, no ponto. Durante minha gameplay, que levou cerca de 11 horas, eu pulei algumas batalhas em mapas que estava com mais pressa, lutei contra todos os monstros em outros locais, enfim, meu time estava, de certo modo, “balanceado” em questão de níveis. As lutas de chefes foram desafiadoras, mas não difíceis, e mesmo as batalhas mais simples e fáceis exigiram um certo grau de planejamento e administração de recursos. O jogo conta com um sistema de resistências e fraquezas nos inimigos, e variar os ataques para tirar o melhor de cada membro do grupo não só é incentivado como altamente recompensado.
Fora das batalhas, o cenário é basicamente um jogo de plataforma. Como era de se esperar, pular por obstáculos é o que mais se faz, mas não só isso. A cada salto, Mario é desafiado com puzzles, ou é apresentado a pedaços de histórias e personagens. A gameplay nesse aspecto é leve e divertida, lembrando que não, este não é apenas um RPG com a “skin” de Mario, este É um jogo do Super Mario.
Outro ponto interessante é o papel do som no jogo. O jogo é cheio de dicas auditivas, seja para os momentos em que deve-se apertar o botão de ação nos ataques, seja para decifrar alguns puzzles. Jogar com volume baixo ou sem volume se mostrou não apenas triste, já que toda a produção sonora do jogo é muito bem feita, como um desafio a mais, já que o áudio facilita muito na gameplay.
Conclusões
Um transbordo de nostalgia.
O termo “simples” foi usado de maneira repetitiva nesta review não sem motivo. Super Mario RPG é um jogo que foca nas bases do gênero, de maneira extremamente sólida e eficiente. Ao focar no básico, o jogo entrega uma experiência completa e divertida, gostosa de ser jogada e apreciada.
Para os fãs de longa data, jogar Super Mario RPG é não apenas uma jornada nostálgica, mas também uma aula de história dos jogos. É lembrar de tempos mais simples, e revisitar o começo de tudo, lembrar de cada detalhe fez com que as pessoas se apaixonassem pelo gênero RPG, e pelos personagens do reino do Cogumelo.
Mas, acima de tudo, Super Mario RPG é uma porta de entrada. É sem dúvida um dos melhores RPGs para que alguém que nunca teve contato com o gênero, especialmente quando estamos falando de jogadores mais novos, que são em boa parte o público do console da Nintendo, possa entrar nesse gênero tão vasto e de tanta criatividade que são os jogos de RPG. Todos os elementos essenciais estão aqui: a história, o grupo de heróis que trabalha em conjunto, colocando suas diferenças de lado, as batalhas estratégicas, o conceito de passar de nível e se tornar mais forte, a caça por tesouros e equipamentos e a customização dos personagens… todo o alicerce do gênero está não apenas presente, mas apresentado de forma bem polida, acessível e acima de tudo interessante.
E tudo isso não é à toa. Enquanto os créditos do jogo se desenrolaram ao melhor estilo Super Mario, com uma parada ao fundo, exibindo um desfile de personagens, aliados, inimigos e cenários, os jogadores mais atentos vão perceber que nomes hoje lendários da Nintendo e Square Enix trabalharam neste incrível jogo. Além do esperado Shigeru Miyamoto, o pai de Super Mario, somos agraciados com nomes como Nobuo Uematsu e Tetsuya Nomura, apenas para citar alguns. A impressão que fica é a de que o projeto de remake de Super Mario RPG foi uma viagem ao passado, onde desenvolvedores e jogadores tiveram a oportunidade de relembrar onde começamos e tudo que fez e faz com que nos apaixonamos por este gênero que teve seus altos e baixos ao longos dos anos, mas que sempre foi presente e sempre será no mundo dos jogos.