FFXIV | Contos sob a Lua Nova: Enquanto o Azul se Esvai

Tales under the New Moon: As Azure Fades

Contos sob a Lua Nova: Enquanto o Azul se Esvai

Estinien Varlineau estava descobrindo a potência dos destilados Hannish rapidamente.

Na época em que a caça aos dragões consumia todas as suas horas acordado, ele raramente bebia. De fato, poderia muito bem ter se abstido completamente se não fosse pela adulação de seu amigo persistente. Mas tendo deixado para trás o manto de Azure Dragoon e pegado a estrada no fim da Dragonsong War, ficou surpreso ao descobrir que ansiava por uma bebida de recompensa pelas noites. E nesta, encontrou algo à altura em uma nova variedade de destilados. Mais fogo do que água isso aqui… Só um alquimista para inventar essas coisas.

Acompanhando o seu primeiro gole, uma tira de lula seca. Fornecida por um pescador local, o saboroso pedaço era igual a qualquer outro que provara no Far East. Servindo para acalmar o palato, assim ousou esvaziar seu copo do resto da pinga* ardente, o calor se espalhando pelo corpo enquanto se reclinava em seu luxuoso quarto em Radz-at-Han.

Após os esforços de sua jornada até os confins da existência, a vida na cidade como convidado de honra do sátrapa convinha a Estinien muito bem. No entanto, apesar da ausência de uma ameaça iminente, continuou a treinar tão diligentemente como sempre. Escolhera a lança para se vingar de Nidhogg pelo assassinato de sua família e, mesmo já tendo feito isso, descobriu que um hábito formado ao longo de uma vida não era tão facilmente abandonado.

Assim, um antigo costume encontrou um novo, e depois de Estinien ter treinado até ficar satisfeito todos os dias, permitia-se a indulgência de um ou dois drinks. Porém dado o entusiasmo dos alquimistas Hannish, apenas um foi necessário nesta ocasião. Mal havia saboreado um segundo pedaço de lula seca quando a exaustão e a bebida o envolveram como uma maré, gentil mas insistente, levando-o para a terra do sono.


Para além do véu da consciência, nas profundezas do sonho, lutava contra um dragão.

A fera rugiu e ele sentiu seu rancor desenfreado tão claramente quanto as agitações de seu próprio coração, graças ao Olho, a fonte do poder do Azure Dragoon. Saltou alto para evitar a mandíbula de seu oponente, girando no ar enquanto canalizava o poder do orbe terrível todo para sua lança. Então, como um meteoro flamejante caindo através do paraíso, mergulhou de volta à terra.

A lança encontrou seu alvo, perfurando a costura de escamas ao longo do pescoço do dragão e afundando profundamente na carne, onde liberou sua energia em uma explosão de fogo que quebrou o osso com um estalo indicador. Fique quieto.

A grande fera uivou em agonia, debatendo-se desesperadamente para derrubá-lo, mas não conseguiu sustentar o esforço por muito tempo. Com uma estremecida final, desabou e não se moveu mais.
Outra vitória, pensou, embora não sentisse nem alegria nem alívio. Agora vamos contabilizar o custo…

Assim que colocou os pés no chão, uma dor lancinante atingiu seu peito, deixando-o de joelhos. Pior do que o esperado… Embora o Olho lhe emprestasse força, ao abrigar a malícia imortal de Nidhogg, ele também estava corrompendo lentamente seu ser. Em pouco tempo, isso finalmente o consumiria, deixando apenas um recipiente para a vontade sombria da besta—uma verdade não ensinada que conhecia em seu âmago.

“Silêncio, ancião.”

Embora saísse um pouco mais que um sussurro, sua voz desafiadora serviu para estancar a dor. Mas as palavras não conseguiram deter a crescente influência do Olho. Os ataques tornaram-se mais frequentes a cada dia e mais intensos. A hora se aproxima

Ele caiu contra o corpo de seu inimigo caído e fechou os olhos. Só um breve descanso…


Acordou no chão de um quarto desconhecido. Peles de animais colocadas sob ele faziam cócegas em sua bochecha. Esforçando-se para se apoiar nos cotovelos, piscou até conseguir focar nos arredores. Bancos surrados amontoavam-se em torno de mesas robustas e um balcão ocupava toda a extensão de uma parede. O cheiro persistente de carne carbonizada e vinho quente completava a história—esta era uma taverna.

“Pai!” A voz de uma donzela soou. “Ele acordou!”

A chamada foi atendida por passos fortes, e um homem musculoso, de meia idade, irrompeu na sala.

“Halone seja louvada”, disse, com alívio evidente em sua voz. “Como você se sente, Lorde Haldrath?”

A mente de Estinien vacilou por um momento. Oh. Este era um sonho do passado, e estava vivenciando acontecimentos como Haldrath, um dos fundadores de Ishgard. Junto com seu pai, o Rei Thordan, matou a grande anciã Ratatoskr e mais tarde arrancou os olhos de seu irmão Nidhogg, cujo poder ele aproveitou para se tornar o primeiro Azure Dragoon. À medida que essas lembranças surgiam, descobriu que conseguia se lembrar do homem olhando para ele com tanta preocupação.

“Sir Aureniquart…?”

“Não sou um sir, meu senhor. Faz um bom tempo que não o sou”, respondeu Aureniquart com um sorriso. “Agora sou apenas o dono de uma taverna, como você pode ver.”

Vinte longos anos atrás, Haldrath jurou viver seus dias no exílio como um caçador solitário de dragões. No entanto, durante uma parada para reabastecer suprimentos em assentamentos próximos, soube da aposentadoria de Sir Aureniquart de Cordillelot do serviço e da subsequente compra do estabelecimento onde agora se encontrava. A notícia de que um deles havia escolhido uma vida tranquila foi um choque, mas ao ver seu antigo camarada em sua nova casa, não pôde deixar de se sentir seguro.

“E eu também não sou um senhor, meu amigo—seja seu ou de qualquer outra pessoa. Mas diga-me—como vim parar aqui?”

“Berteline, minha filha”, respondeu Aureniquart, apontando para a donzela de cabelos escuros ao lado dele. “Ela encontrou você deitado ao lado de um dragão morto.”

“Papai me conta histórias de seus feitos desde que eu era pequena”, disse Berteline, suas palavras saindo com uma excitação mal disfarçada. “Você é uma inspiração para mim, meu senhor. Assim como você, desejo proteger nosso povo da ameaça Dravaniana.”

“Ela está decidida a se juntar aos Temple Knight”, Aureniquart interrompeu com um grunhido, “e nada do que dissermos ou fizermos irá dissuadi-la. Na verdade, ela estava treinando com sua lança quando tropeçou em você.”

Ao olhar para Berteline, Haldrath sentiu uma pontada de tristeza, pois nos olhos determinados dela viu o fogo que uma vez ardeu nos seus. Há muito tempo extinto…

“Meu primeiro pensamento foi procurar a ajuda dos Temple Knights”, continuou Berteline, “mas você falou o nome do meu pai enquanto dormia, então eu trouxe você aqui.”

“Bem, agora”, Haldrath sorriu, “que sorte ser encontrado pela filha de um velho amigo, e não pela amiga de meu inimigo caído.”

Berteline não retribuiu o sorriso.

“Na verdade, meu senhor… foi mais que boa sorte. Uma voz me levou até você.”

“Uma voz? De quem?”

“Eu… eu não sei”, ela admitiu, franzindo a testa no ato de se lembrar. “Mas eu os ouvi em minha mente e pareciam ventos tempestuosos.”

Mais do que boa sorte, de fato. Haldrath olhou para os céus, agradecendo à deusa Halone por conceder este encontro. Finalmente, encontrou aquela a quem poderia confiar tudo.

“O que você ouviu”, começou Haldrath, “foi a vontade de Nidhogg.”

Assim falando, colocou a mão sobre seu peitoral de prata, onde um objeto grotesco havia se fundido: um dos olhos do grande ancião, pulsando com uma luz sinistra.

“Seus olhos chamam aqueles que buscam o poder. Para corromper e conquistar suas mentes, para que possa ser livre mais uma vez.”

“Então…talvez devêssemos levá-lo aos Temple Knights, afinal!” — exclamou Berteline, dando um passo à frente. “Os cirurgiões podem ajudá-lo─”

Haldrath a deteve com a mão levantada. “Não adianta, criança”, disse gentilmente. “Já está unido ao meu corpo, com armadura e tudo. Quando Nidhogg não conseguiu reivindicar minha mente, ele voltou sua atenção para minha carne, e ele não será negado. Em breve, serei seu fantoche.”

A revelação deixou pai e filha em silêncio. Haldrath permitiu-lhes um momento antes de se virar para olhar seu velho amigo diretamente nos olhos.

“Antes que eu deixe de ser eu mesmo, quero que você acabe com isso.”

A raiva brilhou no rosto de Aureniquart. “Você perdeu o juízo se acha que vou te matar!” ele cuspiu. “Maldito seja até por pedir!”

O antigo cavaleiro costumava trair suas raízes humildes em momentos de paixão, e Haldrath não pôde deixar de sorrir ao ver que os anos pouco fizeram para mudá-lo.

“Não é pouca coisa que peço a você, eu sei”, continuou . “Mas se eu me tornasse escravo de Nidhogg, eu entregaria este prêmio a ele. E não preciso dizer o que aconteceria se isso acontecesse.”

Embora o grande ancião não estivesse com toda a sua força, ele e sua horda permaneceram uma terrível ameaça para Ishgard. Assim o novo governante da nação, o arcebispo, estabeleceu os Temple Knights para liderar a luta contra os dragões. Apoiada pelas casas nobres, a ordem conseguiu sustentar as muralhas até agora, mas por pouco. Se Nidhogg recuperasse seus olhos, causaria uma devastação incalculável ao Holy See.

“Maldição… eu fiz um juramento, Haldrath. A você e somente a você.”

“Isso você fez. E então fizemos nossa escolha juntos, quando descobrimos o que se passava na mente de Nidhogg—que ele acreditava que a humanidade era fraca e indigna. Para preservar nossa soberania, cometemos o grave pecado da traição. Escolhemos um caminho de sangue, por nós mesmos e nossos filhos, e agora não podemos voltar atrás. Embora você tenha deposto a espada, sua filha empunhou a lança.

Para isso, Aureniquart não pôde responder, e então ficou ali, com a mandíbula cerrada, olhando para o chão.

Haldrath voltou seu olhar para Berteline. “Para você que caçaria dragões—que respondeu ao chamado de Nidhogg—eu confio estes olhos. Como guardião de seu poder, eu te encarrego da proteção de nosso povo.”

Os olhos de Berteline se arregalaram, seus lábios se abriram como se fosse falar, mas Haldrath continuou. O tempo estava se esgotando.

“Enquanto a justiça arder em seu coração, Nidhogg nunca reivindicará sua mente—mas sua carne eventualmente sucumbirá. Antes que isso aconteça, você deve encontrar outro para assumir o fardo e continuar a luta em seu lugar. nosso inimigo é quase imortal. Esta guerra continuará muito depois de termos voltado ao pó…”

Conseguiu dizer isso antes que a dor o dominasse mais uma vez, dobrando-o. Em algum lugar além de seu grito abafado, ouviu os gritos do pai e filha, desesperados para ajudar, mas sem meios para fazê-lo—exceto por um.

“Vá em frente, Aureniquart”, Haldrath disse com voz rouca. “Se o seu juramento para mim foi de verdade, peço que você termine tudo isso agora!”

Através da névoa da agonia, Haldrath viu seu velho amigo empunhar sua fiel lança com mãos trêmulas. A ponta mortal pousou na costura de seu peitoral.

Mas lá ficou, e quando contemplou seu velho camarada, com o tormento estampado em seu rosto, ficou impressionado com a verdadeira enormidade de seu pedido. Ele estendeu a mão da camaradagem a Aureniquart, elevando-o de rufião a cavaleiro, e Aureniquart nunca esqueceu a dívida. Ele recompensou a fé de Haldrath com lealdade absoluta e não poderia causar mal a ele mais do que faria com aqueles do seu próprio sangue.

Amaldiçoando a si mesmo, Haldrath procurou palavras para obrigar seu amigo a fazer aquilo que seu coração proibia quando a voz de Berteline soou.

“Deixe-me ajudar, pai.” E sem esperar por uma resposta, ela envolveu a haste da lança com as mãos, logo abaixo das de seu pai. “O fardo deste pecado, eu carregarei com você.”

A dupla compartilhou um olhar solene e Aureniquart assentiu com um olhar que era em partes iguais de tristeza e orgulho. Haldrath conseguiu sorrir, apesar da dor.

“Obrigado, meu amigo, minha sucessora—e adeus. Que o derramamento de sangue chegue ao fim um dia, e nossa progênie conheça a paz mais uma vez…”

Com isso, a poderosa lança que matou incontáveis dragões mergulhou em seu peito, empalando seu coração e pondo fim ao sonho.


Estinien acordou com um pulo. Uma película de suor se formou em sua testa e, enquanto a enxugava, seus olhos vagaram para a temível alabarda apoiada no canto de seu quarto—uma arma que levava o nome de seu inimigo.

De todas as coisas para me mostrar…

Certa vez, ele estivera em posse dos dois olhos de Nidhogg e foi possuído pelo espírito vingativo do ancião por tal feito. Poderia ter sido o gêmeo do Olho, outrora incrustado no cadáver eterno de Haldrath, que deu origem à visão?

Estinien balançou a cabeça. Por que perder tempo imaginando quando os poucos que poderiam saber já estariam mortos há muito tempo?

Além disso, já acabou. Levantando-se, foi até a janela e a abriu para deixar entrar a brisa. Demorou mil anos, mas temos paz novamente. Descanse bem, Haldrath.

Lá fora, sob o véu da noite, Radz-at-Han brilhava resplandecente para ele em todas as suas muitas cores.



*A sensação descrita se assemelhou muito com experiências passadas envolvendo aguardente.

*O título traz a palavra Azure com letra capital, assim como o restante das palavras, significando tanto a cor quanto o título expresso pelo texto.

Fonte: Tales under the New Moon: As Azure Fades

Traduzido por Arius Serph @ Behemoth
Revisado por Yu Kisaragi @ Behemoth

Author: Aro
Idealista que se empolga com música, comida, pescaria, trocadilho, boas histórias, filosofia, animais, café, pessoas animadas e... na verdade, eu me empolgo fácil mesmo.

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