The Caligula Effect 2 | REview

Saudações de chegada! Se tivesse a chance REviver um trecho de sua vida, você aproveitaria? E se isso lhe deixasse preso nesse tempo para sempre? Venha embarcar nos confins da psique humana no título da review de hoje.

The Caligula Effect 2 é o jogo que explora os arrependimentos que habitam a mente do ser humano unindo elementos táticos no combate com um amplo número de quests secundárias. Infelizmente não legendado em português, apresenta tópicos de vanguarda no aspecto social aliados a uma temática altamente musical.

Válido dizer que lançado para PC (Steam), Switch e PS4, Outubro marca o seu debut no PS5.

Por fim, agradecer a NISA por mais uma vez nos conceder a chave para review, muito obrigado, NISA!

(Mas não estou perdido, só estava tentando fazer feijão)

História

Em entrevista à Playstation, Takuya Yamanaka (diretor) explica o sentido do título dado à trama: Efeito Calígula se relaciona com o fenômeno do prazer associado ao ato de fazer algo errado, proibido ou moralmente arriscado.

Aproveitando sua formação em Psicologia, a história traz conceitos relacionados aos traumas e arrependimentos da experiência individual dentro do coletivo e até mesmo assuntos mais atuais como identificação não-binária/agênera sendo abordados de maneira orgânica ao contexto, o que de fato foi uma boa surpresa considerando a origem japonesa do jogo e como a sociedade é vista sob um prisma mais conservador.

Seguindo a premissa de seu antecessor, tudo se desenrola em “Redo”, um mundo virtual ao qual a Idol Regret promete um espaço livre de pesares e preocupações, onde cada um pode encontrar a felicidade, após ter passado por um sentimento de arrependimento acerca da própria vida. Em outras palavras, só é convidado a se juntar a este plano quem reconhecidamente possui uma tribulação com o seu Eu real.

Após a chegada não anunciada de ‘χ’ (em grego, Ki), uma idol virtual do mesmo código de “μ” (idol do jogo anterior), em Redo, o protagonista percebe o que de  fato está acontecendo e juntos decidem retornar ao mundo real. Pouco a pouco, outras pessoas que vislumbram fragmentos da realidade se juntam à jornada,  formando o “Go-Home Club”.

À medida que se progride na trama, mais e mais podemos perceber o desenvolvimento daqueles que nos acompanham, assim como daqueles que nos opõem, explicitando por vezes não a luta do bem contra o mal, mas sim dos medos com a coragem dentro da incerteza do que é ser um humano.

Afinal, em um mundo de mentira, o quão uma felicidade pode ser de verdade?

("Meu arrependimento... é algo que NUNCA conseguirei de novo, NADA que eu faça vai adiantar")

Gameplay

Semelhante a títulos como Persona 4, o protagonista tem acesso a um número de mapas em que pode se movimentar e são habitados por NPCs os quais carregam ou fazem parte de uma linha de quests. Cada interação de sucesso aumenta o grau de proximidade, desbloqueando novas quests ou a possibilidade de ganhar presentes.

Pode parecer comum escrito desta maneira, mas a quantidade de quests e o detalhe dado à personalização da essência de cada um destes NPCs é surpreendente. Tendo a sua história, seu trauma ou medo relacionados com a sua personalidade em Redo.

Ainda relacionado ao tópico, além das habilidades de combate que os membros ganham ao passar de nível, o jogo oferece diversos “Stigmas” (outro termo técnico para a percepção negativa associada a um comportamento) os quais conferem bônus de atributos e habilidades passivas “sociais” que são necessárias para cumprir uma quest, por exemplo, estar equipado com o Stigma relacionado a “Fandom Etiquette” para resolver a situação de um grupo de fãs sem noção.

Nos momentos em que se dá seguimento à história principal, a ação ocorre pela exploração de masmorras (dungeons) ligadas ao tema do boss. Caso o jogador toque nos mobs espalhados pelo caminho, são levados ao modo combate. É possível começar com vantagem ao engajar pelas costas.

Inclusive, esta é a nossa próxima seção, um dos pontos fortes para amantes do gênero tático.

Combate

O aspecto estratégico se encontra muito presente nas lutas de Caligula Effect 2 no mesmo passo que apresenta dinamismo, através das ações de movimento e uma feature chamada “Imaginary Chain”, mostrando a execução futura das ações de aliados e inimigos antes da confirmação, a fim de maximizar o ataque ou mitigação de danos. O vídeo seguinte traz um momento da gameplay onde os inimigos são alinhados de maneira a levarem um mesmo golpe no momento exato em que outra unidade com muito mais defesa toma o dano no lugar do protagonista. Ataque E defesa maximizados.

A equipe pode ser composta por até quatro personagens dentre as opções de um leque maior, cada um tendo seu estilo de luta e armas, disponibilizando ao jogador diversas combinações para o combate. Tomando controle total de cada unidade ou deixando para a IA controlar conforme o aspecto definido (priorizar ataque/defesa/estilo único), não tive muitas dificuldades no modo Normal, mas sei que o Hard/Very Hard exigiria muito mais cuidado.

Outros componentes dignos de nota incluem:

  • Risk Break: funciona como um medidor de stagger, causando mais dano e interrompendo ataques ao ser preenchida.

  • Aerial Combo: as lutas não são limitadas ao chão, tendo muitas habilidades que provocam vôo aos mobs e outras potencializam ao serem utilizadas em inimigos neste estado, cabendo ao jogador planejar e sincronizar ataques que possam tirar vantagem disso.

  • X-Jack: espécie de “overdrive” que garante efeitos benéficos à equipe de acordo com a música escolhida como mais ataque, defesa, redução de tempo de espera, entre outros. A função que auxilia a sair dos momentos difíceis e retomar o rumo do embate.

Isso além dos ataques especiais disponíveis ao ter a barra de Stress cheia, funcionando semelhante a um Limit Break, um golpe mais forte e único de cada personagem.

Um detalhe muito interessante é a barra de ação dos personagens divididas em quatro seções, como um compasso musical 4/4 (quatro batidas para cada compasso, ou turno, no caso do jogo), além dos golpes pontuados (staccato), os que perduram por mais tempo se apresentam como uma faixa contínua (legato).

Música

A outra grande estrela do título. A música é especial na jornada do Go-Home Club não por elaborada tecnicamente ou possuir um grande número de composições, mas sim pela forma em que é utilizada não como um acessório, figurando como fator principal no conto por sua função e representação.

Cada antagonista possui uma personalidade que se transmite na composição relacionada a sua dungeon, a versão instrumental enquanto se explora e cantada durante os embates. Pode-se perceber pelos vídeos anteriores ideogramas japoneses na delimitação da área, não é? Aquela é a letra que estamos  ouvindo, criando uma atmosfera semelhante a um clipe.

Abordando os temas que os afligem, cada música conta uma história, tomando por exemplo uma que tem como tema a tanatofobia (medo extremo da morte) possuir como versos “segurando a respiração para que a vida permaneça deste modo” ou “não quero desaparecer, por favor não desapareça”. O padrão se repete para outros antagonistas e para quem for privilegiado de conseguir entender japonês, como este que vos escreve, cada embate vira um prato cheio.

Além disso, a virtuadoll que nos acompanha, X, consegue aprender essas composições em forma de cover, utilizando sua própria versão durante os X-Jack’s se assim o jogador selecionar.

Tudo em Redo se liga a alguma canção, e isso é simplesmente maravilhoso.

Performance e aspectos visuais

Em primeira instância, o título não apresentou empecilhos técnicos durante a gameplay no PS4, mas o que pode ter chamado atenção nas imagens anteriores é o visual, tanto no modelo dos personagens como sua animação.

Certos movimentos como o andar/correr e interações com o mapa podem causar estranheza no momento inicial, mas a medida que o jogo se desenvolve, apresentando sua trama e músicas, há a possibilidade do jogador ser tomado pela essência do jogo e não aparência.

(Lembre-se:)
(TODOS os habitantes de Redo tem algum problema.)

Considerações finais

A mente humana não é tema novo no mundo dos jogos, mas presenciar a junção do assunto com o bom uso de músicas enquanto apresenta o combate de natureza tática foi uma agradável surpresa.

Sendo uma verdadeira coletânea de traumas e arrependimentos, não é de se deixar levar pelo visual mais simples, pois encara de frente o mundo virtual que trata das mazelas do real em suas variadas reviravoltas.

Se é fã deste prisma musical e de colocar a cabeça para funcionar (depois de ter colocado a mão na consciência), The Caligula Effect 2 é uma ótima pedida.

Por fim, você possui algum arrependimento na vida? Teria Regret uma resposta ao seu dilema? Não se sabe, só a próxima sessão dirá, mas até lá, さらばだ!

Author: Aro
Idealista que se empolga com música, comida, pescaria, trocadilho, boas histórias, filosofia, animais, café, pessoas animadas e... na verdade, eu me empolgo fácil mesmo.

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