Octopath Traveler 2: Moldando personagens com notas musicais

Saudações de chegada! Com o lançamento da review do Octopath Traveler 2 recentemente, um sentimento ficou em mim não só sobre a variedade, mas principalmente identidade das músicas tema de batalha de cada personagem, de que maneira se diferenciam e apresentam musicalmente os viajantes. Assim, nasceu a ideia de compartilhar estes pensamentos pela perspectiva de uma pessoa muita empolgada por composições musicais.

Abordarei de maneira sucinta, até porque os temas em seu núcleo são curtos, a relação da busca de cada um sem apresentar maiores spoilers sobre sua história, baseando-se no que é exposto em trailers e no primeiro capítulo.

Uma recomendação muito forte é que acompanhe as descrições ouvindo a música de fone para poder perceber melhor certas nuances instrumentais que eu mesmo não percebi ainda (e que quando falo de “notas altas” me refiro tanto ao fato das presença de notas agudas como do lado direito do piano por exemplo, como estarem altas/presentes na melodia em si!)

Ochette, a Caçadora.

In Pursuit of Legends

O tema da Ochette começa com a combinação de percussão, guitarra e violoncelo que trazem uma energia grave, mas com ritmo acelerado, como se estivesse correndo por uma floresta densa caçando algo ao lado de Akalā, o Lājackal.

Até o momento em que coro, violino, trompas e principalmente flauta aparecem incrivelmente altos em nota e som, contrastando com o inicio, dando uma ideia aberta, elevada, e mostrando que agora estamos também acompanhando a caça pela perspectiva aérea de Mahina, a Malamaowl. As trompas francesas carregam a noção de heroísmo ou grandes feitos, pomposas. É assim que soam.

Essas duas ideias se juntam, com o agudo acima e o grave abaixo, os dois companheiros de Ochette, e a saída da flauta com o continuar do restante dos instrumentos mais calmamente preparam o terreno pro Critical Clash que vem logo em seguida.

In Pursuit of Memories

Desta vez o tema começa em uma mistura determinada de urgência com notas mais alongadas, perceptível nos acordes da guitarra e pontuados com o badalar de um sino. Esses badalares representariam que é hora de acordar? Não sei dizer, apenas que esses sinos costumam anunciar a hora ou chegada de algo.

O aparecimento das trompas abre uma nova seção mais “animada”, uma preparação mental para o embate que está por vir, talvez a reafirmação de uma certeza ou a lembrança de uma memória esquecida, porque logo em seguida voltamos a seção inicial. Esse vai e vem entre as duas seções poderia ser as idas e vindas no passado.

O ritmo aumenta e tudo se ergue em preparação ao Critical Clash que vem logo em seguida.

Castti Florenz, a Apotecária
Thorné Anguis, a Ladra

In Pursuit of Freedom

Nossa Ladra tem o seu tema iniciando com proeminentemente dois instrumentos, uma guitarra de base em ritmo constante e o que me aparenta ser um violoncelo com notas mais longas. Desta soma nós temos algo mais rebelde interno, por não estar tão aparente quanto o violoncelo, e algo mais melancólico externo no outro instrumento do par.

Apesar de ter dito que trompas/trombetas normalmente estão associadas a grandes feitos ou heroísmo, não consigo enxergar esse sentimento quando elas chegam na próxima seção. Pelo contrário, é como se anunciassem uma tragédia iminente. Se quiserem, escutem apenas 20 segundos desta marcha fúnebre.

Logo após, este passa a ser o trio mais presente, talvez o embate da determinação perante a tragédia. E assim seguimos nessa troca até chegar ao Critical Clash.

In Pursuit of Revenge

Osvald é o mais alto dentre os viajantes e é dito possuir um semblante similar a de um urso, características físicas importantes ao escutarmos o seu tema, pois as batidas são fortes e lentas, tudo apresenta um aspecto mais pesado no tom predominantemente grave dos instrumentos da primeira seção, até mesmo o sino que toca junto com a percussão.

Uma outra forma de interpretar esse peso está no fato de que ele foi preso e ainda se encontra preso pelas amarras da vingança, o sentimento que puxa para baixo os seus passos, mas a força das batidas mostra a vontade e certeza de seguir em frente.

E mais uma vez um violoncelo aparece, mas não traz um tom mais animado, apenas um sentimento de fossa mais charmoso na minha opinião, como tomar um copo de whisky na frente de uma lareira numa noite de inverno, específico né?

Osvald V. Vanstein, o Erudito
Partitio Yellowil, o Mercador

In Pursuit of Hapiness

O inicio do tema do nosso mercador soa para mim como a manifestação do sentimento de “comeback” do protagonista shonen, como se a câmera focasse no rosto do herói caído e um sorriso aparecesse no momento em que a guitarra começa a tocar.

A guitarra com efeito e as trompas subindo cada vez mais alto ao fundo reforçam esta última imagem até chegar na próxima seção em que mais instrumentos ganham espaço mas reduzem em som em preparação a mais uma subida.

É um tema que acho simples, mas que demonstra exatamente a personalidade do mercador, simples, porém determinado.

In Pursuit of Hope

O violino que ouviríamos em músicas folk não apenas abre a composição, mas vai ficando cada vez mais forte a medida que a melodia cresce, fazendo jus ao “em busca de esperança”. Ele dá aquela força de seguir ao mesmo tempo que convida a agir.

Na ação da seção seguinte consigo visualizar uma dança que canta “Não importa a situação, vai dar tudo certo, já está dando.” com todas as cordas vocais possíveis pela força e altura em que os instrumentos vêm. Fica difícil acreditar no contrário com tanta convicção nestas notas.

Nota à pandeirola muito feliz de estar ali no meio nesta segunda seção, junto ao violino eles são o par da alegria nesta parte antes do Critical Clash.

Agnea Bristani, a Dançarina
Temenos Mistral, o Clérigo

In Pursuit of Truth

Esse talvez seja o tema que julgo ser o mais complexo pela quantidade de informação que aparenta ser relevante na construção do mensagem. A começar pelo fato de que outros temas tem duas seções proeminentes que revezam entre si até o momento da música de batalha chegar, porém esta não, esta tem algo semelhante a uma ponte servindo de transição, diferente das demais.

O que mais me chama a atenção é este som entre um piano e um órgão, algo com um tom de mistério, sorrateiro, traiçoeiro e até mesmo sarcástico. Não que Temenos carregue todas estas características, e sim o meio em que está envolto. O efeito no órgão talvez seja para representar a natureza sacra do trabalho de clérigo, mas retorcido pelo sua função de Inquisidor, fazendo duvidar de tudo e de todos.

In Pursuit of Kingship

Chegar em Ku sempre é uma alegria e aqui não poderia ser diferente. A música de Hikari já me ajudou e muito a cumprir diversas tarefas pela forma que é estruturada.

Divergindo das demais, o tema já começa expondo tudo de uma vez no primeiro momento, como um ataque súbito e potente de um exército. A flauta acima e o ritmo frenético da percussão abaixo me trazem uma visão pelos olhos da Águia de Ku acompanhando a investida dos céus, lá de cima ela enxerga a força de Hikari.

A diferença para o tema da Ochette em que falei coisa semelhante é o preenchimento do espaço entre a flauta e a percussão, pois neste tema se encontra muito mais preenchido, passando uma energia de maior quantidade de elementos presentes.

Hikari Ku, o Guerreiro

Considerações finais

A carta do diretor que vem junto da edição de colecionador deseja que encontremos algo que nos proporcione cair de cabeça no mundo de Solistia, sejam os gráficos, os personagens ou a música. Definitivamente foi a junção de tudo embalado por este último fator que me fez ficar escutando todas essas soundtracks de novo e de novo.

Não tenho nenhum estudo formal em música, entretanto, graças ao trabalho bem feito, não só pude ouvir diversas vezes sem cansar como utilizar de ferramenta de apoio para os momentos em que necessitava de força para ir além.

Nunca matei tanta gente nas Frontlines (FFXIV) por tanto tempo seguido antes do tema do Hikari. Assim como ensaios e análises saiam mesmo cansado ou com preguiça graças ao comeback do Partitio sacudindo a poeira e a esperança da Agnea impulsionando à frente. Essa é a força aventureira no trabalho do Yasunori Nishiki.

Para quem estiver interessado nas palavras do próprio autor, ele tem compartilhado detalhes de composição e intenção de alguns dos seus trabalhos em seu Twitter pessoal, confiram lá para insights melhores que a de um plebeu empolgado.

Até a nossa próxima jornada, さらばだ!

PS: Apesar de ter relacionado o tema do Partitio ao de um protagonista shonen, na minha visão ele não teria o mesmo papel no jogo, recaindo ao papel do melhor suporte possível aos sonhos de todo mundo da equipe (tirando o Osvald por motivos de natureza do ‘sonho’).

Author: Aro
Idealista que se empolga com música, comida, pescaria, trocadilho, boas histórias, filosofia, animais, café, pessoas animadas e... na verdade, eu me empolgo fácil mesmo.

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